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Economia

Rússia alcança autossuficiência e para de importar carne suína do Brasil

"No caso das carnes suínas e de frangos, é fato consumado: a Rússia não precisa mais importar. Portanto, não há motivo para o Brasil perder tempo investindo na exportação desses produtos para cá", diz o trader João dos Santos Lima

(Foto: Sputnik / Konstantin Mikhailchevsky)
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Sputnik - Após anos comprando volumes significativos de carne suína brasileira, a Rússia alcança autossuficiência na produção da proteína. A Sputnik Brasil conversou com especialista para saber como o Brasil pode manter sua posição de fornecedor de carnes para a Rússia.

Em 2020, a Rússia atingiu a autossuficiência na produção de carne suína, após 30 anos de dependência de importações do produto.

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"Passamos de uma total dependência [de importações], como a que observávamos em meados dos anos 2000, quando importávamos quase 50% do que consumíamos, para praticamente 100% de autossuficiência [...]", disse o diretor da União Nacional dos Produtores de Suínos da Rússia (RUPP, na sigla em inglês), Yuri Kovalev, conforme citou a TKS.

Neste ano, a indústria russa produziu 4,3 milhões de toneladas de carne suína, abastecendo o mercado interno, cuja demanda é estimada em quatro milhões de toneladas por ano.

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O feito foi atingido mesmo com o aumento do consumo individual de carne na Rússia. Em 2020, o cidadão russo médio consumiu 77 quilos de carnes, sendo 28 deles de carne suína, apresentando os maiores níveis das últimas três décadas.

As importações russas de carne suína, que outrora foram dominadas pelo Brasil, foram praticamente zeradas em 2020.

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"A Rússia era um grande mercado para o Brasil", disse o trader de carnes brasileiro, João dos Santos Lima, à Sputnik Brasil. "Até meados de 2017, a Rússia era o nosso maior importador de carne suína, chegando a importar de 150 a 170 mil toneladas de carne suína brasileira por ano."

Segundo ele, a Rússia apostou no investimento em currais de porcos e na genética de raças suínas europeias, que tem alto teor de gordura, para desenvolver seu setor nacional.

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"O suíno de raça europeia é muito mais gordo do que os que produzimos no Brasil", explicou Lima. "Isso faz com que as fabricas de processamento, no momento da produção de embutidos, tenham uma perda significativa."

Nesse sentido, a carne suína brasileira "ainda ganha em rendimento no processamento", o que garante a sua vantagem na produção de linguiças, mortadelas e demais embutidos. 

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Mesmo assim, Lima acredita que a Rússia não demandará mais o produto brasileiro, valendo-se a partir de agora exclusivamente de sua produção nacional.

"No caso das carnes suínas e de frangos, é fato consumado: a Rússia não precisa mais importar. Portanto, não há motivo para o Brasil perder tempo investindo na exportação desses produtos para cá", acredita o trader baseado em Moscou. 

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"Para que o Brasil continue sendo um fornecedor de proteína animal para a Rússia, será necessário focar no fornecimento de carne bovina", apostou Lima.

A Rússia também investe pesado no desenvolvimento da produção de carne bovina no país. Como resultado, empresas como a Miratorg produzem cortes de alta qualidade para os consumidores locais.

No entanto, o Brasil segue muito competitivo no setor de carne bovina para processamento industrial, e pode trabalhar para recuperar seu espaço perdido na Rússia, acredita o especialista.

Concorrente do Brasil?

A Rússia não só prescinde do fornecimento brasileiro de proteínas animais, mas também desponta como um concorrente do Brasil na Eurásia.

"A Rússia já é um grande concorrente do Brasil junto aos países que faziam parte da União Soviética", revela Lima.

Neste ano, os principais importadores de carne suína russa foram países como Ucrânia, Bielorrússia, Vietnã e Hong Kong. Ao todo, Moscou já exporta para mais de 30 mercados do mundo, competindo diretamente com o Brasil.

Apesar do novo desafio, o Brasil mantém bom desempenho nas exportações de carne suína mundialmente.

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as exportações brasileiras de suínos tiveram um aumento de 40,4% de janeiro a outubro de 2020, quando comparados ao mesmo período do ano passado.

O volume exportado atingiu 853,7 mil toneladas, garantindo um faturamento de US$ 1,876 bilhões (cerca de R$ 9 bilhões).

Os números brasileiros da produção de suínos são muito superiores aos russos, mas Moscou pode desafiar o Brasil em mercados da ex-União Soviética.

"A Rússia fornece muito frango para o Uzbequistão, Tajiquistão e Quirguistão, e também está fornecendo carne suína para a Armênia e Azerbaijão", notou Lima.

O principal mercado para a carne suína brasileira, no entanto, é a China, que absorve cerca de 35% das exportações nacionais. A Rússia, por sua vez, ainda não tem acesso a esse mercado-chave para o setor de suínos mundial.

Para diminuir a dependência da China, o Brasil quer diversificar seus parceiros, investindo nas relações com as Filipinas, Coreia do Sul e Japão.

O Brasil aumentou a sua participação no mercado do Vietnã, no qual a Rússia também apostou suas fichas: após intensas negociações, Moscou conseguiu abrir o mercado do Vietnã para sua carne suína neste ano. 

Apesar do bom desempenho internacional da carne suína brasileira, a perda do mercado de carne suína russo agrava a situação já desfavorável para o Brasil no comércio bilateral.

Em 2019, o Brasil acumulou déficit de mais de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 8 bilhões), no comércio com a Rússia, de acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). Esse foi o segundo ano consecutivo de déficit, após anos de superávit para o Brasil.

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