Comunidades digitais impulsionam novo boom do empreendedorismo de nicho
Pequenos negócios nascem em grupos de WhatsApp, Telegram e redes sociais, transformando interações comunitárias em fontes reais de renda e inovação
247 - O empreendedorismo brasileiro está passando por uma revolução silenciosa — e ela acontece dentro de grupos de WhatsApp, Telegram e comunidades online. Segundo reportagem do Portal Terra, esses espaços digitais se transformaram em verdadeiros berços de novos negócios, impulsionando o chamado “boom do empreendedorismo de nicho”: comércios hiperlocalizados e voltados a públicos muito específicos, formados a partir de interações comunitárias.
De acordo com o especialista em empreendedorismo Brunno Galvão, CEO da Rede Benkei de Restaurantes, “diversos pequenos negócios estão nascendo dentro de grupos como WhatsApp, Telegram e fóruns online. Trata-se de um verdadeiro boom do empreendedorismo de nicho, que está gerando fonte real de renda”. O fenômeno vem mostrando como o engajamento digital pode transformar hobbies e trocas cotidianas em empreendimentos sustentáveis.
Exemplos se multiplicam pelo país. O sucesso do bolo de pote, por exemplo, começou em grupos de mães e vizinhos trocando receitas no WhatsApp, e hoje é produto fixo em cafeterias e franquias. O mesmo aconteceu com os brigadeiros gourmet, que surgiram em comunidades de confeitaria no Instagram e Telegram e se tornaram microfranquias locais. Os brechós virtuais seguiram o mesmo caminho: nascidos em grupos de moda sustentável no Facebook, hoje movimentam milhares de seguidores no Instagram e vendem roupas com curadoria e assinaturas mensais.
A tendência também alcança segmentos como o de produtos infantis personalizados, que cresceram em grupos de gestantes e mães trocando indicações de costureiras e artesãs locais. Até mesmo as figurinhas da Copa do Mundo geraram microcomércios temporários: durante o torneio, grupos no WhatsApp e Telegram conectaram colecionadores e revendedores, movimentando milhares de trocas e vendas.
Nos últimos anos, uma nova fase desse fenômeno vem se consolidando com o uso do WhatsApp como plataforma de assinatura. Muitos empreendedores oferecem acesso antecipado a ofertas, curadorias exclusivas ou produtos personalizados mediante mensalidades simbólicas. O resultado é uma base de consumidores fiéis e recorrentes, sustentada por confiança e proximidade. “Essas comunidades funcionam como incubadoras de negócios”, explica Galvão. “Elas oferecem confiança, feedback rápido, avaliações sobre revendedores e uma divulgação orgânica que seria caríssima fora desses grupos.”
Há também fenômenos sazonais, como o comércio informal de figurinhas da Copa, que, embora passageiro, exemplifica o potencial de mobilização e renda das comunidades digitais. “Mesmo os casos efêmeros mostram o poder de geração de oportunidades dentro desses ambientes”, observa o especialista.
Para Galvão, o que está em curso é uma mudança estrutural no modo de empreender. A economia digital se fragmenta e se personaliza, com novos empreendedores validando ideias em nichos engajados, testando produtos e expandindo apenas após a aprovação de suas comunidades. “As redes sociais privadas viraram os novos mercados”, afirma. “Elas geram empreendimentos com maior capacidade de sobrevivência, porque são validados por pessoas reais, dentro de ecossistemas de confiança.”
