É o estúpido mercado?
Uma das frases mais marcantes já ditas entre governantes sobre as flutuações do sistema financeiro (É o mercado, estúpido) pode agora ser alterada e utilizada de forma diferente quando se aplicada ao governo brasileiro
Uma das mais célebres e marcantes frases já ditas entre governantes sobre as flutuações do sistema financeiro (É o mercado, estúpido) pode agora ser alterada e utilizada de forma diferente quando se aplicada ao governo brasileiro, mais especificamente ao mercado financeiro e sua reação nas últimas semanas.
Apesar de direcionar suas ações de política econômica para medidas expansionistas e de destravamento macroeconômico, o governo não esperava a severidade aplicada pelos agentes econômicos sobre o Brasil no que se refere a mais uma complicação grega e pela dificuldade sentida pela Espanha em resolver sua insolvência bancária nacional.
A corrida de gregos e espanhóis aos seus bancos com medo de uma falta de liquidez severa, fizeram com que grandes agentes financeiros passassem perto de um colapso, que aniquilaria o sistema financeiro de seus respectivos países. Milhões e milhões de euros foram sacados sob o pretexto de um aperto ainda maior da crise, provocando a queda de capital disponível a níveis alarmantes.
Por aqui, o mercado acionário brasileiro sofreu perdas superiores a 12% no acumulado da última semana, traduzindo e demonstrando o temor que os mercados financeiros ainda parecem sentir frente a novas más noticias européias.
Os investidores buscam de pronto realizar suas opções em outros mercados, e tentar canalizar seu capital para uma liquidez imediata ou ainda transacioná-lo para mercados mais sólidos e ágeis.
Além disso, os estímulos à economia brasileira ainda não conseguiram surtir o efeito desejado, ou melhor, o remédio da ampliação do crédito e expansão econômica ainda não retornou sob o efeito desejado,.
A temperatura da atividade econômica subiu, mas ainda não está no patamar ideal para garantir um crescimento consistente e sólido. O setor industria ainda trabalha com estoques, e o comércio se vê refém das limitações do crédito ao consumidor. A agricultura sofre com os problemas de estiagem e uma logística de distribuição inexistente.
Devemos novamente retomar nossa atenção às agendas reformistas e principalmente as necessidades de modernização das bases estruturas. Para se ter idéia da gravidade e da latente demanda, a renomada revista britânica The Economist publicou reportagem temendo que a onda positiva brasileira já tenha passado, e que, caso o governo não enfrente frontalmente as carências, poderemos perder o ímpeto do desenvolvimento e perder mercado para nossos vizinhos latinos em ascensão: México, Peru, Equador e Colômbia.
Dentro de suas argumentações, a revista pondera a vontade do governo de enfrentar algumas forças de resistências, mas não vê nestas vontades energia suficiente para romper as amarras. É visível uma distinção das vontades da Presidenta e de seu governo, por mais estranho que isso posso parecer.
Além disso, o crescimento de outras economias latinas impulsionaria a concorrência com os investimentos estrangeiros recebidos pelo Brasil. O ponto é que, antes, apenas a economia brasileira estaria enquadrada sob potencial gerador de lucros e valor.
Agora, temos uma economia peruana e colombiana, por exemplo, com bases econômicas menos vulneráveis a golpes e uma reconstrução social muito forte. O retorno ao investimento estrangeiro poderia ser, nestes países, retornado de forma mais rápida de que em países mais maduros como o Brasil.
Mesmo que o mercado financeiro brasileiro tenha sentido de forma mais severa as novas acomodações do mercado mundial, não enxergo as economias peruanas e colombianas com potencial próximo ao retorno do mercado brasileiro.
Primeiro, que nossa força consumidora interna é muito mais pujante, rica e institucionalmente firme. Não há arcabouços jurídicos e políticos sem um direcionamento, o que significa dizer que não há forças que possam derrubar ou tomar o poder em forma de golpe nem agentes que destoam de um contexto econômico-funcional.
Segundo, que nossos problemas estruturais e sociais, são conhecidos pelo governo, o que infelizmente, não significa dizer que, mesmo sabendo, irão solucioná-los. Às vezes, muitos dos problemas são inerentes a disputa democrática e o rompimento da continuidade política, o que não isenta os novos gestores públicos de solucionar antigos entraves, e muito menos responsabilizar a democracia pelos problemas de infraestrutura, segurança e educação.
Acreditar que estes países possam retirar capital (em grande volume) do Brasil, é desconsiderar que existem outros mercados, assim como, podemos ter nichos de mercado e características culturais que não existem em nosso país, mas que são firmemente enraizados nos outros. Há conceitos de consumo em cada cultura, maneiras de fazê-lo e população para abraçá-los.
Não considero que há uma competição com outros países latino americanos por investimentos, apenas registro que se abre na América Latina novas possibilidades, que se aproveitadas, poderão fomentar o crescimento destes outro países, fazendo com o Brasil crie estreitas relações comerciais com os mesmos, deixando de ter uma vizinhança extremamente pobre e comercialmente inexpressiva.
As flutuações que o mercado nacional sofreu são literalmente normais e comprovam mais uma vez a interferência mundial em nosso cotidiano, integrando nossa economia ao mundo.
Mesmo o governo tentado e conseguindo, ainda que momentaneamente, elevar o dólar para beneficiar a exportação, o mercado financeiro possui fluxos próprios a assim devemos mantê-los. A estratégia macroeconômica está traçada, e o governo precisa segui-la e admitir fatores externos em seu modelo.
Antônio Teodoro é economista e professor
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