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Economia

Consultor da empresa sino-indonésia que disputa controle de fábrica nacional já comparou Lula a Fernandinho-Beira Mar

Indiciado por espionar concorrentes da Paper, Josmar Verillo é um militante bolsonarista que parece não ver limites nas disputas empresariais e também nas redes

Eldorado, Hamilton Mourão, Eduardo Bolsonaro e o militante bolsonarista Josmar Verillo (Foto: Divulgação e reprodução da rede social)
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Por Joaquim de Carvalho, 247 - A indústria sino-indonésia Paper Excellence, que trava uma dura disputa com a J&F pelo controle da fábrica de papel e celulose Eldorado, tem como consultor e porta-voz informal no Brasil o executivo Josmar Verillo, que atua na rede social como militante bolsonarista e, desde o início da operação Lava Jato, faz manifestações que ajudaram a desestabilizar o governo de Dilma Rousseff, legitimamente reeleita em 2014.

Josmar Verillo chegou a ser indiciado pelo delegado Nelson Caneloi Júnior, do 1o. Distrito Policial de Diadema, em razão do caso de invasão hacker de e-mails e celulares dos executivos da J&F. Segundo o inquérito, ele e Claudio Laete Cotrin contrataram a empresa de tecnologia e programação de Moema Ferrari Normanha para obter ilegalmente as mensagens. 

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O inquérito acabou arquivado pelo Ministério Público de São Paulo depois que o ex-governador João Doria, contratado da Paper Excellence, se reuniu com o chefe do MP, Mario Sarrubbo, e com o então delegado-geral da Polícia Civil, Osvaldo Nico Gonçalves, em outubro do ano passado. O encontro foi na residência de Doria em Campos de Jordão, para onde eles viajaram de helicóptero que partiu do heliponto do Shopping Iguatemi, em São Paulo.

Verillo não estava no encontro. A atuação dele em defesa da Paper Excellence ficou comprovada em operações de propaganda, para desgastar a imagem dos rivais da empresa sino-indonésia Joesley e Wesley Batista. Em 2019, quando começou a arbitragem pelo controle da Eldorado, Verillo teve mensagens divulgadas pela Folha de S. Paulo que davam conta de que ele teve a palavra final sobre o conteúdo do livro Traidores da Pátria, assinado pelo jornalista Cláudio Tognolli.

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A obra é um libelo contra os irmãos que controlam a J&F e teve lançamento precedido por uma intensa campanha publicitária, com anúncios em jornais de circulação nacional e um desfile de carro alegórico pela Esplanada dos Ministérios, com bois da cor verde e amarelo e a faixa com a frase “Traidores da Pátria”.

Na época, a Câmara dos Deputados realizava a CPI do BNDES, que terminou sem apontar a chamada caixa preta no banco, farsa propagada pelo então presidente, Jair Bolsonaro, mas com muito barulho em torno da J&F, que tinha se tornado um dos maiores grupos empresariais do Brasil.

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Assim como outras grandes empresas brasileiras, o grupo foi duramente afetado pelo que, nos meios jurídicos, é conhecimento como “lavajatismo”. A operação Greenfied, que nasceu na esteira da espetacularização da Lava Jato, chegou até a J&F, e Joesley Batista fez uma acordo de delação premiada, que, mediante ação sob controle, apresentou indícios veementes de crime de dois expoentes do movimento que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, Aécio Neves e Michel Temer.

Nos desdobramentos da delação, quem parou na cadeia foi Joesley e, depois, também o irmão Wesley, e o grupo empresarial, assim como outros conglomerados nacionais atingidos pela Lava Jato, sofreu os maiores danos. 

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Era irônico que o denunciante acabasse preso enquanto os políticos flagrados com operadores carregando malas de dinheiro permanecessem soltos. Enquanto isso, o grupo empresarial era esquartejado para fazer frente à escassez de crédito, natural para empresas que não saíam do noticiário negativo. 

Foi nesse contexto que a J&F teve de vender algumas empresas, entre elas a Eldorado, no caso adquirida pelo grupo controlado pela família Widjaja, envolvida em escândalos empresariais em seu país, a Indonésia, um caso parecido com o da Americanas no Brasil, que levou a calote bilionário. 

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A Paper Excellence pagou por 49,4% das ações da Eldorado em 2017 e ficou de quitar o restante no ano seguinte. O negócio empacou porque o grupo que controla a Paper não pagou o que faltava, sob alegação de que a J&F não liberou as garantias dadas ao BNDES por empréstimos. A J&F, por sua vez, argumentou que o grupo indonésio precisaria, primeiro, conseguir o documento de quitação do BNDES.

