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Economia

Dólar dispara com falta de confiança na política econômica

Há preocupações com a deterioração do quadro fiscal e com a volta da inflação, sem que o Banco Central tome medidas concretas

Dólar e o ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Reuters | Wilson Dias/Agência Brasil)
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SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparou 2,8% nesta sexta-feira, mais do que revertendo em apenas uma sessão toda a queda acumulada na semana até então e registrando a maior alta diária em quase três meses, com o sentimento de investidores abalado por intenso nervosismo no mercado de juros futuros diante de maior desconfiança em relação à postura do Banco Central num contexto de fiscal deteriorado.

A piora nos mercados externos --onde o dólar passou a subir e as bolsas de valores em Nova York fecharam em baixa-- endossou o movimento por aqui.

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O dólar à vista fechou em alta de 2,77%, a 5,3767 reais na venda --maior valorização diária desde 24 de junho (+3,33%).

Na máxima, alcançada perto do fechamento, a cotação foi a 5,3782 reais (+2,80%). Na mínima, batida ainda no começo do pregão, marcou 5,2405 reais (+0,16%).

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O real teve, de longe, o pior desempenho global nesta sessão.

O dólar acumulou na semana alta de 0,82%. Até a véspera, registrava queda de 1,90%. Com isso, a moeda reduziu a baixa em setembro para 1,90% e elevou os ganhos no ano a 33,99%.

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Na B3, o contrato de dólar futuro de maior liquidez subia 2,60%, a 5,3770 reais, às 17h03.

A aparente trégua no mercado de renda fixa --que na véspera ajudou a acalmar o dólar depois de o Tesouro Nacional reduzir o tamanho do leilão de prefixados-- durou pouco. O salto do IGP-M da segunda prévia de setembro divulgada nesta sexta serviu de combustível para renovadas preocupações sobre inflação --receio que para muitos agentes financeiros foi minimizado pelo BC no comunicado da reunião do Copom desta semana.

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O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) passou a subir 4,57% na segunda prévia de setembro, de 2,34% no mesmo período do mês anterior. A taxa acumulada em 12 meses saltou de 12,58% para 18,20%.

“Mercado preocupado com a inflação. Mercado de DI estressando e dólar indo junto... Tesouro com liquidez baixa. E o BC vai deixar o dólar andar? Vai entrar num círculo vicioso muito ruim”, comentou o gestor Alfredo Menezes, da Armor Capital.

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Neste pregão, o Banco Central limitou-se a realizar leilão de rolagem de linhas de dólares com compromisso de recompra, colocando todo o lote de 4,15 bilhões de dólares ofertado.

No comunicado do Copom de quarta-feira, o BC sinalizou manutenção da Selic na mínima recorde de 2% por um período prolongado, mas não fechou completamente a porta para novo afrouxamento monetário. No texto, o colegiado reforçou o uso do chamado “forward guidance” --ferramenta de política monetária que visa influenciar as expectativas do mercado via comunicação.

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Em sua orientação futura, o Copom explicitou que não pretende elevar os juros a menos que as expectativas e projeções de inflação estejam suficientemente próximas da meta de 2021 e 2022 ou no caso de o governo abandonar o atual regime fiscal.

Muitos no mercado, contudo, avaliam que a ferramenta do “forward guidance” tem suas limitações no Brasil, especialmente num contexto de fragilizada situação fiscal como a de agora.

“A falta de resposta dos mercados ao ‘forward guidance’ reflete preocupações sobre as perspectivas fiscais, à medida que uma deterioração significativa pode levar a uma moeda mais fraca, a pressões inflacionárias e a necessidade de aumentos nos juros antes do previsto”, disseram analistas do Barclays em nota desta semana.

“Não esperamos que o mercado tire dos preços chances de altas (de juros) no curto prazo (com redução de prêmio de risco) enquanto a incerteza fiscal permanecer”, completaram.

DIs EM DISPARADA

O desconforto geral catapultou as taxas de DI nesta sessão, com vencimento janeiro 2027 chegando a disparar 38 pontos-base na máxima da sessão, indo a 7,39% ao ano, pico desde 22 de maio.

O mercado de juros vem de dias sob intenso estresse, devido a crescentes dúvidas sobre a capacidade do Tesouro Nacional de refinanciar a dívida pública diante do forte aumento de gastos para combater os efeitos da pandemia e da percepção de evolução da agenda de reformas muito aquém do necessário.

O patamar baixo da Selic tem sido apontado por alguns analistas como um dificultador adicional para o financiamento da dívida pública e estaria relacionado aos crescentes deságios nas negociações com LFT (título cuja rentabilidade é atrelado ao juro básico) e a aumentos expressivos nos prêmios cobrados para compra de prefixados.

Na semana passada, o Tesouro fez o maior leilão de prefixados da história, em termos de risco, uma megaoperação de 44,5 milhões de títulos públicos, sem colocação integral. Na véspera, o Tesouro vendeu apenas 18% das 500 mil LFT ofertadas.

“Acho que o grande responsável pelo que está acontecendo é o BC”, disse Joaquim Kokudai, gestor na JPP Capital, para quem a autoridade monetária “tomou risco de mais numa situação fiscal que já é um grande problema”.

Embora reconheça que o objetivo do BC seja o cumprimento da meta de inflação, Kokudai avalia que o cenário fiscal não comporta os juros reais nos atuais patamares e que, mesmo do lado da inflação, alguns sinais --como a desvalorização nominal de 25% da taxa de câmbio em 2020 e os IGPs altos-- exigem maior atenção da autoridade monetária.

“Se na ata o BC não adotar um tom mais duro, acho que os preços dos ativos podem reagir mal mais uma vez”, concluiu.

O Copom divulga a ata da última reunião de política monetária na próxima terça-feira. No dia seguinte, o IBGE informa o IPCA-15 --visto por muitos como uma prévia da inflação “oficial” ao consumidor, o IPCA-- de setembro, com expectativa de alta ante a taxa de 0,23% de agosto.

Na quinta-feira, haverá a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação do BC, com entrevista à imprensa do presidente Roberto Campos Neto.

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