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Inflação sob controle

Há muitos interesses rentistas em jogo que tentarão evitar a queda dos juros. Mas é preciso manter a convicção

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Ante a forte sinalização das autoridades monetárias de que a trajetória de queda da taxa Selic de juros irá continuar, para estimular o crescimento e ampliar o espaço para mais investimentos no país, convém se preparar: o surgimento de eventuais campanhas de alarde em relação a altas inflacionárias não será mera coincidência.

Isso porque há muitos interesses rentistas em jogo que tentarão evitar a queda dos juros. Mas é preciso manter a convicção da importância do corte nos juros e ter a consciência de que a inflação brasileira está, há muito tempo, sob controle. E os números comprovam isso.

No ano passado, as pressões vindas desses mesmos interesses reintroduziram a preocupação com a inflação na pauta nacional. Mas o contexto internacional recomenda priorizar outros problemas e desafios. A título de exemplificação, nos EUA, a situação é tão aguda que os economistas estão preocupados com a continuidade de um processo deflacionário, que perpetuaria as dificuldades de crescimento e geração de empregos.

Aliás, no mundo todo, a principal meta para os próximos anos é retomar o ciclo de crescimento. Por que no Brasil esse é um tema tão recorrente? Há uma explicação psicológica, que se baseia no longo período de corrosão inflacionária da nossa moeda, mas tecnicamente nossas dificuldades estão em outros lugares.

Em março, a inflação caiu a ponto de fazer as estimativas do próprio mercado recuarem para um ponto próximo do centro da meta de 2012 —4,5%. Essa perspectiva se baseia na inflação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado) que caiu pela metade em março, para 0,21%, menor taxa mensal desde outubro de 2010. A queda norteou também as expectativas dos economistas consultados pelo Banco Central para a pesquisa Focus, que reduziram sua previsão para o IPCA de 5,27% para 5,06%.

Uma observação mais apurada do quadro inflacionário certamente compreende oscilações para mais ou para menos, mas dentro de uma margem razoavelmente próxima da meta para este ano. Um elemento a pressionar a inflação será um eventual reajuste de preços dos combustíveis, possibilidade que consta das projeções, mas que pode não vir a se concretizar.

Contribui para esse cenário de estabilidade a política gradual que o Banco Central tem imprimido na economia desde o ano passado. Na época, os alarmes de descontrole inflacionário eram tão frequentes que o BC estendeu o prazo de convergência da meta para além de 2011. Assim, conseguiu reverter as expectativas do mercado, fechar a taxa de inflação dentro da banda do sistema de metas (em 6,5%) e trabalhar com uma inflação mais próxima do centro da meta neste ano. Ou seja, revelou novamente que detém o controle da inflação.

Na realidade, se observarmos nosso histórico das últimas décadas, avaliarmos o contexto atual e projetarmos os desafios futuros, veremos que nosso objetivo maior deve ser manter o crescimento com geração de empregos e distribuição de renda, ampliando os investimentos produtivos e em infraestrutura e dar um salto em Educação, tecnologia e inovação. Esses são os itens fundamentais de nossa pauta na próxima década. A inflação está sob controle e assim se manterá.

José Dirceu, 66, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

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