E a exigência, do ponto de vista da prudência comercial, fazia todo sentido, principalmente porque o governo da época, de Michel Temer, e de seu provável sucessor, de Jair Bolsonaro, se inclinavam em favor dos indonésios, e no caso de Temer, denunciado por Joesley, a não-garantia de quitação do BNDES poderia significar uma armadilha, e arruinar outros negócios do grupo, uma vez que o banco sob o controle do governo poderia executar as dívidas, caso considerasse que outras cláusulas contratuais não estariam sendo cumpridas.

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O fato é que hoje, quatro anos depois, a J&F não tem mais pendências com o BNDES e o grupo da família Widjaja não pagou no prazo pelas ações restantes. Em vez disso, iniciou a campanha contra os irmãos Batista e fazendo uso de expediente criminoso, a considerar o inquérito concluído pela Polícia Civil em Diadema.

A ligação dos empresários indonésios com o governo de Jair Bolsonaro ficou evidente com a visita do então vice-presidente, Hamilton Mourão, a Xangai, na China, e de Eduardo Bolsonaro a Jacarta, Indonésia, em que posaram para uma peça de ficção, um cartaz em formato de cheque com valores que seriam aplicados no Brasil - dinheiro cuja cor ninguém viu.

Temer também deixou suas digitais na disputa comercial, ao admitir que foi contratado no ano passado pela Paper. Seu trabalho seria de consultoria jurídica, mas é sabido que depois que entrou na política deixou de trabalhar como advogado ou consultor jurídico. Pelo contrário. Quando foi acusado de corrupção, teve que contratar escritórios para defendê-lo.

O consultor da Paper, Josmar Verillo, em resposta ao 247, disse que presta consultoria à Paper, "como presto a diversas outras empresas”. Ele acrescenta: "Na verdade, dedico muito mais tempo às minhas outras atividades do que à Paper”.

Ele entende que “não existe nenhum interesse jornalístico na minha pessoa”. Se foi indiciado pelos crimes de invasão de dispositivo informático e associação criminosa, o interesse é evidente, ainda que o caso tenha sido arquivado, depois do encontro na Villa Doria. Para ele, "a J&F quer fazer esse vínculo com a Paper para eles poderem usar isso na ação anulatória contra a Paper.”

Por fim, ele lembra que tem 70 anos "e nenhum processo na minha vida! Tenho as portas abertas em todas empresas pelas quais passei". Verillo destacou pontos de seus currículo — dois mestrados, um no IESA da Venezuela em Administração, outro na Michigan State University, e um doutorado em economia na mesma universidade", além de ter sido "presidente de grandes empresas nacionais."

Verillo lembra que é presidente do Conselho da Amarribo, "uma ONG que luta contra a corrupção”. É nesse ponto de seu currículo que interesses ainda não muito claros de desnacionalização da atividade econômica brasileira se misturam ao que é conhecido como lavajatismo.

Estudo do Dieese, o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos e Estatísticas, mostrou que a Lava Jato provocou diretamente desinvestimento de mais de R$ 172 bilhões e a destruição de 4,4 milhões de empregos. O desemprego gerado na J&F por conta do lavajatismo não está nessa conta.

A Amarribo, associação de amigos de Rio Bonito, já teve racha por conta do que alguns dos seus fundadores considerava uma desvirtuação de seus propósitos originais. A chamada luta contra a corrupção passou a ser, na visão dos dissidentes, a criminalização da política, que desaguou em Jair Bolsonaro.

A entidade fundada por Verillo foi citada em mensagem divulgada pelo escândalo conhecido como Vaza Jato. Em janeiro de 2019, Deltan Dallagnol tinha recebido R$ 2,5 bilhões da Petrobras, parte de um acordo celebrado nos EUA entre a empresa brasileira, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e a Sec, entidade que fiscaliza as bolsas de valores naquele país.

Depois de conversar com o diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, Deltan Dallagnol enviou mensagem a um assessor da Procuradoria da República no Paraná para dizer como e com quem ele pretendia tocar a fundação.

“Temos agora que começar os passos pra constituir a fundação. Precisamos expedir ofícios. Acho que um próximo passo é obter indicação de pessoas com reputação ilibada e tal… Faz um despacho para expedirmos ofícios: -para convidar AGU e CGU para indicarem pessoa para participarem da constituição da fundação… um ofício dizendo que dadas as importantes funções e expertise etc, seria muito profícuo etc… e pede pra indicar alguém - para as entidades … Olha o acordo e veja o que mais precisamos. Quanto às entidades, tem que selecionar tb. De cabeça, penso em TI e Observatório Social. Tem tb a Contas Abertas, a Amarribo, o Instituto Ethos…. tem que ver quais mais. Vou perguntar”, escreveu Dallagnol.

Alguns meses antes, Verillo fazia campanha pela eleição de Jair Bolsonaro. “VOTEM EM BOLSONARO. O PT, que apoia ditaduras ao redor do mundo, e que usou essas ditaduras para desviar dinheiro do povo brasileiro via BNDES, e empréstimos para essas ditaduras. E pela forma de operar, conforme foi feito na Petrobras, parte desse dinheiro foi desviado para a quadrilha do PT”, afirmou, ecoando as mentiras do então candidato de extrema direita.

Se era para falar de desvio de dinheiro da Petrobras, o que representam os R$ 2,5 bilhões entregues pela empresa brasileira para Deltan Dallagnol criar a sua fundação? Outras mensagens da Vaza Jato deram conta de que o então coordenador da Lava Jato pretendia se beneficiar com remuneração por palestras.

O condutor da Paper não economizava nos ataques a Lula e ao PT, ao comparar, por exemplo, Lula a um traficante. “Fernandinho Beira-Mar, conhecido traficante de drogas preso, vai pedir para comandar sua quadrilha de dentro da cadeia. O PT é a maior organização criminosa já surgida no País, e o Lula recebe no cárcere membros da quadrilha, e comanda ações de dentro da prisão”, escreveu, em 7 de agosto de 2018.

Uma das postagens de Verillo: Vale-tudo
Uma das postagens de Verillo: Vale-tudo(Photo: Reprodução)Reprodução


No dia da eleição de Bolsonaro, ele escreveu: “A quadrilha está fora”, disse. O PT já estava fora do governo fazia mais de dois anos, com a cassação de Dilma Rousseff pelo Congresso Nacional. 

Em 1o. de novembro, ele comemorou o anúncio de que Moro seria ministro da Justiça de Bolsonaro. "Quem apostou na continuidade da corrupção votando no PT, perdeu. Sergio Moro no Ministério da Justiça, e depois no STF, vai mudar o Brasil”, afirmou.

Alguns dias depois, no Canadá, ele anunciou que haveria investimento no Brasil. A Paper Excellence tem fábrica de papel e celulose naquele país. De Vancouver, escreveu: “Agora, com o governo que vai combater a corrupção, Moro como ministro da Justiça, dá gosto defender o País e pedir aos investidores que acreditem no País, e invistam no Brasil. (…) Com uma quadrilha assaltando os cofres públicos, como é que iríamos pedir para empresários investir no Brasil?”

Que nome se dá à atitude de um juiz que tira o concorrente de Bolsonaro da disputa e depois é contemplado com um cargo no alto escalão do governo? Corrupção? 

Não se tem notícia de um centavo investido no Brasil durante o governo Bolsonaro a partir de ação de Verillo. O que houve de anúncio nesse sentido foi uma fraude, cinco meses depois do início do governo de extrema direita, em maio de 2019.

Em visita à China, Mourão tirou uma foto ao lado de Jackson Widjaja, líder do grupo empresarial, segurando um cartaz no formato de um grande cheque, com o valor de R$ 27 bilhões, dinheiro que supostamente seria investido no Brasil. Dois meses depois, foi a vez de Eduardo Bolsonaro, em Jacarta, tirar e divulgar outra foto de checão ao lado de Jackson Widjaja, O valor era de R$ 31 bilhões. O fato é que nem o dinheiro para consumar a venda da Eldorado, no valor total de R$ 15 bilhões, entrou no Brasil.

A coluna Radar, da revista Veja, registrou assim a cena de ficção: "A Paper utiliza políticos do governo para tentar criar um clima favorável perante os tribunais na luta com a J&F — o candidato a embaixador (Eduardo Bolsonaro) até cita a disputa no post.”

Enquanto o governo Bolsonaro trabalhava pela Paper e ocorria a arbitragem entre a empresa sino-indonésia e a companhia brasileira, Verillo mantinha sua militância na internet, a favor do governo e sempre com ataques a Lula e ao PT. No ano passado, tentou polemizar com Lula e Janja, mas foi ignorado.

Em dezembro, usou expressão de baixo calão para defender Bolsonaro. “VTSC”, escreveu em uma postagem do senador Randolfe Rodrigues sobre a demora do então presidente de desocupar o Palácio do Alvorada, para a mudança do presidente eleito. Em janeiro, atacou o ministro da Justiça, Flávio Dino, quando este disse que colocaria a Polícia Federal para investigar os ataques a ministros do STF — antes do terror protagonizado pelos bolsonaristas, em 8 de janeiro. “Vai pra casa, comunista!”, disse.

A disputa entre a Paper e a J&F continua na justiça brasileira, depois que uma câmera arbitral decidiu em favor da empresa sino-indonésio, mesmo com a comprovação de que um dos julgadores já tinha trabalhado no escritório que presta serviços à companhia sino-indonésia, uma clara situação de conflito de interesse.

Mas, quando se constata a falta de compostura e o vale-tudo de seu consultor no Brasil, não é difícil mesmo para um leigo decidir quem tem razão no episódio. Não se trata de defender a J&F, mas de rejeitar a canalhice, irmã siamesa da desonestidade.

 

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