Fundo de investidor litigante congela por dois anos recursos de seus cotistas
Recursos aplicados no fundo Esh, de Vladimir Timerman, que é alvo de ações cíveis e criminais, só poderão ser resgatados em 720 dias – o que aponta para a insolvência
247 – Em uma decisão surpreendente durante a Assembleia realizada nesta terça-feira (16), o micro fundo Esh Theta, sob a gestão do ativista Vladimir Timerman, optou por estender significativamente o período de espera para resgates de investimentos, passando de três semanas para dois longos anos, aponta reportagem do Correio da Manhã. A notícia, divulgada inicialmente pelo site Monitor do Mercado, ganhou destaque na coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, algo que foi "comemorado" pelo próprio gestor. Timerman, em seu perfil no X (ex-Twitter), atribuiu à nota um status de credibilidade, apesar de não considerar a mudança no prazo tão relevante.
Contudo, exigir que os investidores permaneçam comprometidos por dois anos não é uma alteração trivial. Aqueles que alocaram suas economias no Esh agora enfrentam a perspectiva de esperar 720 dias para resgatar seus investimentos, em comparação com os antigos 18 dias. O micro fundo se tornou, assim, um protagonista com um macro prazo de resgate. Para os investidores, essa camisa de força representa uma exposição perigosa, acendendo sinais de alerta no mercado.
Uma das razões para essa medida extrema é a proteção do próprio fundo, principalmente de seus investidores minoritários, que poderiam buscar resgatar suas posições diante da flutuação positiva das ações das quatro rubricas de investimento do Esh. A concentração em apenas quatro companhias amplifica a vulnerabilidade do fundo, especialmente considerando a relação hostil que Timerman mantém com as empresas investidas.
Vale ressaltar que Vladimir Timerman enfrenta atualmente não apenas ações criminais e cíveis, mas também participa de arbitragens pesadas. Em 24 meses, o desenrolar desses processos judiciais pode comprometer sua permanência no mercado, especialmente considerando os quatro processos nos quais responde perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Além disso, o Esh agora se depara com ações jurídicas movidas pelas próprias empresas em que possui posições. Timerman é acusado de causar prejuízos às empresas ao promover litígios intermináveis, minando a credibilidade das companhias no mercado. Uma espécie de efeito kamikaze.
Os movimentos contraditórios de Timerman, como a redução de sua participação na Gafisa (GFSA3) de 25% para pouco mais de 5%, indicam uma situação financeira delicada. A decisão de aumentar o prazo de resgate, embora tenha surpreendido os cotistas do fundo, é vista como uma medida desesperada para evitar uma possível debandada de investidores que já perceberam a fragilidade do gestor em entregar rentabilidade.
A Genial Investimentos, em comunicado nesta quarta-feira, recomenda que os acionistas avaliem a manutenção de suas posições no fundo diante do aumento do prazo de resgate. Para um analista na área de regulação do mercado de capitais, a decisão sugere que o fundo está em estado crítico, quase à beira da insolvência.
Segundo a reportagem do Correio da Manhã, os resultados do fundo e a recente decisão de ampliar o prazo de resgate inspiram uma analogia perturbadora: o Esh funcionou como o Flautista de Hamelin, atraindo investidores com promessas de alta rentabilidade. No entanto, agora Timerman busca confinar seus cotistas por 24 meses, enquanto enfrenta 42 processos judiciais, participa de arbitragens intensas e entra em conflito com a CVM. A flauta mágica que encantou os investidores parece agora levá-los a um afogamento financeiro.
A nota destacada por Lauro Jardim em O Globo foca no dilatamento do prazo e destaca a data de 20 de fevereiro como o ponto para escapar do confinamento. Para um advogado familiarizado com o 'modus operandi' do gestor deste micro fundo, Timerman inova ao criar sua própria 'recuperação judicial', mantendo-se blindado dos credores (investidores) e evitando que o Esh (fogo em hebraico) seja consumido pelas chamas dos conflitos que gerou.
