“A mídia independente foi decisiva para salvar a democracia brasileira”, afirma Gustavo Conde
Em entrevista a Beatriz Bevilaqua, o linguista e comunicador fala sobre o papel transformador do jornalismo independente
Beatriz Bevilaqua, 247 - Gustavo Conde é linguista, jornalista, professor e uma das vozes mais ativas do campo progressista nas redes. Com mais de 100 mil inscritos em seu canal no YouTube e presença diária em transmissões ao vivo, Conde consolidou uma audiência fiel em torno de uma comunicação franca, afetiva e, sobretudo, política.
Em entrevista no programa Empreender Brasil, realizado em parceria com o Sebrae Nacional, Conde refletiu sobre o papel do empreendedorismo digital no jornalismo e a importância da mídia independente para a sobrevivência da democracia.
“No meu caso, tudo foi muito espontâneo. Comecei a produzir conteúdo sem remuneração, nas redes sociais. E fui aprendendo com o público, com a comunidade. É um processo vivo, humano, cheio de erros e acertos e é isso que me move”, contou o jornalista.
Conde fez questão de destacar o papel do jornalista Leonardo Attuch, fundador da TV 247, como um dos responsáveis por impulsionar seu trabalho. “O Léo Attuch teve um papel imprescindível nessa minha jornada. Sou muito grato a ele e isso é público e notório. Aprendi muito com ele, com a estrutura da 247, e com essa comunidade que não se curva às pressões do mercado”, afirmou.
Ao longo do programa, destacou que o jornalismo independente também é uma forma de empreender com propósito, sobretudo em um país onde o empreendedorismo, muitas vezes, nasce da necessidade de sobrevivência.
Muitos brasileiros acabam se tornando empreendedores por não conseguirem se inserir no mercado de trabalho. “O brasileiro é vocacionado para empreender. A criatividade nasce da precariedade e muitos acabam fazendo seus próprios negócios sem qualquer crédito, apenas com o apoio da comunidade. É o empreendedorismo de resistência”, disse.
O papel político da mídia independente
Para o linguista, o segredo de manter a relevância na mídia digital e o engajamento é a inovação constante e a conexão real com o público. “Eu gosto de perturbar o processo. Não quero só confirmar o que o público já pensa. Quero provocar, gerar reflexão. É isso que diferencia o jornalismo independente: a liberdade de criar e de pensar fora da bolha”, explica.
Ao abordar o papel do jornalismo progressista no Brasil atual, Conde foi categórico: “A mídia independente salvou a democracia com o governo Lula. Nós do 247, DCM, Fórum, GGN e tantos outros, fomos essenciais para segurar as pontas, para manter a crítica e a esperança em tempos de escuridão.”
Para ele, o jornalismo independente não é apenas um contraponto à grande mídia: é um movimento de reconstrução social e democrática, que exige ousadia e compromisso. “A mídia tradicional se atrofiou. Parou de pensar. Nós, da mídia independente, estamos um passo à frente porque mantemos a reflexão viva. Não temos a primazia do pensamento crítico, mas temos liberdade para buscá-lo.”
Conde também comentou sobre o impacto da tecnologia e da inteligência artificial na comunicação e no mercado de trabalho. “As carreiras estão se dissolvendo. O futuro é múltiplo. O desafio é não sermos devorados pelas Big Techs. Precisamos voltar ao humano, à criação, à singularidade. O jornalismo é uma das últimas trincheiras da humanidade.”
Para o comunicador, o próximo passo da mídia independente é fortalecer sua autoestima coletiva, entendendo seu papel e seu poder transformador. “Nós ainda precisamos reconstruir nossa autoestima. Saber do que somos capazes. A mídia independente tem a responsabilidade de continuar fortalecendo a democracia, de garantir que o Brasil siga no caminho certo. É uma construção de todos nós.”
Assista a entrevista na íntegra aqui:
