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Economia

Governador Valadares é que agora manda dinheiro aos EUA

Cidade mineira que ficou famosa pelos seus mais de 40 mil habitantes que migraram para a terra do Tio Sam inverte os papis: a crise americana minguou os dlares e agora so os valadarenses que enviam seus reais

Governador Valadares é que agora manda dinheiro aos EUA (Foto: Divulgação)
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Minas 247 - Quem diria, agora são os valadarenses que ajudam a economia americana a sair da crise. Até o explosão da bolha imobiliária no país de Obama, os mais de 40 mil cidadãos da cidade do Vale do Rio Doce enviavam dólares para seus familiares em Minas. Com a crise, o dinheiro inverteu a rota e sai de Governador Valadares para os Estados Unidos.

Leia a reportagem de Paulo Henrique Lobato no jornal Estado de Minas:

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Dinheiro de Valadares salva negócios nos EUA

Governador Valadares – Por muitos anos, o valadarense Izaac enviou dos Estados Unidos, onde mora há duas décadas, boas remessas de dólares para ajudar parentes da terra natal, no Leste de Minas e com 290 mil habitantes. Com o dinheiro enviado, fomentou a economia da cidade brasileira que mais enviou mão de obra para a terra do Tio Sam – estima-se que 40 mil conterrâneos de Izaac rumaram para os Estados Unidos desde 1970. Em 2008, porém, quando a chamada bolha imobiliária fez explodir a crise financeira americana, Izaac não conseguiu mais honrar as parcelas da casa que havia financiado e perdeu o imóvel. “Agora, meu irmão é quem precisa de socorro. A família colocou uma casa de herança à venda, orçada em R$ 350 mil, para mandar parte da grana para ele. Tenho fé que ele vai sair do aluguel”, disse o comerciante Sebastian Fonseca, dono de uma banca de jornais no Centro de Governador Valadares.

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Izaac não é o único personagem de uma história com enredo curioso. Refém por quase cinco décadas dos “valadólares”, hoje Governador Valadares ajuda a recuperar a economia do país de Barack Obama, com moradores enviando, todos os meses, dinheiro a parentes e amigos que foram ganhar a vida na América e acabaram prejudicados pela crise internacional. O Banco Central (BC) não tem dados que revelem a soma das transferências dos valadarenses para os Estados Unidos, mas um levantamento da instituição, elaborado em nível nacional, é indício de que o cenário que hoje domina a cidade mineira se estende por outras no país. Em outubro de 2008, quando estourou a crise americana, os repasses de pessoas físicas de qualquer parte do exterior para o Brasil haviam somado US$ 345,1 milhões. Em fevereiro de 2012, as transferências foram de US$ 136,1 milhões.

Já o envio de dinheiro de pessoas físicas do Brasil para qualquer outro país, em outubro de 2008, somou US$ 33,9 milhões. Em fevereiro de 2012, contudo, esse volume cresceu para US$ 69,6 milhões. A diferença entre as duas planilhas mostra o porquê de o Brasil ser visto lá fora como uma das cerejas do bolo da atual economia mundial. Não foi por acaso que, na última segunda-feira, quando houve o anúncio de que os Estados Unidos terão consulado em Belo Horizonte em 2013 ou 2014, a secretária de Estado americano, Hillary Clinton, definiu o relacionamento de sua nação com o governo Dilma Rousseff como “um dos mais promissores”. A esposa do ex-presidente Bill Clinton se inspirou ainda em outros dados, como os gastos de brasileiros em viagens de turismo aos Estados Unidos, que não param de subir.

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Os turistas brasileiros desembolsaram US$ 3,74 bilhões no exterior nos dois primeiros meses de 2012, valor que, além de ser recorde para o período, representa 20% a mais do que a soma do mesmo intervalo de 2011. Retornando aos repasses do Brasil para outros países, o BC não discriminou a parcela desse total encaminhada ao país de Barack Obama, mas não há dúvidas de que o percentual é alto. “Muita gente de Valadares está transferindo dinheiro para quem foi ganhar a vida nos Estados Unidos”, confirma André Ferreira, presidente da seção municipal da Associação de Parentes e Amigos dos Emigrantes (Apaemig). Ele próprio, recentemente, ajudou o irmão, dono de empresa de pintura de imóveis naquele país, a sair do buraco.

“Vendi uma fazenda por R$ 800 mil e transferi parte do dinheiro, em oito parcelas (totalizando R$ 400 mil), para que ele sustentasse sua família e não deixasse a empresa quebrar. O empreendimento está se recuperando”, disse Ferreira. Não há como estimar a média mensal de transferências como a que fez André, mas seu xará, André Luiz Pinheiro, proprietário da Fitta, principal casa de câmbio de Governador Valadares, garante que a cifra é alta. O empresário diz que, somente na Fitta, o volume mensal de remessas para os Estados Unidos subiu “em torno de 20%” na comparação com 2008. Diariamente, vários moradores o procuram para transferir dinheiro para a América do Norte, como fez Keina Poliane de Andrade, de 29 anos.

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“Enviei quatro parcelas nas duas últimas semanas, que totalizaram R$ 25 mil, para minha cunhada, moradora da Flórida. Ela precisa do recurso para investir em sua empresa, que presta serviços de limpeza em supermercados”, informou Keina, concordando que, ao contrário de décadas anteriores, hoje, boa parte dos valadarenses vai aos Estados Unidos para fazer compras e passear. “Atualmente, 65% dos clientes que encaminhamos para tentar o visto no Rio de Janeiro ou em São Paulo desejam ir à América para gastar dinheiro, passear mesmo. Em outros tempos, esse percentual era de 15% a 20%. O perfil está mudando”, conclui Paulo Guido, gerente da Categoria Turismo, uma das maiores agências de viagens do Leste mineiro.

Mensalmente, 10 ônibus deixam o pátio da empresa com moradores da região ávidos por conseguir o visto americano nos consulados do Rio ou de São Paulo. Mas o presidente da Apaemig lembra que os valadarenses não estão enviando dinheiro apenas para os Estados Unidos. Na década de 1990, quando o governo americano apertou ainda mais o cerco aos imigrantes provenientes da cidade mineira, muitos moradores foram tentar a vida em Portugal, outro país afetado pela crise internacional. Carla Andréia de Oliveira Almeida, que morou no país europeu por seis meses e voltou em 2011, enviou para o cunhado, na última quarta-feira, 500 euros. “Ele precisa do valor para resolver alguns problemas. Ainda não sei se terei de enviar o dinheiro todo mês”, disse a jovem, enquanto passava em frente à banca de Sebastian Fonseca.

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Para o comerciante, que há alguns anos tentou, sem sucesso, ganhar a vida na América, hoje ele só tem vontade de ir aos EUA para visitar o irmão. “Nossa economia está bem melhor. Tenho casa própria e sou dono do meu negócio. O dólar já não vale três ou quatro vezes mais que o real. O que vou fazer lá? Só se for a passeio”, finalizou.

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