Novas ideias
A eleição de um novo governante para a França, e com uma linha de condução econômica divergente da anterior, representa uma mudança nos discursos europeus e abrirá no mínimo mais possibilidades de atuação
A economia mundial teve uma importante variável alterada. A confirmação da eleição de um novo governante para a França, e com uma linha de condução econômica divergente da anterior, representará uma mudança nos discursos europeus e abrirá no mínimo mais possibilidades de atuação.
A priori, a Alemanha geria e tomava todas as decisões praticamente de forma unânime e impositiva, sem questionamento ao modelo de austeridade que se buscava implementar. Em coro, acompanhavam França, Itália e outros países do centro europeu.
Agora, espera-se que o governo de Berlim tenha pelo menos um contraponto, e essa contraposição será extremamente salutar para aliviar as tensões econômicas na Europa. Vamos às argumentações.
A tomada de decisão de se buscar uma austeridade firme, sem deixar margem para endividamentos e devaneios populistas, é importante e teve seu momento. A Alemanha, possui em sua formação cultural e econômica a necessidade de controle, a condução de uma política austera, principalmente nos momentos vividos pós guerra.
Os fantasmas da fome e da hiperinflação alemã são frequentes, e a disciplina do governo do Bundestag é quase inerente ao seu povo. Basta observar como os bancos alemães se comportaram por um tempo durante a farra dos títulos de subprime.
As maiores instituições deste país não acreditavam que pudesse ser feito a tramóia como foi realizada pelas instituições estadunidenses, que atuaram em um mercado de omissão de seu banco central e de suas autoridades monetárias.
François Hollande promete oxigenar a discussão no continente europeu, trazendo contraposições positivas a estratégia macroeconômica que atualmente vem sendo encontrada. Não se pode vencer a crise européia com uma austeridade tão dura quanto a Alemanha pede.
Talvez, a motivação de se buscar essa austeridade não seria para a solução da crise econômica, e sim a contenção de pendências dos governos europeus, que poderiam demandar mais recursos do fundo de salvamento do Banco Central Europeu, o que obrigaria a Alemanha a gastar bilhões em ajuda aos outros países.
Ou seja, o governo de Ângela Merkel não estaria preocupado em solucionar a crise econômica, em reaquecer as atividades produtivas, e sim impedir um colapso dos países, tratando-os como instituições, evitando que novas operações de "subsidio" ocorram como na Grécia.
A Espanha já é de fato a nova preocupação da situação econômica, principalmente seu sistema bancário que hoje já opera com extrema dificuldade e baixa liquidez. O rebaixamento pelas agências de risco fez o valor das ações dos bancos espanhóis derreterem.
Como se isso ainda não fosse importante, a turbulência quase eterna que a Grécia se coloca provocou nova preocupação com os comandantes da Zona do Euro. Há possibilidade de o país sair da União Européia, retomar sua moeda e tentar se restabelecer com medidas econômicas focadas na exportação.
O problema reside exatamente no momento em que a Grécia sair da União Européia. Hoje, as atividades de custeio da máquina pública grega é toda praticamente custeada por uma "mesada" paga pela União Européia via Banco Central Europeu. A Grécia nestes últimos anos perdeu 20% de seu PIB e está paralisada.
Enfim, haverá uma nova discussão sobre a forma como se vem tratando a crise européia. A entrada de novas idéias tende a favorecer o debate, e com certeza poderá flexibilizar algumas ações de austeridade. A França possui força econômica e política para propor novos caminhos à ortodoxia alemã. Resta saber como isso será recebido pelos membros europeus.
Antônio Teodoro é economista e professor
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