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Mercado de capital: km zero

O capital economizado na conta de energia deve ser destinado agora a novos investimentos, ampliação de linhas produtivas e geração de empregos

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O governo federal enfim anunciou a mais esperada medida de incentivo produtivo ligado ao setor industrial: redução do custo de energia elétrica. À população, em geral, pode ter ficado uma idéia de que os produtos terão sua precificação reduzida, indo assim as medidas muito além da redução dos 16% nas contas residenciais e tendo um ganho geral também pela redução do preço dos produtos.

Sinceramente, não acredito que tal medida ocorra e este também não é o objetivo da redução da conta de energia. O objetivo central do governo é um movimento de rebaixamento do custo Brasil, o custo de se produzir, que é carregado de imperfeições competitivas e modorrentas alíquotas de impostos. O capital economizado na conta de energia, deve ser destinado agora a novos investimentos, ampliação de linhas produtivas e geração de empregos.

Além disso, baseado em um cenário com baixo índice de crescimento econômico, o governo reiterou, via ata do COPOM, sua justificativa de baixar a taxa de juros e se distanciar do centro da meta de inflação, em prol, é claro, do crescimento econômico e buscando, conforme palavras da presidenta em seu pronunciamento na última semana, reforçar um novo modelo de crescimento, rompendo o tripé básico de sustentação e se focando em competitividade.

O crescimento econômico passa pelo caminho da exportação e conta com o poder de fogo da indústria brasileira e o ganho de competitividade junto ao resto do mundo para trilhar seu caminho de sucesso. Além da ampliação do consumo das famílias e fortalecimentos das entidades nacionais, esperamos ganhos qualitativos, e níveis de juros mais racionais.

Analogamente a estes movimentos ligados ao lado real da economia brasileira, não podemos deixar de perceber uma alteração no perfil de investimentos e alteração da cadeia de produtos financeiros que alguns bancos vêm ofertando a sua gama de clientes.

Com a queda referencial da SELIC, alguns investimentos de renda fixa estão perdendo sua rentabilidade, muito em função dos níveis de tributação que corroem o retorno em curto prazo e também às altas taxas de administração ou desempenho cobradas pelos bancos.

Produtos que até então não estavam ao acesso em sua maioria da população, como os LCI e os fundos de investimento imobiliários vêm ganhando adeptos devido a suas potencialidades de retorno.

É importante ainda ressaltar que muitos CDBs estão perdendo competitividade quando se comparados a Poupança, perdendo recursos para a forma mais tradicional de investimentos do Brasil, que, mesmo após as mudanças de sua remuneração, não se abalou frente ao mercado e muito menos passa por uma crise de captação de recursos, tendo na verdade recorde de depósitos no último mês.

Logo, o governo observando as variações do mercado financeiro, já estuda incentivar um modelo de renda variável pautada nos investimentos a longo prazo, conscientizando o brasileiro a poupar via compra de ações de empresas listadas na bolsa de valores, dinamizando o mercado acionário, agregando novos "consumidores" a um mercado tão incipiente e dando capilaridade aos bancos para manobrar novos produtos financeiros.

Ressalto que a manobra visa bonificar o investidor de longo prazo e expurgar os aventureiros e especuladores do mercado de capitais, ampliando o mercado interno com participantes brasileiros.

O programa, digo, a proposta que o governo começa a desenhar junto aos bancos passa pela intenção de alterar parte do perfil de renda fixa que o brasileiro tem, obviamente ligado as experiências do passado em nossa formação econômica, que se baseava em índice de over night altos e sem o risco de calotes/rombos conforme já tivemos registro e demonstrar as oportunidades de ganhos do mercado variável.

Outra ação para popularizar, e no sentido agora não de simplesmente baratear o acesso ao mercado de renda variável, o governo aposta na criação de uma nova Bolsa de Valores, não afirmando que a BM&F Bovespa esteja operando de forma inapropriada, mas buscando dar uma competitividade ao setor e atraindo investidores institucionais para a nova bolsa.

Outro ponto a se destacar em um cenário com taxas de rendas fixas menores é a possibilidade do lado real da economia capitalizar recursos através deste canal a um custo muito baixo.

Agrega-se ainda ao modelo que se propõe fortalecer o mercado acionário é a vontade do governo de reduzir as manobras de especulação frente a nossa economia e nossas divisas. Logo, significa dizer que, criando-se um mercado interno de ações apoiado nas premissas de crescimento a longo prazo, juros baixos, inflação moderada e instituições fortes, o povo brasileiro pode confiar no mercado de ações e aportar ali recursos que garantam sua aposentadoria, diluindo os recursos volantes de especulação externa.

O caminho para tal situação é longo, principalmente quando comparamos o viés de queda do número brasileiros operando na bolsa e o volume de recursos que entram em nosso país para especular na BM&F Bovespa.

Esta alteração do perfil de investimentos incentivados pelo governo é satisfatória para todos os lados e sob uma análise flexível. Pode-se partir de algumas premissas: abre-se janelas de oportunidades para os empresários que vêem no mercado de capitais  fonte de recursos a custo muito baixo, e acessível.

Ganham também os bancos que podem operar nas duas pontas, assessorando os empresários no processo de abertura de capital e também ganham com a formatação de produtos de investimento que possam rentabilizar de forma positiva seus clientes, diversificando sua oferta.

Complementa-se (fator central) a este giro econômico, o cliente, que pode rentabilizar acima da inflação e assim obter ganhos reais, além de esperar por pagamentos de dividendos e agregar valores a sua renda mensal, sob um guarda chuva de investimento mais diversificado e seguro.

Mesmo que o cenário possa parecer extremamente salutar, o caminho a ser traçado pelo governo federal deverá incentivar uma educação financeira consciente e uma organização jurídica muito rígida, impedindo manobras que possam prejudicar a economia popular e jogar na sarjeta as potencialidades do Mercado de Capitais.

O novo fôlego dado a capitalização das empresas também é visto como alternativa ao modelo atual de imposição de crédito via BNDES, desafogando parcialmente o caixa do banco que deve seguir projetos de maior interesse nacional.

A modernização das relações financeiras é sempre bem vinda em qualquer nação, principalmente quando se está ligado ao mercado de ações, que indubitavelmente funciona como uma variável antecedente aos ciclos econômicos. Ampliar a opção do brasileiro é indiscutivelmente importante, mas não se pode descolar o lado monetário, financeiro da economia do lado real, da produção e se esquecer das reformas a serem feitas.

Antônio Teodoro é economista e professor

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