Artesãs do Ceará conquistam reconhecimento nacional com fibra do croá
Produção artesanal de Pindoguaba, em Tauá, recebe Indicação Geográfica do INPI e fortalece tradição local com apoio do Sebrae e do governo cearense
247 - As artesãs do distrito de Pindoguaba, no município de Tauá, interior do Ceará, conquistaram um marco importante no reconhecimento do artesanato brasileiro. O trabalho com a fibra do croá passou a integrar o seleto grupo de 18 territórios nacionais reconhecidos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) com o selo de Indicação Geográfica (IG). A informação foi divulgada pelo Sebrae Nacional.
O croá é uma planta nativa do semiárido nordestino, tradicionalmente utilizada para fabricar cordas, cabrestos, mantas e redes. Por muitos anos, a extração da fibra foi uma das poucas fontes de sustento das famílias da região. Com a chegada de novas atividades econômicas, como a exploração de pedras e o uso de outras fibras, essa tradição artesanal acabou enfraquecendo e quase desapareceu nos anos 1980.
A retomada da produção só se tornou possível graças a um trabalho de revitalização cultural realizado pelo Sebrae, pelo governo do Ceará e pelo grupo local Flor do Croá. A iniciativa incentivou as artesãs a recriar suas técnicas e desenvolver novos produtos, agregando valor à fibra e resgatando um saber ancestral.
“O Sebrae tem uma metodologia para a identificação de potenciais novas Indicações Geográficas. Primeiro, fazemos um diagnóstico para verificar se aquele território atende às características, se ele tem as condições mínimas para se transformar em uma Indicação Geográfica”, explicou Maíra Fontenele Santana, analista de projetos de inovação do Sebrae Nacional.
Segundo ela, o reconhecimento não é criado artificialmente, mas sim fruto da valorização de práticas e tradições já existentes:
“A gente costuma falar que IG a gente não cria, a gente descobre, organiza e reconhece. Então, as características já têm que existir no território”, completou.
A Indicação Geográfica de Pindoguaba é a 144ª reconhecida no Brasil e se enquadra na modalidade Indicação de Procedência (IP). O croá se junta a outros produtos de forte identidade territorial, como o capim-dourado do Tocantins — o único outro artesanato de fibra com esse selo no país.
Maíra Fontenele destaca que o Brasil possui uma grande variedade de fibras naturais com potencial para esse tipo de reconhecimento, e que o país está apenas começando a valorizar essa riqueza cultural.
Além do valor simbólico, o título traz benefícios concretos para a comunidade local. Ele fortalece a economia criativa, estimula o turismo e amplia o mercado para os produtos das artesãs. A analista também enfatiza a importância da sustentabilidade na extração da planta.
“A associação das artesãs de Pindoguaba tem feito um trabalho importante de manejo para que a planta que é a origem da fibra não entre em um processo de extinção por conta de um possível aumento na demanda”, afirmou.
Atualmente, cerca de 20 mulheres participam diretamente da produção, preservando técnicas tradicionais e transmitindo o conhecimento às novas gerações. Para Maíra, esse é um dos aspectos mais valiosos da conquista:
“Esse reconhecimento vai garantir mais visibilidade para o território e contribuir principalmente para fortalecer o trabalho com os jovens da região, reforçando esse senso de importância e conectando diferentes gerações.”
As Indicações Geográficas, regulamentadas pelo INPI, funcionam como um instrumento de proteção e valorização cultural. Elas identificam produtos ou serviços que têm qualidades específicas associadas a determinado território, promovendo o desenvolvimento regional e garantindo a preservação de saberes únicos — como o das artesãs de Pindoguaba, que agora transformam a fibra do croá em símbolo de resistência e identidade do sertão cearense.
