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Economia

O Pará, unido, jamais será vencido

Dividir para governar não é o caso. Se o Pará vai mal, com toda a riqueza mineral, a solução é banal, pois basta ser racional na opção eleitoral cobrando pela falta de vergonha na cara de cada animal político

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O Brasil é uma Federação, composta de 27 Estados. Seu passado evoluiu de Pindorama, Terra de Santa Cruz, das 13 Capitanias Hereditárias, à Colônia do Brasil, o Império e à República dos Estados Unidos do Brasil e hoje o nosso Brasil, Estado Federativo. Do qual temos orgulho no geral e vergonha no particular.

O País é a pátria composta de seu território continental, o solo, as ilhas e o mar até o limite nacional, incluído os recursos naturais, como as florestas, matas, cerrado, campos, catinga e os recursos minerais, inclusive os lagos, rios e quedas d´água, com potencial hidrelétrico. O patrimônio humano era o aborígene que teve de dar lugar à civilização, na marra, com a miscigenação do indígena com o escravo africano e o imigrante europeu, ou as castas puras. Posteriormente recebemos os árabes, os asiáticos e gente de muitas regiões do globo.

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Em quinhentos anos, malgrado a dizimação dos índios e de grande parte da vegetação, a par do malbaratamento dos recursos minerais, baseado do aproveitamento do capital primitivo, construímos uma nação, com uma única língua e interessantes dialetos, que a televisão e a emigração estão eliminando. De sul ao norte cada estado possui um tipo muito característico. O gaúcho é conhecido de longe pela voz carregada, a pilcha, com o lenço, bombacha, chapelão, a faca na bota e a cuia do chimarrão. O catarinense, o paranaense, o paulista, o carioca, o capixaba, o mineiro, o baiano, pernambucano, o alagoano, sergipano, o potiguar, o pernambucano, o cearense, o piauiense, o maranhense, o amazonense e os demais conterrâneos, cada um tem sua história, mas somos todos irmãos.

As tradições do seu estado natal contribuem na formação do cidadão e cada estado com suas glórias são os motivos de orgulho de cada patrício. Por isso não devemos quebrar os laços de nossa origem. A farroupilha, a florianada, a revolução paulista de 32 – constitucionalista –, a guerra de canudos baiana e a sua sabinada, a balaiada maranhense ou a cabanada paraense ou a Guerrilha do Araguaia são lutas libertárias ou de contestação.

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As saúvas e os políticos

Ora, vamos ser sinceros ao menos uma vez na vida, tal qual o ditado: ou o Brasil acaba com a formiga ou a formiga acaba com o Brasil, ou seja, os políticos mudam ou eles acabam com o Brasil. Os territórios do Amapá, Roraima e Acre viraram estados. Não precisa apontar muito estudos estatísticos para ver que estas unidades da federação, muito embora nelas tenha sido injetado pela União tanto dinheiro a fundo perdido, o processo político, para dizer o mínimo, é “curioso” ou “esquisito”. José Sarney é o patriarca do Maranhão e Senador pelo Amapá, no melhor exemplo do toma lá da cá. É de dar vergonha ao historiador. Está na memória de todos os escândalos de parlamentares e governadores nesses jovens estados. Nestes dias o magnífico Reitor da Universidade Federal da Rondônia teve de pedir demissão devido a problemas de prestação de contas em verbas de consumo. A Sudam é um projeto de triste memória igual à rodovia Transamazônica. Goiás e Mato Grosso foram divididos e por outros motivos viraram fronteiras agrícolas, mas com problemas sérios ambientais e não estão imunes aos escândalos de administração pública.

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A falácia da divisão

Então, é uma falácia dizer que a divisão territorial traz o progresso. Não erra quem afirma que aumenta as despesas públicas e as facilidades de sinecuras. Além de o cidadão perder parte da sua identidade e da sua história. Como um baiano irá se sentir e se chamar quando e se for criado: o Estado do Luiz Eduardo, das Barreiras ou do São Francisco?

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Da Capitania Hereditária, parte deu a Província do Grão Pará que resultou no Estado do Pará. Parece que não mudou nada, pois a luz das últimas eleições, no fundo tem ocorrido um ciclo, com retornos periódicos, que faz lembrar o regime das capitanias hereditárias. No lado político econômico histórico geopolítico, há fatos e fatos como marcos dos paraenses das cabanadas, do tucupi, do tacacá, do carimbó, da castanha, do búfalo da Ilha de Marajó, da borracha, da Fordlândia, do Projeto Jari, da Corrida do Ouro do Tapajós, da Província Mineral de Carajás, do Garimpo de Serra Pelada, da Indústria do Alumínio, Siderurgia, Usina de Tucuruí e agora a de Monte Belo, da Guerrilha do Araguaia e do boi de pasto, que come a floresta.

Se com toda essa riqueza o Pará unido não conseguiu melhorar, não é com a divisão que vai se conseguir aumentar o índice de igualdade da população, que não respeita o meio ambiente, cuja mata parece que foi abandonada pelo Curupira. Então, caso o Estado do Pará seja retalhado como se fosse dividir o butim entre três novos coronéis, a situação vai é piorar.

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Alguém no Brasil acredita mesmo que uma vez dividido os estados vão fazer a revolução da selva? Vai achar o Eldorado a cidade de ouro perdida na Amazônia? Novas capitais, novos palácios de governo, legislativo e das cortes de contas e da justiça. Dois novos senadores, em cada unidade, talvez possa justificar construir uma nova concha convexa em Brasília, para abrigar valorosos tribunos e quem sabe outro anexo ao parlamento para mais 16 nobres deputados no início, mas logo as bancadas deverão engordar.

Projeto nacional

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Não, não e não paraenses, o Brasil não suporta tanta impunidade e desperdício. O problema, meus conterrâneos, será que ninguém, que possa votar, não vê, ao primeiro olhar, que é possível enxergar eficiência e moralidade com a coisa pública. Qual é o projeto para o Brasil? Qual é o projeto para o Pará ou as partes? É preciso mesmo repartir o Estado do Pará, pois na matemática, a soma das partes não é maior do que o todo? Então uma parte fica com o Jader Barbalho, Carajás com alguém do grupo Mutran ou outra oligarquia de Marabá e o Tapajós com qualquer tapado ou esperto... Bela divisão! Nem é boa na geográfica, já que divide pelo rio não pelo divisor de águas; na política, pois nem as tribos indígenas serão respeitadas; ou, na economia, com partes desiguais na riqueza.

Os polos minerais

Os Polos de mineração, tão almejados pelos paraenses, correm o risco de divididos, os tapajós ficarem pelados, a ver navios, assim como o Amapá, que ficou sem a Serra do Navio, que os verdadeiros navios levaram para o mundo. O mesmo sucede com Carajás.

Conheço o grande estado uno do Pará de avião, de barco e a pé pelas longas caminhadas nas picadas na floresta. Assim devo muito a este querido estado pela minha formação. Foi lá que comecei minha vida profissional de geólogo em 1969, quando da descoberta da Serra de Carajás. Eu, paulista, fiz o inverso dos colegas paraenses que indicados pelo Professor Dias vieram em 1964-65 a São Paulo estudar geologia para depois voltar para ajudar a desenvolver o Estado do Pará. Era um unido grupo de 8 bons alunos. Dois fizeram carreira universitária na Unicamp e todos quando estudantes, moradores no CRUSP- Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo - jovens meio alienados, um deles da “opus dei”, tiveram intensa vida politica estudantil, com muita cana. Apenas um filho prodígio voltou ao Pará e foi trabalhar com a água, abundante.

Em Serra Pelada, em um lustro, foram extraídas na unha e na raça de um bamburro, na grota da fazenda de meu amigo Cristiano, 100 toneladas de ouro por um exército de 60 mil descamisados, que daria um quilo por garimpeiro, mas mal distribuído, não sobrou nada, além da cava de 500 m por 320 m e 120 metros de profundidade e talvez a mesma quantidade de mercúrio queimada ao ar livre que subiu ao céu e voltou à terra, contaminando o solo, as águas e a cadeia orgânica. A lavra garimpeira, a céu aberto, foi abandonada devido à impossibilidade de aprofundar, sem risco de desmoronar. Em 2010 a lavra foi retomada para ser feita em operação subterrânea mecanizada, por meio de um milagre ou artifício legal. A reserva de ouro Serra Pelada, conforme as pesquisas por sondagens já comprovaram, é de 33 toneladas de ouro, no mínimo. Entretanto pode conter igual quantidade do ouro extraído ou muito mais. É a maior concentração de ouro localizada no planeta. O Brasil, no “Ciclo do Ouro” que durou 150 anos, produziu ao redor de mil toneladas do metal, mas escavando grande parte do território. Enquanto em Serra Pelada, num único buraco, os “desclassificados do ouro” arrancaram, em pouco tempo, mais do que 10% daquele período áureo.

Carajás virou a maior mina de ferro do mundo, com outros metais associados, mas parece que nem é do Brasil. Vai minério e volta em forma de alguma bugiganga ou chapa de aço em forma de agente poluidor que nos mata, o automóvel.

Então, meus amigos paraenses, em nome do que sei e conheço da vida, do meu querido Pará e do Brasil, não é dividida, sem identidade, que a região vai progredir. A mineração pode de fato ser polo de desenvolvimento. Antes da descoberta do manganês do Amapá (que já acabou, em menos de 50 anos e ficaram apenas os buracos) nem nós técnicos acreditávamos no potencial mineral da Amazônia. Não havia bons indicadores e nós geólogos pensávamos que na bacia amazônica o ambiente não era propício à formação de grandes jazidas minerais. A região era ínvia, tudo dava errado, mas a borracha legou um belo Teatro na selva.

A descoberta de Carajás

A descoberta de Carajás mostrou o subsolo rico, que estava escondido, pelas rochas alteradas, devido ao intenso processo de intemperismo tropical. A partir de Carajás, logo após da descoberta do estanho da Rondônia, do ouro dos garimpos do Tapajós, surgiu a bauxita de Oriximiná, o Caulim do Rio Capim e o ouro de Serra Pelada e outros minérios. Foi sendo montado o esquema de desenvolvimento da Amazônia baseado nos Polos de Mineração. Este pode ser o caminho do desenvolvimento sustentado. Está provado que derrubar a mata não é bom negócio em médio prazo! Não deu certo exportamos energia barata na forma de alumínio, ferro em natura, cobre em forma de concentrado, estanho na forma de minério. O manganês acabou e a siderurgia do polo de Carajás é feita com carvão vegetal. Se não mudar logo o estanho acaba, o garimpo o contrabando não deixa nada além da marca, qual cicatriz aberta na mata, o alumínio, com energia subsidiada, perde o efeito econômico e transforma-se por ai em nosso prejuízo.

A floresta dando lugar ao boi, já é possível ver as patas compactando o solo, com a degradação, as erosões e os problemas climáticos. A falta de adubação fará o que o café, a cana e boi fizeram em São Paulo, um imenso canavial.

As guerras de libertação e os movimentos separatistas

Paraenses na guerra a lição número um é dividir para governar. Um Estado do Pará unido pode vencer melhor, com um plano estratégico. Dividido vai aumentar a bandalheira e as despesas com pessoal e prédios para a burocracia, com perda de identidade e multiplicação de órgãos, que se fossem eficientes à estrutura existente, bastaria.

Patrícios lembrem-se da Cabanagem. Foi o mais autêntico movimento libertário e separatista republicano do Brasil Colonial, na Regência Feijó contra os desmandos do Império. Entre 1833 e 36 a Cabanagem foi talvez o melhor exemplo de luta e de união dos liberais da cidade com os despossuídos das cabanas contra o absolutismo imperial, na Regência de Feijó, praticado pelo Ato-Adicional de 1834. A população ativa do Pará, 100 mil pessoas, é de pasmar, 40 mil foram chacinados em nome da união do Império. Foi a maior e verdadeira luta popular pela emancipação política nacional. No Maranhão, a luta escrava e o branco algodão carregado nos balaios provocaram a Balaiada. Na Bahia, pela autonomia da Província, a luta mais elitista, com menor apoio popular, provocou as Sabinadas. No Rio Grande do Sul, a revolta deu a Guerra dos Farrapos.

Agora mesmo, o Rio de Janeiro, com muito alarde, colocou nas ruas 150 mil cariocas gritando o “Petróleo é nosso”, quando por causa da luta de Monteiro Lobato, o Petróleo é do Brasil. Nem é bom imaginar o povo de cada estado saindo nas ruas gritando contra a corrupção e em defesa de um produto local. Somos uma federação e nenhum estado pode viver sem o outro. Não precisamos de mais estados, mas sim de política de desenvolvimento nacional.

Coragem paraense e vamos unidos repudiar a maior divisão do território do Brasil. Não vamos nos dividir. Falta é vergonha na cara, em vez de mais estado, que deveria ser mínimo.

*geólogo e jornalista, ex-professor da USP – Universidade de São Paulo e da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais; foi presidente da CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz.

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