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Economia

Governo Lula acompanha de perto a venda da Amil para garantir acesso ao mercado e evitar concentração e conflito de interesses

Empresa de planos de saúde tem 5,4 milhões de usuários e o melhor desfecho para a sociedade é o de maior competição no setor de planos de saúde, sem a entrada de aventureiros

(Foto: Divulgação/Amil | Reuters)
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247 – A venda da Amil, que vem sendo conduzida por grandes bancos de investimento e deve ser concluída nos próximos dias, está sendo acompanhada de perto pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O motivo é o fato de a Amil ser uma das maiores empresas de planos de saúde e odontológicos do Brasil, com 31 hospitais, 28 clínicas e 5,4 milhões de usuários, com forte presença na classe média. Colocada à venda pelo grupo estadunidense United Health Group (UHG), um colosso com receitas anuais de US$ 100 bilhões, a Amil, com faturamento anual estimado em cerca de R$ 27 bilhões, está sendo disputada por seis potenciais compradores, que estão finalizando suas propostas: a família do fundador Edson Bueno (falecido em 2017), que vendeu a empresa à UHG e controla os laboratórios Dasa, o empresário José Seripieri Júnior, que fundou a Qualicorp e a QSaúde (ambas já vendidas), o empresário Nelson Tanure, que entrou no setor por meio da Alliar, o fundo Bain Capital, que já controlou uma operação fundida com a HapVida, o fundo Advent e o fundo Coruja Capital, do empresário Marcio Schettini (ex-Itaú). Estima-se que o negócio, quando concluído, movimentará uma cifra entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões.

Embora seja uma das gigantes da medicina complementar no Brasil, a Amil tem enfrentado problemas crônicos numa de suas unidades de negócio: a de planos de saúde individuais, que, hoje, em razão de uma série de fatores, como a regulação e o envelhecimento da população, deixaram de ser rentáveis – só em 2022 o prejuízo superou R$ 2 bilhões. Um dos motivos foi a falta de oxigenação da carteira, com a queda no ritmo de novas vendas. Outro foi a baixa qualidade gerencial da companhia, administrada a partir de Minneapolis, nos Estados Unidos, onde fica a sede da UHG.

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Lógica financeira contra o modelo médico-assistencial – Uma das preocupações do governo é evitar que esta unidade seja vendida ou revendida de forma isolada para algum grupo que tenha uma lógica apenas financista, e não médico-assistencial de longo prazo, que coloque em risco o atendimento aos usuários num tema de forte repercussão social. Em 2022, mesmo durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) vetou a transferência do controle da Assistência Personalizada à Saúde (APS), que controlava os planos individuais da Amil, para a Fiord Capital, uma empresa financeira pertencente a um empresário sérvio chamado Nikola Lukic. O temor da ANS era justamente o de que a transação resolvesse os problemas da UHG no Brasil e deixasse os clientes dos planos de saúde individuais desatendidos. Um dos pontos destacados na decisão da ANS era a inexperiência da Fiord Capital no setor de saúde, que é extremamente sensível do ponto de vista político, porque afeta diretamente a classe média.

O temor da ANS era justamente o de que a transação resolvesse apenas os problemas financeiros da UHG no Brasil e deixasse os clientes dos planos de saúde individuais desassistidos, uma vez que a transação envolvia também a redução da rede de médicos credenciados e colocava os planos individuais sob controle de um aventureiro oriundo do mercado financeiro. Um dos pontos amplamente destacados na decisão da ANS era exatamente a total inexperiência da Fiord Capital no setor de saúde, o que é algo extremamente sensível do ponto de vista político-governamental.

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Esta preocupação da ANS continua presente e os órgãos reguladores não veem com bons olhos a possível venda da Amil para grupos como a Bain Capital, o fundo Advent ou mesmo a Coruja Capital – o que amplia as chances da família Bueno, do empresário Seripieri e de Tanure. Para o governo é imperativo a experiência do adquirente e seu compromisso com a estabilidade econômico-financeira do sistema e principalmente de estímulo à maior acessibilidade e democratização da saúde suplementar ao brasileiro. O caso que envolvia o fundo financeiro do empresário sérvio, na época, virou escândalo nacional, a ANS vetou e a UHG retrocedeu totalmente naquela sua tentativa.

Quando a Amil foi vendida para a UHG, em 2012, por R$ 6,5 bilhões, a transação rapidamente obteve todas as aprovações regulatórias justamente porque estava sendo vendida para uma empresa do setor de saúde. A UHG é uma das maiores empresas dos Estados Unidos neste segmento e havia a expectativa de modernização do mercado a partir desta transação – o que não aconteceu porque a UHG não assimilou as peculiaridades do mercado brasileiro, especialmente as questões regulatórias. Ao contrário: o mercado de planos de saúde se tornou mais concentrado e milhões de brasileiros deixaram de ser atendidos – uma tendência que o governo pretende reverter, garantindo maior acesso à saúde complementar por parte da população brasileira.

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Conflito de interesses – No caso da Bain Capital, há uma preocupação adicional, que é a presença do executivo Irlau Machado Filho, que construiu sua carreira no grupo Intermédica e até recentemente foi co-presidente do grupo Hapvida, da família Pinheiro, que é também um dos gigantes do mercado de planos de saúde. Embora tenha deixado o cargo, Irlau ainda é acionista relevante do grupo Hapvida – o que aponta para o conflito de interesses. Como o mercado já é concentrado, com poucas opções para os consumidores, o objetivo do governo é que a venda da Amil gere mais concorrência – e não menos, e sempre com cunho médico-assistencial e não apenas econômico-financeiro. Isso cria um obstáculo a mais para a Bain Capital, diante do temor de que sua atuação esteja alinhada com o grupo Hapvida, uma vez que os dois grupos, até recentemente, tinham relação societária.

Após a análise das propostas para a compra da Amil pela UHG, espera-se que a venda seja concluída até o primeiro trimestre de 2024, sob um rígido escrutínio governamental. Fundada em 1978 no Rio de Janeiro por Edson Godoy Bueno, a empresa se tornou uma das maiores do País e abriu seu capital na B3 antes da venda para a UHG. Mesmo sendo deficitária na carteira de planos individuais, a empresa possui ativos valiosos, como seus hospitais, clínicas e planos odontológicos, o que mantém a disputa em alta temperatura. 

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