Concorrência entre marketplaces no Brasil entra em fase mais madura
Comércio eletrônico deixa foco exclusivo em preço e passa a valorizar logística eficiente previsibilidade de entrega e confiança na experiência de compra
247 - A disputa entre Shopee, Amazon, AliExpress e Mercado Livre no Brasil entrou em uma nova etapa. Após um período marcado por cupons agressivos e forte subsídio ao frete, a concorrência entre os principais marketplaces passou a ser guiada por fatores estruturais, como eficiência logística, previsibilidade de entrega e segurança ao longo de toda a jornada de compra.
O movimento ocorre em um mercado que movimentou R$ 204,3 bilhões em 2024 e respondeu por cerca de 9% do varejo nacional, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), entidade que acompanha a evolução do setor no país.
Com a consolidação do e-commerce, o comportamento do consumidor brasileiro também mudou. A tolerância a atrasos, falhas no pós-venda e processos de troca pouco claros diminuiu de forma significativa. Nesse contexto, o preço isolado deixou de ser o principal critério de escolha, abrindo espaço para plataformas capazes de oferecer uma experiência mais previsível, do pedido à entrega final.
Para Hugo Vasconcelos, especialista em vendas em marketplaces e sócio da VDV Group, essa mudança ajuda a explicar a nova lógica competitiva do setor. “O consumidor passou a comparar a experiência como um todo. Entrega previsível política de devolução clara e reputação do vendedor hoje pesam mais do que descontos pontuais”, afirma.
Estratégias distintas em um mesmo mercado
A transformação no comportamento do consumidor se reflete nas estratégias adotadas pelas principais plataformas. Shopee e AliExpress continuam apostando em cupons e preços reduzidos como ferramentas de aquisição e ganho de volume, especialmente em categorias mais sensíveis ao valor final do produto.
A Amazon mantém o foco em um sortimento amplo e na fidelização de clientes por meio do programa Prime, concentrando entregas rápidas nas regiões já bem atendidas por sua rede logística. O Mercado Livre, por sua vez, vem reforçando uma estratégia baseada na integração logística e no fortalecimento do ecossistema de vendedores que atuam dentro da plataforma.
Dados divulgados pela própria companhia indicam que mais de 90% das entregas realizadas no Brasil já passam por sua malha logística própria. Esse controle direto amplia a previsibilidade dos prazos e reduz falhas operacionais. A expansão de centros de distribuição no Nordeste, no Sul e no Centro-Oeste integra essa resposta competitiva, especialmente diante de plataformas que ainda dependem majoritariamente de importações e de prazos mais longos.
Profissionalização como diferencial competitivo
O novo desenho do mercado também impacta diretamente quem vende nos marketplaces. Informações do Sebrae apontam que a ausência de gestão logística, financeira e operacional figura entre os principais fatores de insucesso de pequenos negócios no ambiente digital. Como resposta, as plataformas passaram a exigir padrões mais elevados de atendimento, emissão regular de notas fiscais e histórico consistente de performance.
Nesse cenário, a adoção de regras mais rígidas e a exigência de integração logística funcionam como um filtro natural. Ao priorizar vendedores mais estruturados, os marketplaces reduzem conflitos, aumentam a confiança do comprador e ampliam a taxa de recompra, criando um ciclo mais sustentável para todo o ecossistema.
O que observar antes de escolher a plataforma
Para empresas e empreendedores que já atuam ou pretendem ingressar no comércio eletrônico, a leitura desse novo cenário tornou-se estratégica. Em vez de considerar apenas taxas e incentivos iniciais, especialistas recomendam avaliar critérios como estabilidade da operação, acesso a dados, previsibilidade de frete e mecanismos de reputação. Esses fatores tendem a influenciar o desempenho no médio e no longo prazo mais do que campanhas sazonais de desconto.
A competição entre Shopee, Amazon, AliExpress e Mercado Livre segue intensa, porém mais racional. À medida que o comércio eletrônico se consolida como um dos principais canais do varejo brasileiro, ganham espaço as plataformas que conseguem equilibrar preço, eficiência e confiança, enquanto modelos sustentados apenas por subsídios começam a dar sinais de esgotamento.
