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Chinesa cria escola de mandarim no Brasil para democratizar o idioma

Sharon Huang desenvolveu uma metodologia própria voltada ao público brasileiro e, hoje, reúne mais de 600 alunos nos formatos presencial e online

Chinesa cria escola de mandarim no Brasil para democratizar o idioma (Foto: Divulgação )

Beatriz Bevilaqua, 247 - Há 15 anos no Brasil, a chinesa Huang, conhecida pelo nome ocidental Sharon, transformou a própria trajetória de imigrante em um empreendimento que vem ganhando destaque no ensino de idiomas. Fundadora da “Escola Made in China”, ela desenvolveu uma metodologia exclusiva para brasileiros aprenderem mandarim de forma leve, prática e conectada à cultura contemporânea chinesa, bem diferente do imaginário construído por filmes de artes marciais ou estereótipos antigos.

Nascida em Beijing, Sharon Huang chegou ao Brasil movida pela curiosidade e por motivos profissionais e familiares. O que encontrou aqui foi um país interessado na China, mas com pouco acesso à cultura real do país asiático. “Quando eu cheguei, muita gente pensava na China como nos filmes do Jackie Chan. Minha vontade era mostrar a cultura moderna, a China tecnológica e a história de mais de 5 mil anos”, conta.

A afinidade com o ensino foi decisiva para transformar esse objetivo em negócio. Na época, o ensino de mandarim no Brasil era restrito, sem materiais didáticos adaptados ao português. Sharon percebeu ali uma oportunidade: a necessidade de uma metodologia brasileira para aprender mandarim.

Além de aproximar o aluno da cultura, o método foi pensado para adaptar o mandarim ao modo como os brasileiros aprendem novas línguas. Segundo Sharon, com dedicação, em um ano de estudo na escola já é possível viajar à China e se virar no dia a dia, pedindo comida, negociando preços e cumprimentando pessoas. Para conversas mais complexas e contexto corporativo, a média é de três anos de estudo.

Uma das primeiras alunas, que iniciou o curso no formato presencial, permanece na escola até hoje. O mandarim deixou de ser apenas um desafio inicial e se tornou parte da rotina dela, quase um hobby, que segue aperfeiçoando ano após ano.

Se antes o interesse dos estudantes era motivado principalmente pela cultura, hoje a procura está diretamente ligada ao mercado de trabalho. Nos últimos cinco anos, segundo Sharon, a demanda “aumentou muito”. Entre os principais motivos estão a presença crescente de empresas chinesas no Brasil, a aquisição de companhias brasileiras por grupos da China, profissionais que precisam viajar ao país asiático a trabalho e jovens em busca de diferenciação no currículo. “Os alunos querem se preparar para o mercado e já entrar falando mandarim. Isso coloca qualquer profissional à frente”, afirma.

A escola, que começou de forma tímida com apenas duas alunas, hoje soma cerca de 600 estudantes, impulsionada também pela expansão do ensino online.

Um movimento estratégico mudou o rumo do negócio. Dois anos antes da pandemia, Sharon decidiu investir na criação de uma plataforma própria e na gravação de 300 videoaulas. Quando o lockdown chegou, o curso online já estava 90% pronto e foi lançado em apenas duas semanas.

Tecnologia ajuda, mas não substitui o idioma

Com o avanço da inteligência artificial e tradutores automáticos, muitos se perguntam se ainda vale a pena aprender línguas. Sharon é categórica: vale e cada vez mais.

Para ela, a IA fortalece o ensino, ampliando acesso a conteúdos e exercícios, mas não substitui a interação humana nem resolve situações reais, sobretudo em viagens e negociações. Mesmo em um país altamente tecnológico como a China, o ensino de idiomas continua em alta.

No fim das contas, a Made in China se tornou mais do que uma escola, virou um espaço de intercâmbio cultural. “Quero que os brasileiros vejam a China como ela é hoje, moderna, acolhedora e cheia de oportunidades. E que descubram que o mandarim pode ser mais simples do que parece.”