Escândalo da Libor envolve HSBC e mais três bancos europeus, diz Financial Times
Reguladores investigam vínculos entre operadores do Barclays e das outras instituições no caso de fraude das taxas europeias. Nos EUA, Bank of America também é alvo. FMI alerta que perda de confiança pode abalar sistema financeiro mundial
247 - O escândalo de manipulação das taxas interbancárias Libor (britânica) e Euribor (europeia), que minou a reputação do Barclays e provocou a renúncia de seus principais executivos, envolve outros quatro bancos europeus, diz o jornal Financial Times. Entre eles, está o britânico HSBC, abalado esta semana por investigação do Senado americano que acusa o banco de ignorar alertas sobre operações que teriam servido para lavagem de dinheiro de traficantes e terroristas.
Em meio ao abalo na credibilidade dos bancos europeus, que também já repercute nos Estados Unidos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou nesta quinta-feira, 19, seu relatório anual sobre a economia britânica. E alertou que a descoberta de que os bancos possam ter manipulado as taxas é "perturbadora e pode ter desdobramentos" no sistema financeiro mundial, causando volatilidade indesejada e, em última instância, fazendo com que os bancos cortem empréstimos para fazer frente às despesas com multas e custos processuais.
Além do Barclays, que está no centro das investigações sobre a manipulação das taxas, e do HSBC, os demais bancos europeus investigados são os franceses Société Générale e Crédit Agricole, além do alemão Deutsche Bank. De acordo com reportagem do FT, os reguladores bancários que apuram as manipulações das taxas acreditam que os operadores do Barclays envolveram funcionários dos outros quatro bancos europeus.
O HSBC não comentou a reportagem do FT. Todos os outros novos bancos implicados nas investigações disseram ao periódico britânico que estão cooperando com as autoridades reguladoras e respondendo aos pedidos por informações. O Société Générale assinalou ao FT que, até o momento, não foi implicado em nenhuma irregularidade. No domingo, a revista alemã Der Spiegel disse que o Deutsche Bank ofereceu às autoridades europeias plena cooperação, e propôs "delação premiada" a eventuais envolvidos.
A suspeita de fraude veio à tona no final de junho, e custou os cargos do presidente e do CEO do Barclays, acusado de manipular as taxas entre 2005 e 2009. A Câmara dos Comuns britânica criou uma comissão parlamentar de inquérito para apurar o caso, e o Serviço de Combate ao Crime Financeiro está a ponto de abrir uma investigação criminal.
Do outro lado do Atlântico
O Bank of America, segundo maior banco americano, reconheceu, nesta semana, que também está sendo investigado. "Igual a outros bancos, recebemos e estamos cooperando com as perguntas que chegaram a nós por meio de órgãos reguladores nos Estados Unidos e fora do país", afirmou o diretor financeiro do banco, Bruce Thompson, ao apresentar as contas do segundo trimestre do banco.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, disse que, em 2008, quando era chefe do Federal Reserve (FED) de Nova York, atuou com rapidez e foi contundente ao alertar sobre a possibilidade de manipulação da Libor.
O presidente do Fed, Ben Bernanke, admitiu no início desta semana, em seu primeiro dia de pronunciamente no Senado, que o sistema de fixação da Libor tem "erros estruturais" e não é "completamente confiável".
FMI
Em seu relatório anual sobre a economia britânica, o FMI alertou que a perda de confiança na integridade das taxas Libor e Euribor pode causar danos não só na Grã-Bretanha e na Europa, mas nos mercados financeiros globais. A descoberta de que pode ter havido fraude nas taxas é "perturbadora e pode ter desdobramentos" no sistema financeiro como um todo.
"Com um enorme volume de derivativos e financiamentos atrelados a taxas de referência como a Libor e a Euribor, é essencial que a determinação dessas taxas seja precisa para garantir a confiança na sua integridade", diz o relatório do Fundo.
Uma perda de confiança nas taxas, atreladas a trilhões de dólares em contratos e financiamentos no mundo inteiro, poderá gerar volatilidade indesejada nos mercados de empréstimos e, em última instância, atingir os custos de financiamento de empresas e consumidores, alerta o FMI. Os bancos também poderão cortar empréstimos para pagar multas e enfrentar os processos relacionados com a fraude, diz o relatório.
