Brasileiras criam rede gratuita de acolhimento psicológico para mulheres em risco
Maria Family conecta cuidado emocional, políticas públicas e oportunidades de trabalho para mulheres em situação de violência doméstica
Beatriz Bevilaqua, 247 - No cruzamento entre tecnologia, impacto social e empreendedorismo feminino, nasce o Maria Family, aplicativo criado para oferecer acolhimento psicológico virtual e gratuito a mulheres em situação de risco. A iniciativa foi destaque da entrevista no “Empreender Brasil”, na TV 247, com Joseane Bittencourte, atual CEO da plataforma.
Voltado especialmente a mulheres que enfrentam violência doméstica e não têm recursos para buscar ajuda, o Maria Family oferece consultas psicológicas online gratuitas, além de conteúdos educativos sobre violência de gênero, cursos de empoderamento feminino e apoio à recolocação no mercado de trabalho. A proposta é clara: criar caminhos concretos para que essas mulheres consigam romper ciclos de violência e reconstruir sua autonomia.
A plataforma foi idealizada originalmente por Felipe Rigoni, ativista social que teve contato direto com situações de violência contra mulheres em sua própria família. Após sua morte, há cerca de três anos, Joseane assumiu o compromisso de levar o projeto adiante. “O sonho dele não poderia morrer ali. Decidimos transformar essa dor em continuidade”, relata a empreendedora, que hoje conduz o Maria Family ao lado do marido, também sócio da iniciativa.
O grande diferencial do aplicativo está no modelo de financiamento. As usuárias não pagam pelo atendimento. A manutenção da plataforma é feita por meio de parcerias com empresas e órgãos públicos, permitindo que o acesso ao cuidado psicológico não dependa da condição financeira da mulher. “Se ela não tem recurso nem para sair de casa, como vai pagar uma psicóloga?”, questiona Joseane.
Mais do que atendimento emocional, o Maria Family se propõe a ser uma rede integrada de proteção. A plataforma orienta as usuárias sobre políticas públicas existentes, articula encaminhamentos para abrigos e serviços municipais de acolhimento e conecta essas mulheres a oportunidades de trabalho, entendendo que a independência financeira é peça-chave para a ruptura da violência. “Sair dessa situação é um processo de dentro para fora. É psicológico, emocional e também estrutural”, explica.
A iniciativa já dialoga com prefeituras, sindicatos e organizações locais em Santa Catarina, onde o projeto está sediado, e mira uma expansão nacional e internacional. A presença no Web Summit de Lisboa abriu portas para parcerias fora do Brasil e reforçou a dimensão global do problema. “Se no Brasil cerca de 37% das mulheres sofrem algum tipo de violência, em Portugal esse número também é alarmante. É uma questão mundial”, destaca Joseane.
Outro cuidado central da plataforma é a segurança digital. O aplicativo foi pensado para que a busca por ajuda não coloque a mulher em risco, com mecanismos que dificultam a identificação do uso por parceiros abusivos. No futuro, a ideia é integrar ainda mais recursos tecnológicos de proteção e resposta a situações emergenciais, sempre preservando a confidencialidade das usuárias.
Ao final da entrevista, a fundadora deixa uma mensagem direta às mulheres que vivem situações de violência: “Precisamos de apoio, de parceria, mas a nossa vida, os nossos sonhos e a nossa felicidade dependem de nós”. Para ela, o cuidado emocional é fundamental para romper bloqueios históricos e culturais que ainda aprisionam muitas mulheres. “Ter sonhos, objetivos e vontade de ser feliz não é ambição excessiva. É direito”.
Em um país marcado por índices persistentes de violência de gênero, o Maria Family se afirma como um exemplo de empreendedorismo progressista, que usa a tecnologia não para escalar lucros, mas para salvar trajetórias, reconstruir vidas e transformar cuidado em política concreta de futuro.
Assista na íntegra aqui:
