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Delegar com método tira empresários do operacional e libera foco para crescer

Transformação da Elev Tecnologia mostra como metas claras e processos estruturados permitem ao fundador migrar da execução para o estratégico

Delegar com método tira empresários do operacional e libera foco para crescer (Foto: Reprodução/Freepik)

247 - A promessa de liberdade é um dos maiores atrativos da vida empreendedora, mas também uma das frustrações mais comuns quando o negócio depende totalmente do dono. A saída desse ciclo passa por um processo estruturado de gestão e delegação, como mostra o exemplo do empresário Valdik Guerra Lima. Fundador da Elev Tecnologia, ele só conseguiu se afastar do dia a dia da operação quando adotou um método claro para descentralizar funções, estabelecer metas e criar previsibilidade nos resultados.

A história de Guerra foi destacada pelo programa Giants, iniciativa liderada pelo especialista em gestão Marcus Marques, que orienta líderes a assumirem posições mais estratégicas dentro de suas empresas. Segundo o empresário, o erro mais comum é tentar se afastar do operacional antes de estruturar as bases. “Durante muito tempo alimentei a intenção de sair do operacional, de migrar para um papel mais estratégico, mas não havia clareza sobre como conduzir essa transição. A percepção da necessidade vinha antes da compreensão do caminho”, relembra.

O ponto de virada veio com a implementação de um roteiro técnico e prático de delegação. “Segui um roteiro prático e conceitual para essa mudança que foi fornecido para a nossa equipe, o que possibilitou criarmos método, organização e, sobretudo, segurança para a delegação”, afirma Guerra. O empresário enfatiza que a delegação não é apenas uma mudança de tarefas, mas um processo mental. “É desafiador romper com o impulso de estar à frente de tudo. A dificuldade não está apenas em confiar na equipe, mas em vencer a própria resistência à descentralização.”

Esse tipo de transformação começa com três pilares essenciais: estruturação de processos, clareza de indicadores e formação de lideranças internas. Só depois disso é possível sair do controle total e liberar espaço para decisões estratégicas. “A liberdade não pode anteceder a maturidade do negócio. É preciso construir as condições para, então, conquistar autonomia”, resume Guerra.

A experiência prática mostra que resultados consistentes vêm após essa virada de chave. No caso da Elev Tecnologia, a mudança metodológica permitiu um salto de 30% a 35% na carteira de clientes no primeiro trimestre de 2025 em relação ao ano anterior. Mais importante do que o crescimento numérico foi o avanço na complexidade dos projetos, especialmente em automação de processos. “Isso só foi possível com previsibilidade de resultados, condição indispensável para decisões mais ousadas”, destaca.

A mudança no modelo de gestão também trouxe ganhos em produtividade e qualidade de vida. “Hoje, compreendo que uma empresa precisa ter continuidade mesmo sem a presença constante do fundador. E para isso, a estrutura é inegociável”, reforça Guerra.

A centralização é, ainda hoje, uma barreira para a maioria dos empreendedores. De acordo com pesquisa da The Alternative Board, 68% dos empresários seguem presos a tarefas operacionais, enquanto apenas 32% atuam de forma estratégica. Para Marcus Marques, esse é um dos principais gargalos de crescimento. “Empresas que mantêm o dono no centro de todas as decisões tornam-se frágeis, lentas e incapazes de escalar com consistência”, alerta.

Marques aponta que o excesso de centralização compromete o time e impede a formação de novas lideranças. “O empresário precisa entender que, ao continuar em todas as frentes, ele deixa de ser alavanca e passa a ser o freio da operação”, afirma.

Mas como saber que chegou a hora de delegar? Entre os principais sinais estão o acúmulo de tarefas que impedem o pensamento estratégico, a sobrecarga emocional, a estagnação dos resultados e a dependência da presença do fundador para que tudo funcione. “Se o negócio só anda quando o dono está presente, algo está errado”, diz Marques.

A recomendação dos especialistas é clara: antes de sair do operacional, é preciso preparar o terreno. Isso inclui criar processos padronizados, conhecer a fundo os indicadores financeiros e desenvolver um time confiável. A liberdade na gestão não vem da ausência do dono, mas da sua evolução para um papel de estrategista. “É preciso crescer com segurança, e não se ausentar por instinto. Delegar não é se ausentar do negócio, é assumir o papel de estrategista, que garante o presente e desenha o futuro da empresa”, conclui Marques.