Educação financeira fortalece o aprendizado e prepara alunos para a vida
Metodologias gamificadas ajudam escolas a cumprir a BNCC e a desenvolver competências práticas, socioemocionais e familiares
247 - A educação financeira tem ganhado espaço nas escolas brasileiras desde que passou a ser obrigatória pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2020. No entanto, transformar essa exigência normativa em aprendizado efetivo ainda é um desafio. Em meio ao planejamento do próximo ano letivo, educadores e gestores se deparam com a necessidade de ir além do cumprimento formal do currículo e buscar formas mais profundas e significativas de formação dos estudantes.
Segundo informações da Investeendo, startup especializada em educação financeira por meio da gamificação, a inclusão do tema nas escolas ocorreu sem o preparo necessário. “É muito difícil quando uma obrigação começa a valer sem que tenha havido um planejamento prévio. A BNCC passou a exigir a educação financeira, mas as universidades não prepararam os novos licenciandos para isso; quase não foram criados cursos de formação continuada para quem já estava na sala de aula. Diante disso, o que acabou sendo possível para muitas escolas foi adotar algum sistema de ensino ou material pronto e colocar um professor, quase sempre o de matemática, para ensinar o que fosse capaz”, afirma Sam Adam Hoffmann, cofundador e CEO da empresa.
Esse contexto evidencia que a simples presença da educação financeira no currículo não garante, por si só, uma formação consistente. Muitas vezes, o conteúdo é tratado de maneira superficial, desconectado da realidade dos alunos e das decisões práticas que eles enfrentarão ao longo da vida. Para especialistas, a diferença está em enxergar o tema como uma oportunidade pedagógica, e não apenas como uma obrigação legal.
Quando estruturada de forma adequada, a educação financeira contribui para o desenvolvimento de competências que extrapolam o domínio de números e cálculos. Ela envolve comportamento, tomada de decisão, planejamento, responsabilidade e consciência social. “Quando a escola oferece uma formação financeira realmente significativa, ela está desenvolvendo habilidades que serão úteis para todos os estudantes, independentemente da área que escolherem seguir. Seja medicina, direito, engenharias ou qualquer outra profissão, todos precisam saber administrar suas finanças”, ressalta Sam. Segundo ele, esse tipo de ensino se torna um diferencial percebido pelas famílias, pois demonstra que a escola prepara o aluno não apenas para provas e vestibulares, mas para a vida adulta.
Ensino lúdico e prático
Um dos principais obstáculos para a consolidação da educação financeira nas escolas é a falta de capacitação específica dos professores. Soma-se a isso o predomínio de metodologias tradicionais, que muitas vezes não despertam o interesse dos alunos. No caso da educação financeira, a limitação é ainda maior, já que o aprendizado depende menos de teoria e mais de vivências práticas, escolhas e experiências concretas.
Foi a partir dessa lacuna que a Investeendo passou a desenvolver jogos e metodologias baseadas na gamificação para o ensino de educação financeira e empreendedorismo. A iniciativa começou com um jogo físico, que continua em uso, e evoluiu para soluções digitais, como aplicativos instalados em tablets ou totens que simulam caixas eletrônicos. Esses recursos permitem, inclusive, a criação de uma microeconomia dentro da sala de aula. Mais de 6 mil alunos no Paraná já participaram das atividades, aprendendo conceitos como poupança, consumo consciente e mercado de ações.
A metodologia tem caráter transversal e pode ser utilizada por professores de diferentes disciplinas. Por meio do jogo digital, os educadores criam missões ligadas às atividades pedagógicas, que rendem moedas fictícias aos alunos. Esses recursos podem ser trocados por vantagens dentro do jogo ou por benefícios concretos, como a possibilidade de realizar uma avaliação em dupla. A proposta estimula o engajamento e reforça a relação entre esforço, recompensa e planejamento.
“Com as gerações Z e Alpha, o formato tradicional de ensino tende a funcionar cada vez menos, porque já não conversa com a forma como esses jovens se relacionam com o mundo. Por outro lado, quando a escola adota metodologias ativas, especialmente a gamificação, ela devolve ao estudante o protagonismo, oferece escolhas reais e cria uma experiência de aprendizagem muito mais envolvente e significativa”, explica Sam.
Escolas como agentes de transformação social
A escola ocupa um papel central na formação humana. Grande parte da infância e da adolescência acontece dentro do ambiente escolar, que influencia comportamentos, valores e perspectivas de futuro. Em um país que soma mais de 80 milhões de pessoas endividadas, segundo dados do Serasa, a educação financeira desde cedo surge como uma ferramenta estratégica para reduzir problemas estruturais.
Além do endividamento, o avanço das casas de apostas e de hábitos financeiros prejudiciais tem impactado famílias em todo o país. Para Sam, a educação pode alterar esse cenário ao formar jovens mais críticos e conscientes. “A educação tem força para alterar o cenário do país ao formar jovens mais críticos e conscientes, e esses jovens podem se tornar vetores de desenvolvimento financeiro e social dentro de suas próprias famílias”, destaca.
As próprias instituições de ensino também colhem benefícios ao investir em uma abordagem estruturada de educação financeira. Além de cumprir a BNCC, elas fortalecem o vínculo com as famílias e ampliam seu papel social. De acordo com o ex-professor da rede pública, ensinar noções básicas de investimento não beneficia apenas o estudante, mas também seu entorno familiar, que passa a enxergar a escola como um espaço que contribui efetivamente para o desenvolvimento do núcleo familiar, e não apenas como um local de transmissão de conteúdos.
