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Economia

“Brasil ainda vive onda liberal, algo que outros países já superaram”, diz economista da FGV

Professor Nelson Marconi explica “como o Brasil está sempre atrasado em termos de apropriação das tendências”. “Não estou dizendo algo do tipo ‘somos jecas’, mas que o mundo anda e a gente demora para incorporar as mudanças. Na verdade, o mundo já está mudando em outro sentido e a gente ainda está num discurso antigo”, analisa

Economista Nelson Marconi, professor da FGV (Foto: Reprodução)
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Por Paulo Henrique Arantes, para o 247 - “A teoria econômica não é apenas algo que se encontra nos livros. Nem é simplesmente uma coleção de modelos. Na verdade, passei da academia para o governo porque acredito que a política econômica pode ser uma ferramenta poderosa para melhorar a sociedade. Podemos – e devemos – usá-la para enfrentar a desigualdade, o racismo e as mudanças climáticas. Ainda tento ver minha ciência – a ciência da economia – da maneira como meu pai (um médico) via a dele: como um meio de ajudar as pessoas.”

O trecho acima é de autoria da secretária do Tesouro dos EUA, recém-nomeada por Joe Biden, Janet Yellen, em uma carta a sua equipe. Yellen, que já presidiu o Federal Reserve, é uma daquelas pessoas para quem a economia integra o campo das ciências humanas, apesar das interfaces com as ciências exatas.

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Inevitável confrontar o posicionamento de Yellen com o dos liberais brasileiros, Paulo Guedes à testa, que se recusam a enxergar o que o mundo inteiro já enxergou: o fracasso das políticas econômicas neolilberais para promoção do bem-estar da sociedade.

Quando “o mercado”, esse ente sinistro, é chamado a opinar sobre o socorro estatal às populações mais vulneráveis durante uma pandemia devastadora, é porque não restou nenhuma gota de humanidade nas cabeças do governo.

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Governo, Congresso (redesenhado à direita) e “o mercado” não conseguem decidir de onde virá o dinheiro para um novo auxílio emergencial, se via nova “PEC de Guerra” ou mediante a criação de um imposto específico para bancá-lo, entre outras alternativas. O senso de urgência não os acomete. O que prevalece é a preocupação com o teto de gastos, uma espécie de “mata-burro” social.

“Infelizmente, o Brasil está sempre atrasado em termos de apropriação das tendências. Não estou dizendo algo do tipo ‘somos jecas’, não é isso. O que eu quero dizer é que o mundo anda e a gente demora para incorporar as mudanças. Na verdade, o mundo já está mudando em outro sentido e a gente ainda está num discurso antigo”, analisa o economista Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas.

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“Ainda estamos vivendo uma onda liberal no Brasil, uma coisa que outros países já superaram, como se vê pelo próprio discurso da Janet Yellen”, constata Marconi, que atualmente é pesquisador visitante no Center for International Development da Kennedy School of Government na Universidade de Harvard.

Em síntese, as assertivas econômicas predominantes hoje no Brasil, notadamente na mídia tradicional, remetem à era de Ronald Reagan e Margaret Tatcher, cujo conceito de ausência total do Estado na economia foi há tempos abandonado até por organismos ratificadores do capitalismo, como o Banco Mundial e o FMI.

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“Esse liberalismo leva ao individualismo exacerbado ao reduzir o papel do Estado e ao pensar menos em solidariedade. Parece que estamos nos aprofundando nessa onda, coisa que os outros países deixaram para trás. Temos que, urgentemente, conseguir mostrar para a população que isso só vai prejudicá-la. O mais importante é termos de novo uma visão econômica que seja solidária, preocupada com a sociedade”, defende Marconi.

O fiscalismo de Paulo Guedes, acredita o economista, já provoca impactos negativos na figura do presidente Jair Bolsonaro. “A única coisa que pode salvá-los é criar o novo auxílio emergencial, mas até nisso eles estão resistindo por causa da questão fiscal. O próprio mercado está resistindo muito”, adverte Marconi.

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Enquanto “o mercado” vai aos poucos impondo suas prioridades nos debates sobre como socorrer a população estraçalhada pela pandemia, descobre-se que o governo destinou parte de um crédito extraordinário de R$ 9,44 bilhões para produzir cloroquina.

O economista americano Michael Roberts, co-editor dos livros "The Great Recession: a Marxist View" e "The Long Depression", entre outros, escreveu um artigo seminal sobre a derrocada teórica das políticas econômicas neoliberais. Eis um trecho:

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“Diante de toda evidência, a economia mainstream apenas inventa possíveis causas exógenas ou ‘choques’ para explicar as crises, porque não quer admitir que elas são endógenas. Para ela, a Grande Recessão de 2008-9 foi uma ocorrência fortuita, ‘uma chance em um milhão’, ou mesmo um ‘choque inesperado’. Tratou-se de um ‘cisne negro’, um desconhecido-desconhecido, algo que para ser explicado talvez exija um novo modelo matemático mirabolante. Da mesma forma, a pandemia de Covid-19 figura aparentemente como um ‘choque exógeno imprevisto’, não como uma consequência previsível da busca enlouquecida do capitalismo por lucros; não da invasão descontrolada de áreas remotas do mundo na quais residem esses patógenos perigosos. Ora, a ortodoxia não quer uma teoria das causas endógenas das crises”.

Roberts é autor do blog "The Next Recession", acessível aqui.

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