Britânicos fora de foco
A petulância dos ingleses é inaceitável. O que eles deviam fazer é preocupar-se com o buraco que tudo indica está se alargando em torno deles
Os meios de comunicação financeiros britânicos decidiram colocar o Brasil na berlinda, criticar as medidas econômicas do governo brasileiro, ironizar nossos métodos e fazer piada sobre a presidente Dilma e o ministro Mantega.
Em dezembro a revista The Economist pediu a demissão do ministro Mantega. Esta semana o Financial Times citou em artigo o “jeitinho brasileiro” com que as questões monetárias são tratadas pelo Banco Central e afirmou que o ministro e o BC estão se transformando em “profissionais” neste tipo de expediente.
O Financial Times explica a seus leitores a expressão “jeitinho” como o hábito de se desviar das regras ou convenções por medidas criativas próximas da ilegalidade.
No entanto, afirma que ambos, Mantega e o banco, realizam ações dentro da legalidade, o que demonstra que a intenção é mesmo criticar o Brasil para desviar do foco da péssima atuação da economia britânica e da zona do euro.
A presidenta Dilma, mais preocupada com os fatos reais da economia brasileira, tirou de letra os deboches do jornal respondendo bem humorada as provocações que a colocaram como uma rena de nariz vermelho, e o ministro Mantega como um delfo.
Outro ataque dos ingleses veio do blog BeyondBrics, também ligado ao jornal britânico Financial Times. Ele sugere que os brasileiros patriotas deveriam parar de delirar e não fazer comemorações prematuras porque o Brasil não é mais a 6ª maior economia do mundo, que voltou a ser ocupada pela Grã Bretanha em 2012.
Na verdade, os britânicos nunca engoliram o fato da economia brasileira ter superado o Reino Unido em 2011 e ter o governo brasileiro dito na ocasião que o fato era a prova das virtudes do país e de uma mudança na balança do poder global. Comentário, diga-se de passagem, mais que adequado. Eles não serão para sempre as potências mundiais.
Do alto de sua realeza retrógrada os britânicos devem imaginar: quem pensam que são esses subdesenvolvidos latino -americanos para desafiar nosso poderio? Os últimos a fazer isso, os argentinos, foram massacrados pelos ingleses durante a Guerra das Malvinas, em 1982,com a ajuda dos EUA, que enviaram armamentos de última geração.
Enquanto no ar os argentinos contavam com aviões Skyhawk da década de 60 os ingleses pilotavam modernos caças-bombardeiros a jato Harrier e Sea Harrier.
No mar os argentinos lutavam com um porta-avião e submarinos a diesel, de pouca autonomia embaixo d’água, contra dois porta-aviões ingleses, e três submarinos de propulsão nuclear, com capacidade para ficar meses embaixo d’água.
Disso, certamente os ingleses devem se orgulhar: ter matado cerca de 700 soldados argentinos, muitos deles de fome e frio por usarem roupas e alimentos inadequados para o combate nos inóspitos territórios e gélidas temperaturas da ilha; além de afundar, longe da área de combate, o cruzador General Belgrano torpedeado por um submarino britânico de propulsão atômica, matando 368 argentinos.
Olhando para traz nos perguntamos: a que levou tantas mortes? enquanto na Argentina, a derrota no conflito fortaleceu a queda da junta militar - o que historicamente foi bom para o povo argentino - os louros da manutenção do poder nas Malvinas, sob domínio inglês desde 1883, levou o governo conservador de Margaret Thatcher à vitória nas eleições de 1983.
Para as próximas eleições, no entanto, a coalizão conservadora-liberal que assumiu em 2010 na Inglaterra terá que fazer quase um milagre e muito mais do que apenas criticar o Brasil, ou qualquer outro país do Brics, se quiserem se manter no poder.
Terão que achar saídas para a economia britânica, que emergiu da segunda recessão em três anos mas a maioria dos analistas acredita que no próximo trimestre, voltará a se contrair.
Apesar da situação em que se encontram, críticas às medidas do governo brasileiro não surpreendem. Para os representantes do setor financeiro internacional, Dilma os desafiou além da conta ao forçar a baixa das taxas de juros. Eles podem fazer mas nós não!
Especialistas em economia explicam que desde o estouro financeiro de 2008, Estados Unidos, Reino Unido e Banco Central Europeu se dedicam à emissão de dinheiro eletrônico, e a baixar as taxas de juros a mínimos históricos para estimular o consumo.
A questão, no entanto, é que essa política monetarista não está funcionando. A manutenção de juros baixos não está levando o setor privado a investir porque a demanda, no caso europeu mais especificamente, está estagnada. Este é o parecer de Ismail Erturk, catedrático senior de finanças da Universidade de Negócios de Manchester, em matéria publicada recentemente pela Carta Maior.
A projeção de crescimento de 2,1% para 2011 e 2,5% para 2012, no Reino Unido, ficou longe de acontecer. Em 2011 o crescimento real foi de 0,8%, e em 2012 foi negativo (menos 0,4%).
Quanto ao equilíbrio fiscal prometido de ser alcançado até 2015, o próprio governo admitiu em dezembro passado que para atingí-lo terá que ampliar a política de austeridade até 2018, medida que até o momento já causou muito desemprego.
Segundo um informe da ONU, divulgado em 20 de dezembro, com as políticas de austeridade em toda a Europa as coisas vão piorar. O cálculo é que a eurozona crescerá um magro 0,5% em 2013. A política de austeridade, obviamente, influenciará o desempenho dos britânicos também.
Portanto, aconselho aos editores britânicos a gastar mais tempo em propor soluções e repensar a política econômica do Reino Unido e menos em se preocupar com a economia brasileira. Do Brasil cuidamos nós!
Dep. Chico Vigilante
Líder do Bloco PT/PRB
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