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Economia

"Estamos destruindo o planeta em benefício só de uma minoria", afirma Ladislau Dowbor

Para economista, mundo migra para um novo modo de produção: "Não é mais capitalismo"

(Foto: 247)
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Brasil de Fato - Crise ambiental, desigualdade crescente e desestruturação financeira: esses são os três desafios centrais do mundo na atualidade, de acordo com o economista Ladislau Dowbor. "Nós estamos destruindo o planeta, mas em benefício só de uma minoria", sintetiza o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em entrevista concedida ao Brasil de Fato antes do início da pandemia de coronavírus.

A situação é agravada pela falta de governo, de "rédeas sobre o processo". "O sistema está se desagregando, e o resultado são pessoas muito inseguras. E pessoas inseguras tendem a ser mais suscetíveis a apelos de ódio, porque se sentem perdidas", afirma.

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Um dos motivos da crise, segundo ele, está na excessiva e cada vez maior concentração de renda, relacionada com a financeirização da economia, que faz com que os muito ricos deixem de investir em produção.

Dowbor mostra um cálculo simples para exemplificar o que chama de "bola de neve": se um bilionário compra R$ 1 bilhão em papéis que rendem 5% ao ano, ele tem um rendimento de R$ 137 mil em um dia. No dia seguinte, como não tem como gastar todo o dinheiro, investe o R$ 1 bilhão inicial mais os R$ 137 mil, e assim o rendimento vai ficando a cada dia maior. "Isso levou à situação atual em que temos no mundo 1% que tem mais do que os 99% seguintes ou à situação brasileira em que você tem seis famílias que têm mais do que a metade mais pobre da população."

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Dowbor cita como exemplo da concentração de renda um dos 206 bilionários que existem no Brasil, segundo a revista Forbes. Joseph Safra, dono do banco Safra, que tem um patrimônio de R$ 95 bilhões, "não vai investir, porque dá trabalho. Desses bilionários se contam nos dedos as pessoas que produzem alguma coisa". De acordo com o professor, o dinheiro dos mais ricos migra para paraísos fiscais em vez de ficar na economia do país.

"O trabalho mudou"

Sem investir na economia, ela paralisa. E foi isso que Dowbor diz que ocorreu no Brasil a partir de 2013. "Quando a Dilma tentou diminuir a taxa de juros para reduzir esse tipo de fortunas, entrou em guerra com o sistema financeiro", analisa. O que se seguiu, de acordo com Dowbor, foi o boicote ao seu governo, seguido por um período de reformas que travaram a demanda e paralisaram a economia. "Eu achei muito interessante o comentário de um empresário que disse: 'Com a quebra dos direitos trabalhistas, está mais fácil contratar, mas pra que eu vou contratar se eu não tenho pra quem vender?'", completa.

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As reformas se inserem num contexto de mudança do emprego e do trabalho, com o aumento da tecnologia. Mas Dowbor afirma que, mesmo antes disso, já havia uma "imensa subutilização da força de trabalho", evidente pelos dados de que, de uma população economicamente ativa de 105 milhões de pessoas, apenas 33 milhões têm emprego formal, de carteira assinada.

Na análise da economia brasileira, Dowbor cita os "anos dourados", a década entre 2003 e 2013, apontados pelo Banco Mundial como de progresso econômico e social, para falar sobre a necessidade de investimentos em políticas públicas e infraestrutura para aumentar a renda das famílias e a produtividade. Essa é a saída, que é "simples", na sua opinião, para melhorar a economia e a vida das pessoas.

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Desastre do neoliberalismo e novo modo de produção

"O desajuste financeiro é global", afirma Dowbor, ainda que ressalte que "no Brasil se tornou absolutamente grotesco". O professor comenta propostas de maior regulação e maior responsabilidade sobre as finanças que já circulam no mundo, inclusive partindo de instituições financeiras, para defender a tese de que o sistema atual não está dando certo. "Tem muita gente indignada no planeta. O sistema neoliberal durou 40 anos e não funciona", diz.

Questionado sobre se existe saída para essa crise dentro do capitalismo, Dowbor diz que "o que a gente está criando não é mais capitalismo". Ele argumenta que a base da economia passou da agricultura, no feudalismo, para a indústria, no capitalismo, e hoje é o conhecimento. "É um novo modo de produção. É uma coisa realmente nova", conclui.

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