Indústria ainda mais fragilizada
Ainda há um processo desindustrializante em curso, e daí, pode-se esperar e reconhecer as medidas que o governo vem empreendendo para reanimar as atividades industriais de nosso parque
Os dados referentes ao PIB brasileiro foram divulgados na semana passada, e mais uma vez foram decepcionantes os dados referentes ao desempenho do setor industrial. Na verdade, os dados do PIB apresentaram a evolução econômica do segundo trimestre de 2012.
Dentro das análises comparadas ao primeiro trimestre de 2012, o setor industrial apresentou retração severa de 2,5%, enquanto o agropecuário expandiu espantosos 4,9% e o setor de serviços 0,7%.
Ou seja, ainda há um processo desindustrializante em curso, e daí, pode-se esperar e reconhecer as medidas que o governo vem empreendendo para reanimar as atividades industriais de nosso parque, tentando evitar a paralisia total destas operações e um prejuízo ainda mais grave na economia brasileira.
O setor agropecuário, puxado pelo bom momento da produção de milho, garantiu um avanço robusto quando se comparado ao nível de atividade econômica do primeiro trimestre de 2012. Quando se comparado ao mesmo período do ano passado, a expansão foi de 1,7%. O setor continua pujante, mas precisamos qualificar sua movimentação, o que significa dizer que em alguns campos, há uma defasagem tecnológica que impede uma produtividade e uma geração de valor acima do esperado.
A análise dos dados do PIB confirma o sentimento dos industriários brasileiros de que as pequenas reformas e alterações tributárias referente à desoneração da folha de pagamento, por exemplo, são importantes, mas ainda não estratificam o problema central de nossa economia e principalmente de todos os agentes do setor. Reitero que a promessa de baratear o custo da energia elétrica não chegou ao setor conforme esperado.
Apoiados nestas informações de arrefecimento industrial, o governo reiterou seu compromisso com a guerra cambial, a fim de utilizar-se das mais diversas armas para impedir uma queda da cotação do Real frente ao Dólar, tentando reanimar a competitividade de nossos produtos frente ao resto do mundo.
Em sua apresentação, Guido Mantega lembrou que caso o governo não tivesse monitorando de perto a evolução das cotações da moeda estrangeira, o cenário industrial poderia ser ainda mais desalentador.
Outro dado importante divulgado pelo IBGE e inserido no boletim do PIB é o consumo das famílias, que ainda continua a crescer, tendo aumentado em 0,6% frente ao primeiro trimestre de 2012, e 2,4% quando se comparado ao mesmo período de 2011.
A manutenção da expansão do consumo, mesmo que em um patamar modesto é creditado à baixa do nível de juros bancários, que mesmo em patamares astronômicos, mostraram leve redução. O comércio, com grandes estoques também promoveram liquidações, que ajudaram a manter o nível do consumo positivo.
Soma-se novamente a este dado a força dos ganhos salariais em sua grande maioria acima do índice inflacionário, o que garante um ganho real à massa salarial.
Além deste cenário negativo para o setor industrial, há outro indicador que demanda atenção especial como termômetro das perspectivas econômicas de nosso país: o nível de Formação Bruta de Capital, que é o volume de recursos empreendidos na expansão e compra de equipamento para ampliação de capacidade produtiva. O índice de FBCF apresentou queda de 0,7% quando se comparado ao primeiro trimestre de 2012.
Porém, a grande preocupação recai quando se comparado ao mesmo período de 2011, tendo uma severa queda de 3,7%. Este índice pode ser interpretado ainda como a disposição/expectativa econômica dos empresários em se prepararem para um cenário expansionista, podendo até mesmo antecipar um movimento cíclico.
A idéia é que, quando há uma retração da FBCF, tem-se o diagnóstico de uma queda no volume de vendas e pedidos de máquinas e equipamentos. Logo, o empresário, restringe o nível de investimento, pois não vislumbra uma expansão econômica futura capaz de retornar seu investimento em novas máquinas.
Diante de um cenário tão restritivo para o setor industrial, o governo parece calibrar suas ações para este cenário econômico, restringindo a cotação do dólar ao patamar atual, e já priorizando para o próximo ano um aumento na desoneração produtiva.
A queda da taxa de juros SELIC vem tentar aquecer o consumo, novamente, e via BNDES, o governo objetiva aplacar recursos para o empresariado investir maciçamente em seu negócio, em vias de ganhar com a expansão econômica e elevar a temperatura da economia.
Antônio Teodoro é economista e professor
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