O que está acontecendo com a Petrobras?
Estatal surpreende mercado mais uma vez com redução de 1,5% na produção de petróleo em junho sobre maio; caiu em 4,9% a extração de gás natural no exterior; plano de negócios, na semana passada, também derrubou projeções sobre barris/dia até 2020; até onde foram as superavaliações?
247 – Pelo gigantismo, nunca foi fácil entender os meandros da maior empresa brasileira, a Petrobras, mas o momento é especialmente complicado para a compreensão do presente e do futuro da companhia. Nesta segunda-feira 30, o mercado foi surpreendido pelo anúncio de que a produção de petróleo da estatal recuou 1,5% em junho, na comparação com maio, para 1,959 milhão de barris por dia. As justificativas foram "paradas programadas para manutenção nas plataformas P-48 (Caratinga) e P-53 (Marlim Leste), ambas na Bacia de Campos". No exterior, a produção média exclusiva de petróleo em junho chegou a 148,582 mil barris diários, com queda de 0,8% na comparação com o mês anterior.
Também houve redução pela estatal na produção de gás natural no exterior. A companhia produziu 16,3 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia em junho, com uma redução de 4,9% em relação ao mês de março. Essa medida seguiu a "redução da demanda do gás produzido pela Petrobras na Bolívia", informou a companhia nesta segunda-feira em comunicado.
Não haveria porque duvidar das explicações oficiais, não fosse a série de recuos em relação a anúncios anteriores feitos nos últimos tempos pela companhia. Particularmente, desde que a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, fez um pronunciamento recheado de críticas a metas e projeções feitas pela gestão anterior à sua, encabeçada pelo baiano Sérgio Gabrielli.
No último dia 25, por exemplo, ao anunciar o Plano de Negócios 2012-2016, a estatal comunicou oficialmente ao mercado a decisão de reduzir a meta de crescimento da produção de petróleo em relação ao plano anterior, do ano passado. Se no plano 2011-2015 os objetivos eram chegar a 3,07 milhões de barris por dia em 2015 e a 4,91 milhões em 2020, no novo planejamento as metas são mais realistas: 2,5 milhões de barris diários em 2016 e 4,2 milhões em 2020.
"Historicamente, a Petrobras não cumpre suas metas de produção. Essa tem sido a leitura e o discurso de muitos. E nosso discurso dentro da nossa companhia. Verificamos exatamente que nesses oito planos de negócios não temos cumprido nossa meta de produção. Temos, como uma de nossas conclusões que nosso plano está sendo trabalhado em metas ousadas, que se mostraram ano a ano metas não realistas", disse Graça Foster.
Para o ano passado, por exemplo, a meta era 2,1 milhão barris por dia, mas a Petrobras conseguiu produzir uma média de apenas 2,02 milhão.
O plano prevê investimentos de US$ 236,5 bilhões em cinco anos. Cerca de 60% dos investimentos (US$ 142 bilhões) serão para a área de exploração e produção de petróleo. Os recursos virão principalmente do fluxo de caixa da empresa (US$ 136 bilhões) e de captações no mercado (US$ 80 bilhões).
A área de refino, transporte e comercialização terá investimentos de US$ 65,5 bilhões, enquanto o setor de gás e energia receberá US$ 13,8 bilhões. As demais áreas responderão por menos de 7%: petroquímica (US$ 5 bilhões), biocombustíveis (US$ 3,8 bilhões), distribuição (US$ 3,6 bilhões) e corporativa (US$ 3 bilhões).
Dos 980 projetos que receberão investimentos no período, 833 já estão em andamento, que totalizam US$ 208,7 bilhões, e 147 estão em planejamento, no valor de US$ 27,8 bilhões.
Pré-sal
Quase metade (49%), ou US$ 43,7 bilhões, dos investimentos totais na área de produção (US$ 89,9 bilhões) vai para a área do pré-sal. O pré-sal responde hoje por 5% dos 2,02 milhões de barris diários produzidos no país, mas deve chegar a 30% até 2016. Ao mesmo tempo, o pós-sal vai passar dos 95% de hoje para cerca de 70% em cinco anos.
Os US$ 25,4 bilhões previstos para exploração (isto é, a perfuração de poços para descobrir o tamanho e características das reservas) continuarão concentrados no pós-sal (69%) nos próximos cinco anos, enquanto o pré-sal receberá apenas 24% desses investimentos.
O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Maria Formigli, disse que, atualmente, a Petrobras busca fazer descobertas no pós-sal, em fronteiras exploratórias como as margens leste (que inclui as bacias de Sergipe e Alagoas) e equatorial (que fica na costa amazônica). "A expectativa é muito boa nessas áreas", destacou.
Formigli também enfatizou a necessidade de se investir na produção de equipamentos e estruturas locais para evitar atrasos e maximizar o desempenho. Ele citou como exemplo negativo as 14 sondas que foram importadas pela empresa que tiveram uma média de um ano de atraso.
Segundo o diretor, as sondas que atrasaram não têm conteúdo local. "O atraso afetou muito nossa curva de produção", disse. A tendência é que o conteúdo local aumente e, a partir de 2016, estão previstas 33 novas sondas, que terão entre 55% e 65% de conteúdo local.
Graça Foster disse na ocasião que a empresa precisa reduzir os custos operacionais para melhorar os resultados financeiros. "Não estou falando da redução dos custos para a festa de Natal dos empregados. Estou falando de custos muito mais expressivos, como o estoque de materiais, a importação de produtos, nosso custo de extração, de refino e de movimentação", disse.
Em 2011, a Petrobras teve perdas com a valorização do petróleo no mundo e o aumento da importação de combustíveis.
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