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    Exploração e a Apple

    Por trás do design arrojado e hipermoderno dos produtos da maçã, há indícios sérios de haver uma cadeia de produção que humilha e explora os empregados, por parte da Foxconn

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    A Apple é uma das principais marcas do mundo contemporâneo. Seus Ipods, Ipads e demais máquinas são o objeto de desejo de milhões de pessoas ao redor do mundo. Os produtos da Apple são produzidos pela Foxconn, que possui uma fábrica na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo. O Jornal de Jundiaí denunciou no último domingo que os funcionários estão enfrentando problemas sérios dentro da fábrica. Segundo as informações publicadas, a comida da empresa é muito ruim, havendo casos em que larvas foram encontradas na alimentação. Os funcionários têm restrições quanto ao uso do banheiro no horário de trabalho e o estilo de supervisão é altamente agressivo. A Foxconn também produz para empresas como HP, Sony e Dell.

    Não é a primeira vez que a Foxconn se vê às voltas com problemas trabalhistas. Em maio de 2010, a BBC denunciou que empregados da empresa na China teriam cometido suicídio e foram encontrados funcionários mortos devido a ataque cardíacos dentro dos alojamentos da empresa. Mais de 30 empregados teriam tentado se jogar do alto do edifício da empresa. Tais mortes teriam potencialmente sido catalisadas devido às condições de trabalho na China. Organizações Não Governamentais que monitoram as condições de trabalho naquele país alegaram que a fábrica da Foxconn era gerida com um estilo gerencial militar e que as condições de trabalho eram muito duras.

    Posteriormente, um jornalista da agência internacional de notícias Reuters foi agredido por um segurança após tentar tirar fotos da fábrica taiwanesa que, de fora, mais parece uma fortaleza militar. Um órgão de imprensa chinês conseguiu infiltrar um repórter no local para verificar as suspeitas condições de trabalho. Revelou-se que a empresa pagava um salário muito baixo para seus empregados ao mesmo tempo em que implicitamente os forçava a fazer horas-extras além dos limites legais. Revelou, ainda, que o stress tanto mental quanto físico era extremo. Era proibido conversar na linha de produção, os funcionários podiam ir ao banheiro apenas 10 minutos a cada duas horas e todos passavam por revistas rigorosas ao entrar e sair da fábrica.

    Novas auditorias realizadas na fábrica da Foxconn neste ano revelaram que funcionários continuam sofrendo com um estilo de supervisão altamente agressivo, que os alojamentos dos funcionários têm péssimas condições e que muitos operários não recebem pelas horas extras que fazem. Além disso, foi constatado que as condições de segurança no trabalho são altamente precárias. A reportagem do Jornal de Jundiaí mostra que a Foxconn trouxe para o Brasil o mesmo estilo de gestão que pratica na China. Por trás do design arrojado e hipermoderno dos produtos Apple há indícios sérios de haver uma cadeia de produção que humilha e explora a exaustão dos empregados. Há um custo humano considerável que não poderia existir.

    Rafael Alcadipani é professor adjunto da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

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