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      Argentina deu passo na direção certa

      A YPF-Repsol se tornou, por decisão própria, um obstáculo ao desenvolvimento do país de Cristina Kirchner

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      Nos anos 1990 nos foi dito que a globalização foi o retrocesso do Estado frente ao mercado, o desaparecimento das fronteiras nacionais e a internacionalização benéfica das empresas. Era uma mentira. A globalização foi o avanço das multinacionais produtivas e financeiras do centro sobre os mercados periféricos, o enfraquecimento dos Estados (periféricos) versus corporações (principalmente estrangeiras) e a integração passiva a uma economia mundial comandada pelos países centrais. Assim, o pouco dinâmico capitalismo espanhol encontrou uma oportunidade de estender suas empresas pouco eficientes para fora de seus domínios, às custas dos países latino-americanos devastadas pelo neoliberalismo.

      Teoricamente, pode haver pontos de convergência entre os negócios das multinacionais e das necessidades nacionais de um país periférico. Para isso se exigem duas condições: que a especialidade das multinacionais não seja a depredação das economias "hóspedes" e que os países receptores saibam muito bem quais são seus objetivos e sejam capazes de estabelecer as condições que lhe são favoráveis.

      Nos casos da Aerolíneas Argentinas e da Repsol, não existia nenhuma das condições apontadas.

      A YPF-Repsol se tornou, por decisão própria, um obstáculo ao desenvolvimento nacional. A atitude extrativista, sem investimento e com remissão absoluta de lucros ao exterior, deixou de ter relação com o que o país necessita em termos de progresso.

      Se a Argentina não reagisse, se confirmava a maldição da globalização: os estados periféricos valem menos do que as multinacionais, e a única coisa que existe são os interesses do centro.

      A decisão adotada nesta segunda-feira (16/04) implica um enorme desafio em dois planos. Externamente, a construção de uma relação soberana e inteligente com o capital multinacional não pode nunca ser baseada na renúncia a uma perspectiva nacional nas negociações. Essa relação sempre foi conflituosa em nossa história, dadas as fragilidades do Estado nacional e a falta de orientação estratégica de muitos governos.

      Interiormente, o desafio é voltar a demonstrar a possibilidade de um Estado eficiente, capaz de gerir bem e oferecer resultados positivos para a sociedade. Ninguém acredita que isso é mais simples do que negociar bem com o resto do mundo. Muitos anos de anomia criaram uma moralidade pública bastante fraca, e se requer um esforço extraordinário para se colocar em pé uma empresa de grandes dimensões que nos deixa orgulhosos. Os recursos potenciais argentinos são enormes, tendo em conta o petróleo convencional e o não convencional. Mas os interesses envolvidos são poderosos e agressivos. As placas tectônicas do poder mundial estão se movendo e a Argentina deu um passo na direção certa. 

      Ricardo  Aronskind é professor da Universidade de Buenos Aires-Plan Fénix. Artigo publicado originalmente no Jornal Página 12

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