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Menos um banco

A forma como o BC monitora os bancos médios e suas evoluções vêm minimizando problemas como o do Cruzeiro do Sul, mas não podemos descartar mais bancos pequenos e médios com problema de liquidez

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O sistema financeiro nacional passou por uma última semana bastante particular. A liquidação do Banco Cruzeiro do Sul não era o caminho mais aguardado pelos grandes players do mercado bancário. Esperava-se um desfecho mais ameno, com a venda de sua posição para outro banco e a continuidade das operações, beneficiando assim a carteira de clientes do banco e mantendo a total credibilidade sobre os bancos pequenos e médios.

O Fundo Garantidor de Crédito, mais conhecido pelas suas siglas, FGC, tentou captar no mercado interessados oferecendo uma linha de crédito atrativa para os banqueiros que se interessassem (com juros atrelados ao IPCA). Não obteve sucesso.

Infelizmente, o processo não ocorreu, e seus milhares de clientes com aplicações acima de R$ 70 mil reais por CPF não terão seus compromissos honrados, sem contar aqueles que apostaram nas ações do banco comercializadas pela BOVESPA também deverão arcar com o prejuízo da liquidação do Banco.

O pagamento destes acionistas apenas ocorrerá caso o patrimônio do banco supere os prejuízos e perdas, fato que dificilmente ocorrerá devido à precária situação do Cruzeiro do Sul.

Sobre a credibilidade dos bancos de pequeno e médio porte, ela já vem sendo fonte de atenção do Banco Central desde o problema no Banco Panamericano, mas reitero que ainda não estamos em um momento de alarmismo e perda de confiança nestas instituições em todo o Brasil.

Paralelamente a isso, e sob outro contexto, o BC relaxou o recolhimento dos depósitos compulsórios das instituições bancárias. Em sua nota, trouxe a seguinte redação: a alíquota adicional incidente sobre os depósitos à vista foi reduzida de 6% para zero. Em relação ao depósito a prazo, a alíquota adicional foi reduzida de 12% para 11%, e surtirá efeito a partir de 29 de outubro de 2012.

Para alguns, esta é uma medida que se baseia em dois pontos: o primeiro, que ajuda as instituições de menor porte, como os bancos médios a terem mais capital disponível para empréstimo e amenizam a agonia que tais instituições se viam em alguns casos no mercado interbancário.

Em um segundo momento, não menos importante e estratégico, objetiva-se uma injeção de mais capital na economia brasileira para alavancar o pífio crescimento econômico. Mas o que significa isso na prática e para todos?

O relaxamento do volume de recursos que ficariam depositados junto ao BC para que em caso de problemas no sistema financeiro não se tenha uma perda e uma posição descoberta, sem dinheiro físico, faz com que os bancos tenham mais dinheiro livre para emprestar, para movimentar o giro econômico, ampliando suas posições.

Esta conta de disponibilidades de recursos entra na equação dos juros no momento em que o banco passa a dispor de mais recursos para empréstimos, reduzindo o custo de captação financeira, uma vez que ele poderá "colocar mais dinheiro para capitalizar".

Para a economia, o governo novamente tenta destravar o crédito, seja via baixa das taxas de juros conforme vem posicionando a Caixa Econômica e o Banco do Brasil seja via agora a alteração do nível de compulsório.

Especula-se que tal medida injetará em torno de R$ 30 bilhões de Reais no mercado interbancário, reforçando ainda mais a política expansionista de crédito e juros baratos, incentivando o consumo no movimento seguinte.

Logo, dentro de um cenário que para muitos pode parecer severo devido ao fechamento de mais um banco, (6º banco com severos problemas de liquidez), pode parece paradoxal esse relaxamento das amarras monetárias.

Explica-se este fato a forma como o governo vem assumindo posições de risco, confirmando o discurso da Presidenta Dilma de buscar mais crescimento econômico, mesmo que isso custe um pouco mais de inflação.

O maior problema deste posicionamento monetário mais flexível é que esta política não pode vir de forma única, isolada. Reiteradamente estamos mudando o patamar da política econômica, e sem um ajuste fiscal não poderemos alcançar os objetivos propostos pelo governo.

A liberalização de mais recursos na economia poderá se transformar em mais endividamento familiar, em mais comprometimento da renda, mas que isso poderá gerar mais ganhos na economia.

A forma como o BC monitora os bancos médios e suas evoluções vêm minimizando problemas como o do Cruzeiro do Sul, mas não podemos descartar mais bancos pequenos e médios com problema de liquidez, que com absoluta certeza terão uma participação mais direta do FGC para que se evite o fechamento de mais bancos.

Antônio Teodoro é economista e professor

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