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Economia

Sardenberg descobre que Miami pode ser pior que Guarulhos

Cortes do governo federal dos EUA levam o comentarista econômico da Globo a descrever um sábado à tarde no aeroporto de Miami: "quase três horas para carimbar o passaporte. Voos desembarcavam passageiros do mundo todo. Pessoas se aglomeravam em filas apertadas"

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247 - E não é que o Aeroporto de Miami, nos Estados Unidos, pode ser ainda pior que o de Guarulhos? Foi o que descobriu o comentarista econômico da rede Globo Carlos Alberto Sardenberg no sábado passado, diante de uma faixa que dizia: "em razão dos cortes no orçamento federal, o departamento de imigração está trabalhando com menos funcionários do que o normal. Por favor, seja paciente e colabore com os agentes".

Leia abaixo seu artigo sobre o assunto, publicado no jornal O Globo nesta quinta-feira:

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Governo grande 

Sábado passado à tarde, aeroporto de Miami: quase três horas para carimbar o passaporte. Voos desembarcavam passageiros do mundo todo. Pessoas se aglomeravam em filas apertadas, manifestavam surpresa. Alguns brasileiros arriscavam a ironia: isso aqui está pior que Guarulhos, hein!? Pois deveriam estar contando com a confusão.

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No começo da fila, um cartaz grande anunciava: "em razão dos cortes no orçamento federal, o departamento de imigração está trabalhando com menos funcionários do que o normal. Por favor, seja paciente e colabore com os agentes".

Conversa daqui e dali - nessas filas em caracol, você vai criando um companheirismo de infortúnio, pois cruza várias vezes com as mesmas pessoas - e deu para saber que quase ninguém ali sabia o que estava acontecendo. Algumas pessoas nem haviam percebido o cartaz. Outras, sim, mas estavam longe de saber por que, afinal, havia os tais cortes no orçamento federal.

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Sentiam na carne os efeitos de um impasse político em Washington, mas nem imaginavam que se tratava disso, de governo e política. Para resumir, portanto: o presidente Obama e os líderes republicanos, depois de anos de negociações, ainda não chegaram a um acordo de longo prazo para o necessário ajuste das contas públicas americanas, com déficits anuais e dívidas elevadas. Como o orçamento federal tem se ser votado todo ano, há um impasse anual. Em um desses momentos, os dois lados concordaram com um arranjo provisório e estabeleceram que, não havendo entendimento consistente um ano depois, entrariam em vigor cortes automáticos de gastos em toda a administração federal, além de aumentos de impostos.

É o que está acontecendo. Na flexível administração americana, a falta de verbas públicas produz resultados imediatos. Funcionários são demitidos ou, solução mais branda, mandados para casa, em licença não remunerada; obras e compras, de equipamentos militares, por exemplo, são eliminadas: e serviços tornam-se precários, como a imigração nos aeroportos.

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No caso daquele sábado à tarde, as vítimas eram estrangeiras. Não havia fila no guichê dos residentes nos EUA. Mas os americanos estavam pagando caro pela redução no número de controladores de tráfego aéreo: voos atrasados no país inteiro. Isso foi torrou tanto a paciência dos consumidores, que o Congresso reuniu-se às pressas para aprovar a liberação de verbas extraordinárias para o departamento de controle de voos, com o voto amplo de democratas e republicanos.

E quer saber? É bom mesmo que falhas da gestão pública sejam imediatamente sentidas pela população. É educativo. Desde a crise de 2008, tornou-se moda dizer que a culpa de tudo foi o excesso de liberalismo, que teria eliminado regulações e reduzido demais o tamanho e as funções do Estado. De fato, houve pouca regulação das atividades financeiras, mas especialmente nos EUA e em alguns países da Europa, como a Inglaterra. Mas está claro que não se pode dizer que o sistema financeiro brasileiro foi em algum momento desregulamentado. Nem nos demais emergentes.

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Quanto ao tamanho governo, vamos concordar, gente: só cresceu e isso no mundo todo, EUA incluídos, como se vê agora.

Obama, que tem o poder de ordenar os cortes, tem sido acusado pelos republicanos de criar caso de propósito. Estaria cortando recursos de serviços diretos ao público para dizer: estão vendo! tudo culpa desses republicanos que não querem aumentar impostos para os ricos!

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E assim o debate tornou-se mais urgente, embora não menos fácil: o governo é grande, é preciso cortar gastos - quais? - e aumentar impostos - de quem?

A propósito, governos estaduais querem cobrar imposto ao consumidor nas vendas via Internet. Hoje, essas vendas só são taxadas quando o vendedor tem presença física no Estado. Logo, as grandes lojas de departamentos já recolhem o imposto e, claro, o colocam no preço. Já empresas médias e pequenas, instaladas em um único Estado, e que só vendem pela Internet, não recolhem nada e ganham uma vantagem.

Uma decisão antiga da Suprema Corte diz que essas empresas não têm como lidar com a legislação tributária de tantos estados. Mas agora os legisladores federais estão dizendo que modernos softwares podem fazer isso facilmente. Entende-se a cobiça: uma arrecadação de US$ 12 bi/ano.

Nasce assim o ICMS americano. Eu não disse que o governo sempre cresce? E da pior maneira...

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