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      Mantega e Tombini divergem sobre inflação

      Presidente do Banco Central demonstra mais preocupação com alta de preços do que o ministro da Fazenda; segundo Mantega, a tendência natural é de queda

      Mantega e Tombini divergem sobre inflação (Foto: FABIO RODRIGUES-POZZEBOM/ABR )
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      Por Alonso Soto e Luciana Otoni

      SÃO PAULO, 8 Fev (Reuters) - O recente pico da inflação no Brasil não é motivo para alarme, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta quinta-feira, com comentários que sugerem divergência com o Banco Central sobre como lidar com a inflação em alta.

      Em entrevista de cerca de uma hora com a Reuters em seu gabinete em Brasília, Mantega também disse que a recuperação do crescimento será gradual, adotando um tom mais cauteloso em relação as suas bombásticas previsões no passado, que afetaram a sua credibilidade nos mercados financeiros.

      A inflação em janeiro subiu no ritmo mais rápido desde abril de 2005 e chegou a uma taxa anual de 6,15 por cento, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira.

      Mantega disse que a alta foi resultado não de uma forte demanda, mas sim de fatores temporários, como preços mais elevados dos alimentos, e que a taxa de inflação começará a cair em fevereiro.

      "A tendência é da inflação cair" disse Mantega.

      Seus comentários contrastam com uma avaliação mais pessimista do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que levou os mercados financeiras a apostar que o BC poderá elevar os juros antes do esperado.

      Questionado sobre a diferença de tom entre a sua avaliação e a de Tombini sobre a inflação, o ministro respondeu: "Por isso é que nós somos independentes, a opinião dele pode ser diferente da minha".

      As opiniões divergentes têm frequentemente deixado os investidores confusos nos últimos meses, causando volatilidade nos mercados de câmbio e juros, além de levanterem questões sobre quem realmente decide na equipe da presidente Dilma Rousseff.

      Alguns analistas culpam os sinais mistos, e as frequentes mudanças nas variáveis econômicas, como os impostos, por criar incertezas e afugentar os investimentos.

      A maior economia da América Latina deve ter crescido apenas 1 por cento no ano passado, representando uma forte queda em relação às taxas de crescimento de 4 por cento ou mais que fizeram do Brasil uma estrela dos mercados emergentes na última década.

      Em um esforço para reativar a economia, Mantega tem defendido frequentemente taxas de juros mais baixas e um real fraco. O ministro talvez seja mais conhecido no exterior por condenar a "guerra cambial" global e acusar os países ricos de tentarem enfraquecer suas moedas para obter vantagens comerciais.

      O Banco Central surprendeu grande parte dos investidores, e provavelmente até Mantega, ao intervir nas últimas semanas no mercado para levar o dólar abaixo de 2 reais.

      Muitos analistas interpretaram o real mais forte como uma tentativa do BC para conter a inflação, e como um sinal de que a postura mais conservadora de Tombini tem prevalecido sobre a de Mantega. Um real mais forte deixa os produtos importados mais baratos para os consumidores brasileiros.

      O dólar fechou em queda de 0,82 por cento na quinta-feira,a 1,9720 real na venda, a menor cotação de fechamento desde 11 de maior de 2012.

      Olhando para uma grande tela de televisão na parede de seu gabinete que mostrava um gráfico indicando valorização de 4 por cento do real frente ao dólar este ano, Mantega disse estar contente com o recente desempenho da moeda.

      "O câmbio está flutuando mais ao sabor do mercado", disse o ministro. "Flutua sem causar prejuízo ao exportador, não está causando prejuízo ao importador de máquinas e equipamentos. O câmbio encontrou faixa de flutuação razoável", avaliou o ministro.

      MELHORA "GRADUAL" DA ECONOMIA

      Mantega disse que o governo vai continuar intervindo para evitar uma forte valorização do real, e disse que o governo não permitirá que o dólar chegue a 1,85 real.

      A presidente Dilma Rousseff tem tentado equilibrar a necessidade de um crescimento mais robusto com o medo da inflação, que está profundamente enraizado no país que já viu os preços subirem mais de 2.500 por cento há apenas duas décadas. O controle da inflação em 1994 é visto amplamente como o momento em que a economia brasileira começou a deslanchar.

      A inflação esperada para este ano é de 5,68 por cento, de acordo com o mais recente relatório Focus do BC. Mantega disse, contudo, que espera que a inflação no final do ano fique ainda mais baixa que a previsão.

      Mais cedo nesta quinta, Tombini fez uma avaliação distinta sobre a inflação, e disse ao blog da jornalista Miriam Leitão, no site do jornal O Globo, que a inflação no curto prazo preocupa.

      Questionado se seria necessário mudar a política monetária diante do cenário de preços mais elevados, Tombini respondeu que o BC está atento à inflação.

      Mantega foi mais conservador em suas previsões sobre o crescimento econômico este ano. Perguntado duas vezes se a economia cresceria entre 3 e 4 por cento, como ele previu anteriormente, Mantega mudou de assunto e não respondeu.

      Os analistas ouvidos no relatório Focus previram esta semana que o crescimento será de 3,1 por cento.

      "A economia brasileira vem melhorando desde o segundo semestre do ano passado, gradualmente vem melhorando o nível de consumo, vem melhorando certos setores. Então, está em um processo gradual de recuperação".

      (Reportagem adicional e texto de Brian Winter)

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