PMDB bate PT em luta interna por vice da Caixa
Fbio Cleto fica e fica forte; governo decide que vice-presidente de Loterias, apadrinhado do PMDB, ser mantido no Conselho Curador do FGTS; perde a parada o presidente da Caixa, Jorge Hereda, que gostaria de demiti-lo; recursos bilionrios do Fundo podero, agora, ser destinados a obras da Copa do Mundo
Marco Damiani _247 – O PMDB de Geddel e Lucio Vieira Lima e Eduardo Cunha e Henrique Alves venceu a parada com o PT do presidente da Caixa Jorge Hereda e o deputado João Paulo Cunha pela permanência do seu apadrinhado Fábio Cleto na vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal. Mais ainda, o partido e seus líderes ganharam a disputa com os petistas pela recondução de Cleto como representante da CEF no Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Uma vitória de virada. No início da semana, a demissão de Cleto era dada como favas contadas, com a ressalva de que, se ele se comportasse, seria mantido no cargo de direção da instituição financeira – mas seria retirado, mesmo assim, do foro dirigente do FGTS, que ordena investimentos estimados em R$ 44 bilhões para 2012.
“Isso foi plantação”, definiu ao 247, sobre a notícia da queda de Cleto, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, hoje vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa. “Ele não será demitido coisa nenhuma”.
Também como 247 vem informando, a importância da disputa está no acesso que a posição de Cleto no Conselho Curador ao FI-FGTS, o Fundo de Investimentos que aplica os recursos oriundos do recolhimento compulsório feito pela empresas para dar garantia ao trabalhador com carteira assinada em caso de demissão. Os peemedebistas querem investir pesado em obras de infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 (leia mais) e as Olimpíadas de 2016, superando a posição de Hereda de manter os recursos do FGTS longe dessa seara. A presidente Dilma Rousseff, a quem o caso chegou como um problema capaz de abalar as relações sempre tensas entre os dois partidos, inicialmente se inclinou a favor da posição do presidente da Caixa. A força da pressão dos peemedebistas no Congresso, porém, que insinuaram criar ainda mais problemas para o governo em votações futuras, foi determinante. O episódio enfraquece o poder político do presidente da Caixa que terá de assinar, de próprio punho, a recondução de Cleto, cujo mandato vence no domingo 17, ao Conselho Curador do FGTS.
Outro motivo de luta interna entre PMDB e PT na Caixa é a migração de contas do funcionalismo público da Bahia para a própria instituição. A diretoria já votou a compra do direito às contas, sem licitação, por R$ 780 milhões. Neste momento, a administração das contas pertence ao Banco do Brasil.
Leia abaixo notícia publicada no 247 sobre a migração de contas:
Migração de contas na Bahia abre crise na CEF
247 – A aparente necessidade do governo da Bahia de fazer caixa, e rapidamente, abriu uma crise de grandes proporções na cúpula da Caixa Econômica Federal, com rebatimento no Banco do Brasil e eco no Ministério da Fazenda. A vigência de um contrato assinado entre a administração baiana, chefiada pelo governador petista Jaques Wagner, e o Banco do Brasil, para a administração, pela instituição, das contas correntes do funcionários públicos do Estado até 2015, foi interrompida para que as mesmas contas, por meio do pagamento de R$ 780 milhões, migrem para a Caixa Econômica Federal. O negócio ocorre sem a abertura de licitação pública e está no epicentro da elevação das diferenças entre PT e PMDB na cúpula do banco presidido por Jorge Hereda. Ele é ligado ao PT e ao ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Internamente, a compra dos direitos pelas contas correntes levantou oposição do líder da ala do PMDB, o ex-ministro e político baiano Geddel Vieira Lima, vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal. “Fiz nove notas técnicas como emenda ao contrato”, lembrou Geddel ao 247, em entrevista na manhã de hoje. “Eu não sou a favor de que os funcionários fiquem com suas contas pulando de lá pra cá. Elas já foram do Bradesco, passaram pelo Banco do Brasil e agora vem para a Caixa. O governador não parece saber o que está fazendo”. Para ele, “um contrato foi rasgado” por Wagner para tirar as contas do BB. O negócio, porém, já foi aprovado pela diretoria da instituição.
Briga pelo FGTS
A disputa entre PT e PMDb não se limita à questão da folha. O conflito partidário voltou à tona, quando o vice-presidente de Loteria Fábio Cleto se recusou a apoiar a iniciativa que visa impedir o uso de recursos do FGTS em empreendimentos comerciais relacionados à Copa e às Olimpíadas. A não utilização é defendida pelo PT. Cleto segue a orientação do PMDB, que é a favor do uso do dinheiro para os eventos esportivos. Peemedebistas também contestam o uso de FI-FGTS em grandes operações de compra de participação acionária em empresas de grandes grupos, como Odebrecht e EBX.
Ao lado do PT, o vice-presidente de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa, Marcos Vasconcelos, fez um parecer de quatro páginas contrário ao uso dos recursos nas obras. Cleto elaborou outro documento, a favor. Os dois pareceres foram entregues ao presidente da instituição, Jorge Hereda, do PT e, portanto, mais um contrário ao uso dos recursos. Hereda resolveu ignorar Geddel e Cleto. O PMDB, por sua vez, foi se queixar no Planalto.
A presidente Dilma, no entanto, teria autorizado a demissão de Cleto, que poderia ser revertida caso o vice-presidente parasse com as picuinhas. Uma caso inédito de ameaça de demissão.
A presidente também orientou a bancada do PT a vetar a parte do texto da Medida Provisória 540 que autoriza o uso de cerca de R$ 5 bilhões do FGTS para ser aplicado, por exemplo, em obras como aeroportos, metrô, reforma urbanística e até construção de hotéis. De acordo com a MP, os recursos só não poderão ser usados na construção de estádios e arenas esportivas. Assim, Dilma resolveria o conflito, em outra instância.
Em diversas reportagens recentes, o 247 revelou como o dinheiro do FGTS vem sendo usado, em compras de participações de empresas como LLX, Foz do Brasil e Rede Energia.
Abaixo, notícia publicada ontem por 247 a respeito da disputa:
Marco Damiani _247 – O destino do vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, está sendo traçado, neste momento, num amplo jogo de intrigas e pressões praticado por alguns dos personagens mais notórios de Brasília. Do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccareza (PT), ao influente deputado fluminense Eduardo Cunha (PMDB), passando pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, atual vice-presidente de Pessoa Jurídica da CEF e o próprio presidente da instituição, Jorge Hereda, o caso de Cleto já chegou até a presidente Dilma Rousseff. E toda essa importância tem bilhões de justificativas. Até o próximo dia 17, Cleto é o representante da Caixa no Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que gerencia mais de R$ 30 bilhões em recursos. Ali, uma palavra a mais ou a menos pode significar a destinação de recursos que, na prática, ditam a existência e o ritmo de grandes obras de infraestrutura. Estas, por sua vez, aglutinam dezenas de interesses econômicos, com um longo cabedal de empresas privadas formado em cada uma delas.
Até agora, a indicação do nome de Cleto para manter presença no Conselho do FGTS não foi feita pelo presidente Hereda, o que indica a sua substituição naquele foro. Além de não realizar, até aqui, a renovação de seu mandato, Hereda deixou correr na imprensa a informação de que Cleto seria demitido de seu cargo de vice-presidente, por determinação da presidente Dilma, se não adequar seu comportamento. Em outras palavras, ele teria de parar de criar problemas para continuar em seu posto.
Apadrinhado do peemedebista Cunha e com amplas simpatias dentro do partido, Cleto, por seu lado, movimentou em torno de si uma forte máquina de pressão sobre Hereda. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves, é mais um que está em campo para garantir a presença de Cleto numa das vice-presidências da Caixa e no conselho do FGTS. Uma das contrapartidas desse movimento está na intensificação das articulações do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, um dos parlamentares que dão sustentação política a Hereda, para liquidar a posição de Cleto. Neste gesto, ele enfrenta a oposição do líder Vacareza, crítico da gestão de Hereda na CEF. Mais do que um episódio de luta entre petistas pelo poder na Caixa, o esvaziamento do poder de Cleto dentro da Caixa poderia desequilibrar a complexa equação de convivência entre os dois partidos na máquina pública federal. De tão importante, pela destinação de recursos que pode influenciar, o cargo de Cleto poderia suscitar pedidos de compensações vindos dos peemedebistas que, no entanto, neste momento nem querem ouvir falar na possibilidade de substituição do vice-presidente.
“O que esse rapaz fez de errado? Não é desonesto, é tecnicamente competente e cumpre corretamente suas funções. Por que querem mexer com ele?”, pergunta o deputado Lucio Vieira Lima, do PMDB da Bahia, que acompanha de perto a queda-de-braço dentro da Caixa. Foi atribuída a ele a convocação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente da CEF à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, para a prestação de explicações sobre os destinos dos recursos do FGTS. “Não fui eu, quem fez o requerimento foi o deputado Pauderney Avelino (PDEM-AM)”, esclarece Vieira Lima, irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima. “Não quero mexer com a Caixa”.
Neste momento em que as pressões contrárias sobre o cargo de Cleto estão em pleno curso, não se vislumbra uma situação de acomodação. Seu mandato para o Conselho Curador do FGTS vence no final de semana – e um sinal verde, de continuação, ou vermelho, de interrupção, necessariamente terá de ser dado pelo presidente Jorge Hereda. A queda de Cleto que pode agradar a setores do PT igualmente será capaz de gerar uma ampla revolta dentro do PMDB. A vez de jogar é de Hereda.
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