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Brasil celebra avanço das IGs e reforça tradição da cachaça artesanal

Novas indicações geográficas em Areia e Orizona fortalecem cultura, ampliam mercados e impulsionam competitividade dos pequenos produtores de cachaça

Com 28 engenhos registrados, Areia (PB) é a região com maior concentração de produtores no Nordeste e a segunda maior do país (Foto: Divulgação)

247 - O Brasil ultrapassou a marca de 150 Indicações Geográficas (IGs) nacionais reconhecidas, segundo atualização publicada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A informação foi divulgada originalmente por Camila Vidal, que destaca a entrada das mais recentes Indicações de Procedência (IP) voltadas à cachaça: Areia, na Paraíba, e Orizona, em Goiás — duas regiões historicamente dedicadas à produção artesanal da bebida.

Com os novos registros, o país chega a 161 IGs, sendo 120 Indicações de Procedência (119 brasileiras e uma estrangeira) e 41 Denominações de Origem (31 nacionais e 10 internacionais). O avanço consolida o papel das IGs como ferramenta de valorização econômica, cultural e territorial, especialmente em setores vinculados a saberes tradicionais.

A evolução do sistema de certificações também dialoga com a política nacional de proteção à cachaça, reforçada pelo Decreto nº 4.062/2021, que consolidou as expressões “cachaça”, “Brasil” e “cachaça do Brasil” como indicações geográficas de uso exclusivo do país. O cenário é visto como promissor por instituições ligadas ao fortalecimento de pequenos negócios.

Para a coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro do Sebrae Nacional, Hulda Giesbrecht, o selo agrega valor à produção e amplia a visibilidade da cadeia. “A IG é um registro de origem e garantia de qualidade. Na forma de um selo, ele comunica ao mercado que existe história, clima, solo, cultura e conhecimento envolvidos no produto”, afirma. Ela acrescenta que o avanço “é uma conquista que valoriza os produtores e posiciona a cachaça brasileira em novos patamares no mercado”.

Crescimento e projeção do setor

O Anuário da Cachaça 2025, publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), aponta que o país registrou 1.266 cachaçarias ativas em 2024, um crescimento de 4% em relação ao ano anterior — o terceiro consecutivo. O número de produtos também avançou: 7.223 cachaças homologadas, alta de 20,4% frente a 2023.

Esse movimento de fortalecimento institucional ganhou reforço em maio de 2024, com o manifesto lançado pela Associação Nacional da Cachaça de Alambique (ANPAQ), que pede o reconhecimento do método artesanal como Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Brasil.

Areia (PB): tradição, turismo e fortalecimento territorial

Com 28 engenhos registrados, Areia (PB) é a região com maior concentração de produtores no Nordeste e a segunda maior do país. O município viu seu setor se fortalecer a partir da década de 1990, quando ações de padronização, qualificação e marketing foram estruturadas com apoio do Sebrae Paraíba. A instituição auxiliou também na parte técnica para o registro da IG, realizando consultorias, orientações legais e estratégias de diferenciação territorial.

Além de responder por mais de 40% da produção paraibana, a cachaça de Areia impulsiona turismo e renda com iniciativas como o roteiro Caminho dos Engenhos, que reúne cerca de 25 mil visitantes anuais.

O vice-presidente da Associação dos Produtores de Cachaça de Areia (APCA), Thiago Baracho, avalia que o título amplia a visibilidade regional. “A cachaça de Areia é reconhecida nacional e internacionalmente, mas ainda precisa ser mais vista pelo consumidor”, diz. Para ele, “o selo reforça tradição, qualidade e território, e isso é desenvolvimento regional”.

Somente em 2018, Areia produziu 4,5 milhões de litros de cachaça, gerando aproximadamente 2.500 empregos diretos e indiretos. O Sebrae segue atuando em ações de pós-certificação, com foco em expansão comercial, turismo integrado e acesso a novos mercados.

Orizona (GO): modernização com raízes históricas

Orizona, conhecida como “Terra da Boa Cachaça”, mantém uma tradição centenária herdada das grandes fazendas do século XIX. A transmissão do saber-fazer entre gerações sustenta a reputação regional, agora fortalecida pelo processo de IG.

Nos últimos anos, o setor passou por reestruturação e modernização com apoio do Sebrae Goiás, que promoveu governança local, capacitação em boas práticas de fabricação, rotulagem, gestão e consultorias voltadas aos requisitos técnicos da certificação.

Para o presidente da Associação dos Produtores de Cachaça de Orizona (Apacor), Edgar de Castro Correia, o reconhecimento representa um divisor de águas. “O apoio do Sebrae foi fundamental para chegarmos até aqui, a instituição sempre acreditou na tradição, na qualidade e no potencial da nossa cachaça”, afirma. Ele define o momento como simbólico: “Hoje é um dia de festa e valorização para todos os produtores.”