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Economia

Exclusivo: o pensamento de Christine

Na ltima vez que veio ao Brasil, a futura diretora do FMI concedeu uma entrevista aos jornalistas Leonardo Attuch e Lus Pellegrini, editores do Brasil 247; leia

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247 – Em novembro de 2010, o Brasil sediou o encontro dos ministros das Finanças dos países do G20. Naquela ocasião, Christine Lagarde foi uma das estrelas e concedeu uma única entrevista, aos jornalistas Leonardo Attuch e Luís Pellegrini, ambos da equipe do Brasil 247. Naquela ocasião, ela falava da falência do sistema financeiro a de necessidade de reforçar os controles sobre os bancos. Leia a seguir:

Muitos já comparam a crise atual à de 1929. Quais são as raízes do problema e como os governos devem reagir?

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CHRISTINE LAGARDE - A crise é resultado de vários excessos. A começar pelo excesso de crédito que alimentou a bolha imobiliária americana. Também houve o excesso de complexidade de alguns instrumentos financeiros, que nem mesmo os banqueiros dominam. Isso sem falar no excesso de ganância de alguns financistas. Depois disso, passamos a assistir ao excesso de irracionalidade neste ambiente de pânico nas bolsas. Diante disso, os governos devem intervir para colocar fim aos excessos e restaurar a confiança. Mas também vamos trabalhar no nível europeu e internacional para melhorar a regulação do sistema financeiro e impedir que uma situação como essa se repita.

A França tem liderado um movimento de capitalização dos bancos pelo Estado. Isso deve ser uma política transitória ou permanente?

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LAGARDE - Na verdade, a França não está agindo de forma isolada. Os Estados Unidos e o Reino Unido também fizeram intervenções massivas para estabilizar seus sistemas bancários. Essas ações dos Estados podem ser transitórias ou permanentes. Explico: transitórias para reparar deficiências conjunturais dos mercados e permanentes para modificar de forma estrutural a regulação dos sistemas financeiros.

Já se fala da necessidade de um novo Bretton Woods. A sra. concorda com essa idéia? E de que maneira seria possível coordenar os interesses de todos os países?

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LAGARDE - A França já se convenceu da necessidade de provocarmos uma reforma profunda do sistema financeiro internacional. Não podemos permitir que futuros desequilíbrios causem uma nova crise. E algo dessa magnitude não pode ser conduzido por um pequeno grupo de países isolados. A convicção da França, e também da União Européia, é a de que esse processo, que será lançado em Washington no próximo dia 15, seja aberto, associando países emergentes como o Brasil. Eu também penso que, nos últimos anos, nós vivemos num mundo de concorrência no que tange à regulação bancária. Este modelo faliu e deve ser abandonado. É importante que cheguemos a um acordo de normas e princípios, em nível global.

Há alguns meses, dizia- se que os países emergentes poderiam se "descolar" da crise financeira. Hoje, não há mais essa certeza. Qual é sua opinião?

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LAGARDE - De fato, a crise que nasceu nos Estados Unidos se agravou e hoje tem um impacto sobre o conjunto da economia mundial. Essa foi uma das lições que constatamos no último encontro do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Diante disso, quais são os riscos que pairam sobre as economias emergentes? Claramente, uma queda nas exportações para os países desenvolvidos, que crescerão menos. Mas eu penso que isso não deve ser dramatizado. Países como o Brasil, o México e o Chile hoje se beneficiam de grandes esforços feitos nos últimos anos e têm políticas econômicas de boa qualidade.

Se o mundo caminha para uma recessão, não deveríamos temer o protecionismo? É esta a primeira grande crise da globalização?

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LAGARDE - O protecionismo não é o caminho que está sendo trilhado. Hoje, a cooperação entre os governos é intensa e os chefes de Estado das 20 maiores economias irão se encontrar no dia 15 em busca de soluções. Muito já foi feito, mas agora é preciso lançar as bases de um sistema financeiro mais estável e mais sadio. Também não penso que esta seja a primeira grande crise da globalização, porque já existiram outras globalizações. Por exemplo, os mercados financeiro já foram plenamente integrados na época do padrão-ouro.

No início da crise, o presidente Lula disse que esta seria uma boa oportunidade para relançar a Rodada Doha. Não parece muito otimista?

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LAGARDE - A União Européia e a França estão engajadas neste esforço. É preciso chegar a um resultado ambicioso, global e equilibrado. Eu penso que um crescimento do protecionismo seria extremamente prejudicial para a economia mundial no contexto atual e que as negociações comerciais deveriam recomeçar já em janeiro de 2009. Mas o estado de espírito da nova administração americana - e também do Congresso - será essencial.

No encontro do G-20, em São Paulo, quais são suas principais propostas?

LAGARDE - A França exerce hoje a presidência do conselho da União Européia. Portanto, eu pretendo apresentar idéias que foram discutidas intensamente por nós. São propostas realistas e ambiciosas, articuladas em torno de quatro eixos. Primeiro, é indispensável que nenhuma instituição financeira ou segmento do mercado escape à regulação. Segundo, o novo sistema financeiro internacional deve estar fundado sobre os princípios de responsabilidade e transparência. Isso significa abandonar sistemas de remuneração que incentivam a tomada de riscos focados em ganhos de curto prazo. Terceiro, é preciso se dar conta dos riscos em escala global, criando uma supervisão mundial sobre os atores financeiros e também colocando em questão as zonas opacas do sistema. Finalmente, essa nova arquitetura deve ser mais inclusiva. Acredito que o FMI deve ter um papel central, mas abrindo-se mais aos países emergentes. A meu ver, a instância que reúne os ministros e transmite orientações políticas ao Fundo não deve mais ser comandada por um europeu, mas por um representante das economias emergentes.

A sra. chega ao Brasil acompanhada de mais de 100 empresários. O que pode ser feito para melhorar nossas relações econômicas?

LAGARDE - As exportações francesas ao Brasil crescem de forma constante desde 2003. Elas atingiram 3,3 bilhões de euros nos últimos 12 meses, com destaque nas indústrias aeronáutica, automobilística, química, eletrônica e de cosméticos. No sentido inverso, as nossas importações de produtos brasileiros também crescem de forma regular nos últimos cinco anos, sob o efeito do encarecimento dos produtos agrícolas, o que gerou um déficit de 427 milhões de euros para a França em 2007. Mas eu penso que nossas relações hoje vivem um momento muito favorável. Quando os presidentes Lula e Nicolas Sarkozy se encontraram na Guiana, eles decidiram lançar uma parceria entre os dois países e um plano de ação estratégica deverá ser assinado em breve.

O que esse plano trará de ganho para o Brasil?

LAGARDE - Nosso apoio à participação do Brasil em um sistema renovado de governança mundial, o que inclui o Conselho de Segurança das Nações Unidas, o G-13, o Banco Mundial e a OCDE. Também pretendemos estreitar nossos laços em campos cruciais, como a defesa, a questão nuclear e os biocombustíveis. Outro ponto importante é multiplicar as missões empresariais, nos dois sentidos.

Um acordo comercial entre o Mercosul e a União Européia ainda é possível?

LAGARDE - A negociação de um acordo de livre comércio entre a União Européia e o Mercosul começou em 1999, mas desde 2004 ela está em ponto morto. Os dois lados ainda não chegaram a um entendimento sobre a abertura recíproca dos seus mercados. Uma eventual reabertura dessas negociações deve ser estudada tendo em vista seu impacto sobre as discussões da Rodada Doha.

A França tem um histórico de investimentos no Brasil, mas não participou de forma muito ativa das privatizações. A sra. crê que é possível recuperar o tempo perdido?

LAGARDE - Nossas empresas estão no Brasil há várias décadas e o estoque acumulado de investimentos franceses soma US$ 15 bilhões. É um nível próximo ao dos espanhóis. Hoje, há cerca de 350 grupos franceses implantados no Brasil, empregando cerca de 250 mil pessoas. O que vale a pena sublinhar é que agora, além dos grandes grupos, empresas médias da França começam também a se instalar no Brasil. E todos estão muito otimistas. A Renault, por exemplo, está investindo US$ 360 milhões no lançamento de três modelos, enquanto o grupo PSA também anunciou que irá lançar um novo modelo por ano no Brasil até 2010.

Assim como outros emergentes, o Brasil também criou suas próprias multinacionais. Quais são hoje as grandes oportunidades na França?

LAGARDE - A França é um país aberto e o terceiro no ranking de atração de investimentos externos, com um volume de US$ 158 bilhões em 2007. Queremos reforçar nossa posição nas áreas de pesquisa e desenvolvimento e temos um dos sistemas de impostos mais vantajosos entre os países da OCDE. Hoje, 30% das despesas em P&D são reembolsadas no limite de 100 milhões de euros, e 5% a partir desse montante. Estamos prontos a acolher as empresas brasileiras.

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