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Empreendedoras maranhenses transformam territórios com a força da culinária

Projetos da Aliança Empreendedora impulsionam mulheres de São Luís e do interior a gerar renda, preservar tradições e fortalecer a economia local

Empreendedoras maranhenses transformam territórios com a força da culinária (Foto: Divulgação/Aliança Empreendedora )

247 - A culinária sempre foi um dos pilares da identidade maranhense, mas, nos últimos anos, ela também tem se tornado uma importante ferramenta de autonomia e transformação social para mulheres do estado. As informações desta reportagem são baseadas em conteúdo divulgado pela Aliança Empreendedora, que desenvolve programas de capacitação voltados ao fortalecimento do empreendedorismo feminino em territórios urbanos e rurais do Maranhão.

Em São Luís e em cidades do interior, mulheres que encontraram na cozinha um caminho de renda e expressão cultural agora ampliam seus horizontes com o apoio de iniciativas como o Empreendendo o Futuro, o Formando e Cozinhando e o Negócio Raiz. Com histórias distintas, mas unidas pelo mesmo impulso de superar desafios, essas empreendedoras mostram como o alimento pode ser motor de desenvolvimento econômico, cultural e comunitário.

Da necessidade ao protagonismo

Entre essas mulheres está Rafaella Cristina Nogueira Rodrigues, de 37 anos, criadora do Tá na Hora Açaí e Guaraná da Rafa. Ela participou da formação oferecida pelo projeto Empreendendo o Futuro, realizado pela Aliança Empreendedora com apoio da Suzano. Também fez parte da turma que se formou no Formando e Cozinhando, programa coordenado pelo governo do Maranhão por meio da SEDES.

Rafaella iniciou o negócio em meio a um período turbulento. “Comecei em um momento de dificuldade financeira, no momento em que meu esposo ficou desempregado. Foi aí que minha mãe deu a ideia de fazermos algo. Começamos com o guaraná da Amazônia, fui conquistando meus clientes e vendo uma maneira de agregar mais e mais para eles”, relata.

Ela conta que sua relação com a cozinha nasceu ainda na infância. “Sempre tive contato com a cozinha, pois minha avó amava fazer bolos e doces. Deixei de trabalhar CLT quando descobri o diagnóstico do meu filho, que tem TEA (Transtorno do Espectro Autista)”.

Hoje, Rafaella trabalha com delivery de açaí, guaraná e panquecas, mas ainda enfrenta limitações estruturais. “Meu plano agora é conseguir um freezer, pra que eu possa ter mais caixas de açaí. Meu sonho é poder ter um lugar físico ou conseguir um carrinho que eu possa personalizar e levar o meu trabalho para outras pessoas conhecerem”, afirma.

A formação oferecida pela Aliança Empreendedora foi decisiva para ampliar seu horizonte. “Participar do projeto foi maravilhoso, sensacional, pois foi uma bagagem de aprendizado em minha vida em todos os sentidos. Profissional, de mais conhecimento, e pessoal, de que somos capazes de conseguir o que desejamos, do empoderamento da mulher no mundo”.

Alimentar, inspirar e resistir

Outra história que ilustra a força do empreendedorismo feminino é a de Edilene Mendes Andrade, de 50 anos, proprietária do Delícias do Mana. Filha de quebradeira de coco babaçu, Edilene migrou da baixada maranhense para São Luís em busca de mais oportunidades.

Ela recorda que sempre precisou trabalhar para ajudar a família e que a cozinha esteve presente desde o começo. “Quando eu era mais nova, tive que trabalhar muito para ajudar meus pais, e uma das formas de trabalho foi por meio da culinária. Quando tive minha família, precisei trabalhar com algo e resolvi investir em algo que eu sempre gostei, a cozinha”, conta.

Edilene começou vendendo cafés, bolos e salgados na porta de hospitais, até conseguir alugar um ponto comercial. Com o aumento dos custos, voltou a trabalhar de casa, sem perder o foco. “O desafio maior é que eu não tenho funcionária, pois ainda não consigo investir em ajudantes. A alimentação é uma forma de inspirar os outros moradores a investirem no seu próprio negócio. No começo é difícil, mas faz parte de toda empresa”.

A participação na capacitação da Aliança Empreendedora também ampliou sua visão de negócio. “Aprendi novas técnicas de montagem de cardápios, precificação e novos cardápios. Eu gostei muito, pois tive a oportunidade de desenvolver o que eu já sabia e aprender técnicas e receitas novas que levarei comigo”.

Coquetelaria com identidade maranhense

A trajetória de Polyana Rafaela Cutrim da Silva, à frente do Bar Girls, mostra como a inovação pode surgir de momentos de crise. Ela começou no setor de eventos em 2013, mas foi durante a pandemia que encontrou seu novo caminho. “Foi então que comecei a fazer pequenas festas privadas, e desse movimento nasceu o Bar Girls”, lembra.

Em um setor dominado por homens, Polyana conquistou espaço com uma proposta de coquetelaria natural e autoral baseada em ingredientes locais. “Um dos maiores desafios foi entrar em um segmento majoritariamente masculino. No início, precisei conquistar respeito e espaço mostrando meu profissionalismo e o diferencial da minha proposta”, afirma.

Para ela, a coquetelaria é também uma forma de celebrar cultura. “A coquetelaria tem um papel lindo, pois ela celebra encontros, alegrias e tradições. Além de criar receitas incríveis, ela movimenta a economia criativa, valoriza produtores locais e reforça a cultura de festejar com autenticidade”.

Polyana participou do Negócio Raiz, iniciativa da Aliança Empreendedora apoiada pela Youth Business International (YBI) e financiada pela Standard Chartered Foundation. “Pude aprender muito, trocar ideias com outras pessoas do ramo e fortalecer minha visão empreendedora. Foi um divisor de águas na forma como enxergo o meu negócio”.

Impacto social com raízes fincadas no território

Para a Suzano, parceira de um dos projetos, o apoio ao empreendedorismo local faz parte de uma estratégia maior. Segundo André Becher, gerente de Sustentabilidade da empresa, “Como parte das metas de longo prazo da empresa, pretendemos, até 2030, contribuir para que 200 mil pessoas residentes nas regiões onde a Suzano está presente saiam da linha da pobreza. Para que isso aconteça, é essencial apoiar iniciativas voltadas à geração de renda e à educação, como o projeto Formando e Cozinhando”.

A força desses programas aparece em um contexto de crescimento econômico no estado. No primeiro semestre de 2025, o Maranhão registrou 33.751 empresas abertas — o maior número da história, segundo dados da Junta Comercial (Jucema). As micro e pequenas empresas foram responsáveis por mais de 91% dessas aberturas.

“Com o Formando e Cozinhando e o Negócio Raiz, conseguimos apoiar centenas de mulheres que hoje geram renda, fortalecem suas comunidades e mantêm vivas as tradições locais”, destaca Verônica Maio, líder de projetos da Aliança Empreendedora.

Formação contínua e apoio gratuito

Além dos cursos presenciais, a Aliança Empreendedora mantém o Tamo Junto, portal gratuito com mais de 240 conteúdos para microempreendedores. Com mais de 300 mil inscritos, a plataforma oferece trilhas de marketing, finanças, vendas, formalização e comportamento empreendedor.

Em duas décadas de atuação, a organização já apoiou mais de 250 mil microempreendedores em todo o país e foi reconhecida em 2023 como a Melhor ONG de Geração de Renda do Brasil.