Novo patamar da Selic
Mesmo sem unanimidade em sua baixa, o Copom ratificou a política econômica de expansão ao crédito e liberalidade no consumo das famílias. Informou também que podem-se ter chegado ao final os cortes na taxa básica de juros
Na última semana, o governo federal, via Banco Central e o Comitê de Políticas Econômicas, realizou mais uma baixa na taxa de juros SELIC, trazendo-a para um patamar de 7,25% ao ano e emitindo mais algumas mensagens ao mercado.
Mesmo sem unanimidade em sua baixa, o COPOM ratificou a política econômica de expansão ao crédito e liberalidade no consumo das famílias. Informou também que podem-se ter chegado ao final os cortes na taxa SELIC.
Dentre as mensagens, destaco a primeira como sendo a existência de um ciclo expansionista muito claro, que cresceu até chegar ao seu ponto mais alto nesses últimos meses, com mais crédito, maior consumo e uma elevação dos índices de inflação, que reiteradamente já não se postam como os principais pontos de atenção do governo e concretizam o objetivo da presidenta em atuar no país um índice de juros alinhado ao resto do mundo, mesmo tolerando um nível de inflação acima do centro da meta.
Estimular o consumo das famílias via impulsão do crédito com a baixa de juros foi a ferramenta utilizada para não deixar a temperatura da atividade econômica nacional baixar, mesmo que isso tenha custado uma briga hercúlea com o sistema bancário e sacrificado os resultados dos bancos alinhados ao governo, como Caixa Econômica e o Banco do Brasil.
A luta agora, mais do que nunca, sem as armas de baixar a SELIC, apontará para as taxas cobradas pelos bancos, com mais pressão do lado do governo e tentativa de forçá-los via concorrência de mercado a baixar suas taxas.
A escolha pelo crescimento econômico (mesmo que ainda tenhamos apresentado números pífios), mesmo a um custo inflacionário, estava clara e vem seguindo o caminho ditado pelo governo. Porém, alguns fatores externos começaram a preocupar o andamento econômico, como o relaxamento monetário do governo estadunidense que ainda não conseguiu retomar o nível de emprego e renda aos patamares mínimos.
Outro ponto é a preocupação sobre a política fiscal descompromissada que o governo federal vem utilizando. Para alguns setores da economia, esta nova baixa da taxa SELIC não veio em um momento ideal, visto que pode aumentar ainda mais os números da inflação.
Sobre a política fiscal, há necessidade no governo de acabar com sua contabilidade social criativa, que inverte resultados, altera o ponto referencial e manipula os dados para que, por exemplo, o resultado das metas fiscais sejam alcançados via superávit primário. Debite este mundo de manobras na conta do Ministro Guido Mantega, que parece querer escrever um manual de economia criativa.
Reiteradamente, o governo se esquece de fazer sua parte na condução econômica de nosso país, com gastos de custeio crescentes e ausência de eficiência. Mesmo que tal argumentação possa parecer datada, é de fundamental importância para uma coesão na política econômica que o braço fiscal esteja em plena organização, evitando soluços e sobressaltos, que apenas prejudicariam o caminhar econômico.
Com esta baixa da SELIC, os investimentos de renda fixa que possuem rendimentos atrelados ao valor da taxa referencial continuaram a perder rentabilidade, fazendo com que mais uma vez tenhamos atenção sobre as taxas de administração e outras taxas cobradas pelos bancos sobre seus produtos de investimento para que a aplicação financeira não retorne abaixo dos níveis de poupança.
Algumas alternativas surgem, destacando os fundos imobiliários. É cedo ainda para se preocupar, porém, os eventos recentes da crise econômica mundial mostram que, caso haja um aumento significativo do interesse por estes fundos, suas captações tenderão a aumentar. Logo, inflados, as aplicações se materializarão em mais imóveis, que, comparados aos investimentos de baixo retorno de renda fixa, se tornam alternativas vantajosas de investimento. Surge aqui uma oportunidade de ganhos.
Com o passar do tempo, prejudicados por especuladores, o mercado pode se descolar da realidade, uma vez que haverá um excesso de demanda sobre a construção de imóveis e valorização de suas construções inflará o patrimônio dos fundos e, por conseguinte a rentabilidade aumentará para os investidores.
Caso o ciclo mude, entrando em uma onda de baixa, com alto comprometimento das rendas das famílias, os financiamentos poderão cessar, e um movimento de desvalorização imobiliária poderá nos atingir, reduzindo o patrimônio das famílias, que permanecerão com financiamentos altos e impagáveis, sem lastro para a cobertura da dívida.
Reitero que este cenário brevemente descrito no Brasil ainda não está desenhado e temos instituições fortes que controlam a evolução do setor. Porém, temos alguns traços rascunhados, como por exemplo, da supervalorização dos imóveis em algumas cidades e o volume crescente de crédito que compromete a renda das famílias acima do tolerável, que paga juros sobre um patrimônio que tem seu valor inflado.
A situação de descolamento da realidade imobiliária descrita já ocorreu em outros países, e não podemos permitir que ocorra da mesma forma no Brasil. Também não podemos debitar a parcela especulativa apenas nos fundos de investimento imobiliários. Acredito que não chegaremos a um colapso como o ocorrido nos EUA, mas correções deverão existir nos próximos anos.
Neste cenário de juros baixos, os investidores irão canalizar seus recursos para onde a rentabilidade for maior, e o passado recente demonstra que o destino mira o setor imobiliário, inflando seus resultados.
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