Atriz e pesquisadora aborda estratégias para valorizar o trabalho artístico e empreender nas artes cênicas
Valéria Marchi fez muitas produções artísticas sem cobrar qualquer valor por isso e hoje consegue precificar as suas criações no palco
Beatriz Bevilaqua, 247 - Como fazer a arte sobreviver no cenário atual? Neste episódio do "Empreender Brasil", conversamos com Valéria Marchi, atriz, produtora, pesquisadora de teatro e criadora de conteúdo digital. Além de suas múltiplas funções, ela também é apresentadora dos programas Cultura 247, Tríptico e Revolução Molecular na TV 247. Neste bate-papo se discute as estratégias de empreender nas artes cênicas, revelando os bastidores de um universo criativo e cheio de obstáculos.
“A arte está entranhada na nossa maneira de lidar com questões que nos atravessam, sejam elas aprendizados ou inseguranças”, afirma. Para ela, a arte funciona como uma interface, uma forma de se relacionar com a realidade e com as emoções que nos cercam. E essa necessidade humana é tão profunda que remonta aos primórdios da humanidade. "Está no DNA do ser humano. Lá nas cavernas, o homem já usava a pele de animal para criar uma cena. A arte sempre esteve conosco", observa.
Contudo, Valéria acredita que a maneira como a sociedade enxerga a arte hoje foi distorcida. "Vivemos em um mundo onde a arte não é mais vista como uma necessidade humana”, disse. Para ela, esse sufocamento começa na escola, que muitas vezes reprime a espontaneidade criativa das crianças. "Na infância, somos livres, abertos à criação, mas, com o tempo, isso vai sendo paulatinamente sufocado, reprimindo todas as nossas questões", conclui Valéria.
Ela compartilha uma experiência pessoal que ilustra sua jornada no mundo do empreendedorismo. "Fui fazer o curso de empreendedorismo do ICL, com Eduardo Moreira, justamente porque eu precisava construir minha carreira de uma maneira mais profissional e nomear os caminhos que eu estava trilhando", conta. Para ela, a vida de artista exige um constante malabarismo entre diversas funções. "Quando você é artista, está sempre fazendo 50 coisas ao mesmo tempo. Você pendura cenário, faz o carreto, limpa o ambiente, ajuda na iluminação e sobe no palco. Tudo parece maravilhoso, mas é um trabalho árduo", explica.
Ela revela que, por muito tempo, não valorizava as etapas de seu trabalho. "Eu não entendia que o que eu fazia era um trabalho pesado. Achava que só precisava fazer sem questionamento. Fazia coisas excelentes, mas muitas vezes de graça, sem valor, ou sem computar o que realmente estava realizando", reflete Valéria. Para a artista, esse processo de reconhecimento da própria profissão e das qualificações envolvidas foi longo. "Eu precisava entender que eu era uma profissional e que as minhas qualificações precisavam ser valorizadas como empreendedora e produtora artística", afirma. Aos 56 anos, Valéria reconhece que essa compreensão veio com o tempo e com a experiência acumulada ao longo de sua carreira.
Algo que ela aprendeu ao longo dos 32 anos em que deu aula de teatro, especialmente para adolescentes e que sempre disse aos seus alunos: "Faça algo que faça sua alma pulsar, porque você é a única pessoa que enfrentará as consequências das suas escolhas”, disse.
Assista à entrevista na íntegra:
