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Empreendedores do Pará levam a floresta à passarela do SPFW

Coleção Gaiafilia une o estilista Leandro Castro a empreendedores de Santarém e transforma a passarela em vitrine da floresta amazônica

Desfile da coleção Gaiafilia, do estilista Leandro Castro. (Foto: Tulio Vidal/Sebrae)

247 - As passarelas do São Paulo Fashion Week (SPFW), na quinta-feira (16), se tornaram palco de uma celebração entre arte, moda e natureza. A coleção Gaiafilia, assinada pelo estilista Leandro Castro, apresentou um diálogo profundo entre a criação contemporânea e os saberes tradicionais da Amazônia. O trabalho é resultado de uma imersão promovida pelo Sebrae Nacional, dentro do projeto Bioma Amazônico, coordenado por Walter Rodrigues, da Assintecal, e teve como parceiros empreendedores de Santarém (PA). As informações são do Sebrae.

A coleção nasceu do encontro entre o olhar criativo de Leandro e o trabalho de marcas paraenses como Nunghara Biojoias, Coomflona, Cuias Aíra, Biojoias Natureza Viva e Trançados do Arapiuns, que participam pela primeira vez da 60ª edição do SPFW, aberta até o dia 20 de outubro. O desfile e o estande do Sebrae no evento revelam o potencial da floresta como fonte de inovação, identidade e beleza sustentável.

 “A moda como arte tira da terra o que ainda não foi visibilizado”, afirma Leandro Castro. “Trabalhar com as comunidades me ensinou o tempo das mãos. Às vezes o material só existe quando a natureza pode oferecer. Não é o tempo que eu quero, é o tempo dela.”

Em Gaiafilia — neologismo que significa “amor à terra” —, o estilista apresentou 30 looks agênero, produzidos com palhas da comunidade Coroca, cuias da Aíra, madeiras de manejo florestal, acessórios de sementes e látex amazônico. As peças traduzem a floresta em textura, forma e cor. Após o desfile, o acervo seguiu para exposição no estande do Sebrae, onde permanece até o encerramento do evento.

A empreendedora Natashia Santana, fundadora da Nunghara Biojoias, celebrou o reconhecimento conquistado.

 “A gente sonha em mostrar que a Amazônia também faz design”, disse. “A Nunghara só está aqui por causa do Sebrae, que nos apoia desde o início, com mentorias, incubação e o Bolsa Empreendedor. As peças que fizemos com o Leandro foram tecidas com a semente da saboneteira de macaco, que lembra uma pérola negra, e pesam mais de 12 quilos. São roupas inteiras feitas só de semente.”

Emocionada, ela descreveu o momento em que viu o trabalho da marca na passarela.

 “Ver o trabalho da Nunghara no São Paulo Fashion Week é como ver a floresta ganhar forma, brilho e reconhecimento. Cada semente ali carrega a nossa história — das mulheres que coletam, das mãos que tecem, de uma Amazônia que cria com propósito.”

Outro parceiro da coleção, Arimar Feitosa Rodrigues, da Coomflona (Cooperativa Mista da Flona Tapajós), destacou o impacto da visibilidade alcançada no evento.

 “Ver nossa matéria-prima sendo utilizada nas confecções do Leandro foi algo maravilhoso e causa uma boa expectativa para todos nós que vivemos da floresta. Fiquei muito emocionado porque vendo a luta que a gente passa, e aí ver as pessoas falando com a gente, aplaudindo, pedindo foto, essa coisa toda é muito importante para o nosso trabalho e para a nossa vida.”

A Coomflona trabalha com manejo florestal sustentável, produzindo mantas de látex — conhecidas como “couro ecológico” — e peças de movelaria utilizadas na coleção. A cooperativa também desenvolveu, em parceria com Walter Rodrigues, a cadeira Boto, destaque do estande do Sebrae pela combinação de design contemporâneo e matéria-prima amazônica.

A artesã Nilena Guimarães, da Associação Trançados do Arapiuns, representou mais de duzentas mulheres na SPFW.

 “Nós trabalhamos com a fibra do tucumã, que trouxemos pro Leandro no tom natural e no tom de jenipapo. O Leandro usou do jeito dele, a gente nem sabia como ia ficar — foi surpresa! Foi uma sensação única, me emocionei. Ver o nosso produto valorizado e colocado dentro de uma passarela reconhecida mundialmente foi maravilhoso.”

Para Walter Rodrigues, coordenador do projeto Bioma Amazônico, a presença da Amazônia no SPFW simboliza o amadurecimento de um trabalho iniciado há quase uma década.

 “O projeto Iconografia Local une cultura e produção. No Pará, trabalhamos com 19 empreendimentos, conectando comunidades que antes nem se conheciam para desenvolver produtos com valor e não preço apenas. Na Amazônia, não falamos de desenvolvimento sustentável, e sim de envolvimento sustentável, que é aprender com quem cuida da floresta há séculos e construir juntos algo contemporâneo.”