Cientista democratiza receitas no Youtube e cria escola digital
Criadora do canal “Pensando ao Contrário”, Camila Victorino uniu ciência, saúde e sustentabilidade para democratizar receitas acessíveis
Beatriz Bevilaqua, 247 -Transformar conhecimento acadêmico em impacto social e em negócio próprio não é tarefa simples. Mas foi exatamente esse o caminho trilhado por Camila Victorino, bióloga, mestre pela USP e PhD em Neurociências, que deixou a vida acadêmica para criar o “Pensando ao Contrário”, hoje um dos maiores canais de culinária saudável e vegana no Brasil, com mais de 2,8 milhões de inscritos no YouTube.
O projeto, que começou como um blog despretensioso, cresceu e se transformou em uma marca sólida, com livros, cursos, uma loja online e até uma escola dedicada à educação alimentar. A proposta é clara: democratizar receitas saudáveis, veganas e sustentáveis, livres de glúten e outros alérgenos, aliando ciência e didática para combater a desinformação.
“Tudo começou de uma necessidade pessoal. Eu tinha problemas de saúde e não encontrava receitas tão saudáveis quanto as que precisava. Então passei a criar as minhas próprias versões e, quando percebi, já havia uma comunidade inteira se interessando por isso”, relembra Camila.
Vegana há mais de 12 anos e diabética desde a adolescência, Camila encontrou na alimentação 100% vegetal uma forma de melhorar sua saúde. A bagagem científica foi essencial para dar credibilidade ao trabalho, especialmente em um ambiente digital saturado por fake news e promessas milagrosas.
“Eu sempre gostei muito de química. Culinária é química também. Então, adapto receitas tradicionais para versões mais saudáveis, mas sempre com base em conhecimento científico. Isso faz diferença para quem me acompanha”, explica.
O empreendedorismo por trás da paixão
Apesar da paixão pela ciência, Camila percebeu que queria impactar as pessoas de forma prática. O que nasceu como hobby foi ganhando contornos de negócio: primeiro com doações, depois com o YouTube, até se expandir para produtos físicos, livros e cursos digitais.
“Eu comecei sem investimento, gravando com iPad e editando no Movie Maker. Aos poucos fui aprendendo fotografia, edição, marketing digital e gestão. Hoje tenho uma equipe pequena, mas no início fiz tudo sozinha. O mais importante foi enfrentar o medo e dar o primeiro passo”, conta.
A transição também envolveu quebrar preconceitos. “Na academia, eu tinha ranço da palavra ‘empreendedor’. Mas descobri que é possível empreender de forma positiva, gerando impacto social e ambiental, e não apenas pensando no lucro pelo lucro”, disse.
O conteúdo do “Pensando ao Contrário” vai além da alimentação. A proposta é propor um estilo de vida que alia saúde, ética e sustentabilidade. Estudos científicos já apontam que dietas baseadas em vegetais reduzem significativamente o impacto ambiental, liberando áreas para reflorestamento e mitigando os efeitos das mudanças climáticas.
“Quando você escolhe uma alimentação vegana e balanceada, é bom para você, para o planeta e para os animais. Tento mostrar isso de forma acessível, porque sei que mudar hábitos não é fácil. Muitas vezes, o maior desafio não é a comida em si, mas o fator social, na rotina junto dos familiares e amigos que compartilham de outros produtos”.
Hoje, Camila vê no conhecimento a chave para transformar hábitos. Por isso criou a “Escola Pensando ao Contrário”, voltada a capacitar pessoas que desejam aprender a cozinhar de forma mais saudável, entender rótulos e construir uma nova relação com a alimentação.
Do primeiro vídeo amador no YouTube a uma marca consolidada, ela mostra que empreender também pode ser um ato político, ético e sustentável. “Meu conselho para quem quer começar é enfrentar o medo. Sempre vai parecer difícil no início, mas a prática mostra que a gente é capaz de aprender e crescer. E, principalmente, buscar empreender em algo que traga impacto positivo. Isso dá sentido a tudo.”
Assista na íntegra aqui:
