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Vendeu tem que entregar

Abilio Diniz quer inverter a lógica comercial e deixar o Casino sem o produto que comprou: o Pão de Açúcar

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Existe uma lógica comercial muito simples de entender: vendeu tem que entregar. Quem vai ao supermercado, escolhe os produtos nas gôndolas, passa pelo caixa e, na saída, quer a sua sacolinha com tudo o que pagou (caro ou barato). O empresário Abilio Diniz vê o negócio de outra maneira. Em novembro de 2006, ele assinou um contrato que garantia a entrega do Pão de Açúcar em 2012 para os franceses do Casino. O problema é que de lá para cá o seu grupo varejista se transformou em um colosso financeiro. Nesse período, o Grupo Pão de Açúcar passou a ser o primeiro colocado em faturamento e vendas, ultrapassando o Carrefour, e arrematou Ponto Frio e Casas Bahia, duas das mais importantes redes de eletroeletrônicos do País. Aquele dinheiro que Diniz recebeu há cinco anos se transformou em pechincha. O Casino pagou o que foi pedido. Mas o empresário brasileiro parece arrependido do preço cobrado e quer modificar o conteúdo da sacolinha que os franceses estão ansiosos para pegar no ano que vem.

O Casino já passou pelo caixa, mas corre o risco de ficar sem o que pagou. Abilio Diniz está determinado a não se desfazer do Pão de Açúcar e vai inventar de tudo para defender a sua permanência à frente do negócio criado por seu pai, Valentim. Para não ter que entregar o controle para os franceses no ano que vem, ele colocou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no projeto de fusão com o Carrefour e transformou a disputa entre os sócios em assunto nacional. Os argumentos utilizados para a participação do fundo de investimento do banco público (BNDESPar) são fortes: defender as marcas nacionais do ataque estrangeiro (o americano Wal-Mart pode expandir seus negócios no País se o Pão de Açúcar não agir) e tornar o Brasil peça importante no tabuleiro global das redes varejistas (facilidade para distribuir produtos brasileiros no exterior). Assim, dessa maneira, Diniz parece ter razão. É o Brasil contra o mundo.

Mas essa é apenas uma briga societária, que não deve envolver o nacionalismo do nós contra eles. Afinal, Abilio esqueceu de combinar com o adversário, ou melhor, com seus sócios franceses o que estava fazendo. O Casino, que já desconfiava da atuação de Diniz sem o seu consentimento, abriu dois processos de arbitragem na justiça europeia para avaliar a conduta independente do sócio brasileiro nas negociações. Faltou fair play (jogo limpo) para Diniz ao se aproximar do Carrefour às escondidas. E, pela estrutura formada no novo negócio, Abilio teria argumentos para convencer seu sócio francês a aceitar a oferta. Ele continuaria à frente do Pão de Açúcar, com participação acionária relevante, e o Casino seria beneficiado ao ganhar uma parcela nas operações do seu concorrente francês. Feita às claras, seria mais fácil. Agora, o problema não é o que acontecerá. Foi o que aconteceu em 2006. E o Casino tem todo o direito de exigir a sua única sacolinha em 2012, sem qualquer modificação no conteúdo.

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