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Crédito para MEI fica mais acessível, mas uso consciente preocupa especialistas

Pesquisa do Sebrae indica melhora no acesso a financiamentos para microempreendedores, enquanto juros elevados e endividamento acendem alerta

Crédito para MEI fica mais acessível, mas uso consciente preocupa especialistas (Foto: ABr | Divulgação )

247 - O acesso ao crédito para microempreendedores individuais (MEIs) apresentou sinais consistentes de melhora nos últimos meses, trazendo alívio para um segmento que historicamente enfrentou dificuldades para financiar seus negócios. Dados recentes mostram que bancos e instituições financeiras passaram a adotar uma postura mais aberta em relação ao microempreendedor, embora o cenário ainda exija cautela, especialmente diante das altas taxas de juros praticadas no mercado.

De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Sebrae em outubro, o ambiente para obtenção de crédito atingiu o melhor patamar dos últimos anos. Segundo o levantamento, 33,2% dos MEIs classificaram a situação para conseguir financiamento como “normal”, enquanto 9,2% afirmaram que o processo foi “fácil”, um avanço relevante em comparação a períodos anteriores.

Para especialistas, a mudança reflete um olhar mais atento do sistema financeiro para a realidade do microempreendedor individual. “Esse cenário mostra que os bancos estão começando a olhar para o MEI de forma diferente. Antes, o microempreendedor esbarrava em exigências difíceis de cumprir, muita burocracia e critérios que não consideravam a realidade de quem empreende sozinho”, explica Kályta Caetano, contadora especialista em MEI da MaisMei, empresa que auxilia a gestão e a regularização de microempreendedores por meio de um SuperApp.

Apesar da maior disponibilidade de crédito, o tema do uso responsável ganhou protagonismo. O acesso facilitado pode se transformar em um risco quando não há planejamento financeiro adequado, sobretudo para empreendedores que já enfrentam dificuldades com dívidas acumuladas.

“Identificamos que quase metade (44,5%) dos MEIs que buscam empréstimos já têm alguma dívida ou pendência no CNPJ. Com os juros altos, pegar mais crédito sem planejamento pode virar uma bola de neve rapidinho”, alerta Kályta.

Os números reforçam a preocupação. Segundo o Sebrae, o microempreendedor individual paga, em média, 44% de juros ao ano ao contratar um empréstimo, índice que chega a ser quase três vezes superior à taxa Selic, atualmente em 15%. Em algumas regiões do país, o peso é ainda maior: no Nordeste, por exemplo, os juros podem alcançar 51% ao ano, ampliando o risco de inadimplência.

Nesse contexto, o crédito segue sendo uma ferramenta importante para o crescimento dos pequenos negócios, mas precisa estar alinhado a uma gestão financeira rigorosa. “Para a saúde financeira do microempreendedor, é determinante a revisão de todos os gastos e acontecimentos, para um diagnóstico básico que auxilia os próximos passos do negócio, especialmente em períodos como a virada de ano. Examinar extratos, faturas, os próprios contratos de crédito, entre outros, revela padrões de consumo e decisões que, no dia a dia, passam despercebidos”, recomenda Jonas Carvalho, CEO da Hike Capital.

O cenário atual indica avanços relevantes no acesso ao financiamento para MEIs, mas também evidencia a necessidade de educação financeira e planejamento. Em um ambiente de juros elevados, a decisão de tomar crédito pode ser decisiva tanto para impulsionar o crescimento quanto para comprometer a sustentabilidade do negócio no médio e longo prazo.