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Economia

Mantega no País das Maravilhas

Governo brasileiro nega os riscos inflacionários com medidas isoladas e sem efeito

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Certa vez, nos tempos em que ainda era permitido, voltei em um vôo da Varig dentro da cabine do piloto. Perguntei de tudo, mas o que me chamou a atenção foi a aparente sensação de descontração entre os pilotos. Falavam de tudo, menos do vôo. De vez em quando, pelo canto do olho, monitoravam algum instrumento, mas nada que justificasse algum ajuste. “Estamos em piloto automático”, justificou o comandante. “Voamos em céu de brigadeiro, sem nuvens carregadas à frente e nosso próximo check-point está a 2.000 milhas”, complementou o copiloto, que percebera minha inquietação sob o oceano a 33 mil pés em total escuridão.

O fato é que nesta situação o avião voa tranquilamente em piloto-automático, mas é durante uma turbulência, uma mudança de rota, ou a necessidade de alguma manobra que o piloto mostra seu talento; do futebol ao painel de controle em milissegundos; dos fatos às decisões na fração necessária para colocar a aeronave de volta ao prumo.

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Durante anos surfamos as ondas da prosperidade, dos ventos a favor, do céu de brigadeiro, e o Brasil decolou no piloto automático. Vieram as nuvens bem carregadas de 2008 com rajadas fortes, fechamos os flaps e subimos à altitude para novo cruzeiro. E agora precisamos aterrissar de forma suave, com combustível baixo, pouca visibilidade e ventos que empurram a aeronave rumo ao chão. Porém, o piloto ainda age como se pilotasse um planador.

Nos meus mais de 20 anos de mercado financeiro, não me lembro de um momento tão delicado, com tantas situações interligadas prestes a estourar. Sinto-me como o Mário Bros, na primeira versão do Donkey Kong, em que o gorila frenético atira do topo de um prédio barris em direção ao pobre encanador que luta com veemência para desviar das ameaças rumo ao cume e salvar sua princesa.

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O mundo, na nossa analogia, o valente Mário luta para crescer e conquistar um crescimento sustentável de longo prazo. Porém, a cada minuto surgem novos barris e nosso gorila não hesita em atirá-los, com intuito de desaprumar a economia global da expansão. Do problema da impagável dívida soberana dos países periféricos do bloco europeu, dos levantes no Oriente Médio, terremoto no Japão, desemprego nos países desenvolvidos e inflação à alta incessante dos produtos agrícolas, o mundo vai caminhando para desviar com destreza das ameaças ao seu crescimento.

E o governo brasileiro, parte deste imbróglio, vai tocando seu dia a dia, em clara negação dos riscos inflacionários, com medidas isoladas sem efeito, desafiando o mercado e afugentando investidores estrangeiros. Como se houvesse certa esperança de que no final, tudo dá certo, de que Deus nasceu aqui. Enquanto isso, os índices de inflação vão rompendo o teto da meta estabelecida pelo Banco Central e o governo assiste nas arquibancadas a confiança do consumidor esvaindo-se.

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O jogo é o mesmo, mas o nível de dificuldade é muito maior, com mais barris para acertar a cabeça do bravo Mário. Porém, independentemente do barril, cada um individualmente tem o poder de descarrilar o mundo da sua rota de recuperação de crescimento da pior crise financeira desde a Grande Depressão.

O mundo está em um momento complicado e os mercados refletem esta falta de visibilidade. A inflação corre solta e nossos líderes globais vão tomando medidas isoladas, sem coordenação alguma em um mundo globalizado e interligado, em que um ato do lado de lá afeta o lado de cá, quase sempre de forma instantânea. Pelo jeito algum barril ainda vai acertar nosso pobre Mário antes que ele adquira a destreza para enfrentar os obstáculos à frente e salvar sua princesa amada.

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Por aqui, o governo já disse que não cumpre a meta em 2011, mas sim em 2012. O ponto não é o número em si, mas a perda de credibilidade num momento de tantas dúvidas. Credibilidade traz investimentos de longo prazo e consumo. Um aumento substancial das expectativas inflacionárias afugenta tanto o capital de longo prazo como o consumidor, ambos os alicerces essenciais para nosso crescimento. Infelizmente, parece que a economia brasileira vai piorar antes de voltar ao seu prumo. A incoerência matemática de querer controlar a valorização do real ao mesmo tempo em que se tenta domar a inflação por meio do aumento de juros, mostra a falta de coordenação e excesso de confiança que rege nossa Fazenda e Banco Central.

Fica difícil ser um otimista num mundo tão conturbado em que os preços dos alimentos e da principal fonte de energia estão em patamares elevados e sem perspectiva de alívio num horizonte visível. O cenário é delicado e precisamos ser muito seletivos nos nossos investimentos. Não há como ficar imune às volatilidades inerentes da falta de visibilidade.

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Nos dias de hoje vamos gerir como pregam os textos clássicos do Tai Chi Chuan: Vencer o movimento através da quietude (Yi Jing Zhi Dong) 以靜制動; Vencer a dureza através da suavidade (Yi Rou Ke Gang) 以柔克剛; Vencer o rápido através do lento (Yi Man Sheng Kuai) 以慢勝快.

E, com isso, vamos colher os frutos da paciência e da perseverança naquilo que conhecemos e acreditamos. O dinheiro sempre persegue os bons investimentos e sabemos que conforme nossas empresas forem divulgando seus resultados vamos nos beneficiar. Há liquidez abundante de capitais no mundo e o Brasil tem grandes oportunidades. Isso se o governo não atrapalhar.

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