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Empreendedorismo racial de MT conquista reconhecimento nacional

Vitória no É de Casa projeta trancista da Guiné-Bissau radicada em MT e destaca negócio que une identidade cultural, formação profissional e impacto social

Empreendedorismo racial de MT conquista reconhecimento nacional (Foto: Divulgação )

247 - A empreendedora cultural e trancista Diela Tamba Nhaque, natural da Guiné-Bissau e residente em Várzea Grande (MT), alcançou projeção nacional ao vencer o Expo Favela – O Desafio, concurso exibido no programa É de Casa, da TV Globo. A conquista coloca em evidência um modelo de negócio que articula cultura africana, geração de renda e formação profissional de mulheres negras no Centro-Oeste.

Segundo informações do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de Mato Grosso (Sebrae/MT), a iniciativa contou com o apoio da instituição, que atua no fortalecimento do empreendedorismo periférico e racial no estado. A vitória de Diela ocorreu após uma disputa que reuniu mais de 20 mil projetos inscritos em todo o país.

O resultado garantiu à empreendedora o prêmio de R$ 100 mil e consolidou o reconhecimento de um trabalho que vai além da estética. Para Diela, o diferencial do projeto está na conexão entre técnica, identidade e propósito social. “As tranças e a nossa metodologia de formação são baseadas nas minhas raízes. Não ensinamos apenas a técnica de trançar o cabelo, mas como transformar essa arte em um negócio, com identidade e propósito racial. Nosso trabalho vai além da estética; é sobre resgate de autoestima, autonomia financeira e cuidado com a mulher como um todo”, afirma.

Idealizadora do projeto D’jombai — termo que significa “encontro” em crioulo da Guiné-Bissau —, Diela utiliza o salão Diela Tranças Africanas, localizado em Cuiabá (MT), como espaço de valorização da cultura africana e de capacitação profissional. O local funciona como polo de formação para mulheres da Grande Cuiabá e de Várzea Grande, com cursos que incluem, além das técnicas de tranças, conteúdos de gestão financeira, organização do negócio e relacionamento com clientes e parceiros.

Para o diretor técnico do Sebrae/MT, André Schelini, o reconhecimento nacional evidencia o potencial transformador do empreendedorismo que nasce nas periferias. “O Sebrae Mato Grosso tem orgulho de apoiar iniciativas que nascem nas periferias e unem inovação, identidade cultural e impacto social. Nosso papel é capacitar esses empreendedores para que transformem boas ideias em negócios sustentáveis e competitivos”, destaca.

A trajetória de Diela também é marcada pelo enfrentamento ao racismo, ao preconceito e à xenofobia, desafios que, segundo ela, se transformaram em motivação para investir na educação. “Enfrentei racismo, preconceito e xenofobia. Muitas vezes chorei, mas entendi que precisava combater isso de forma autêntica. A força que encontrei foi investir na educação, formando trancistas empreendedoras, capazes de transformar suas realidades e levar esse conhecimento para a próxima geração”, relata.

O presidente da Central Única das Favelas de Mato Grosso (CUFA-MT), Anderson Zanovello, reforça o caráter coletivo da conquista e a visibilidade alcançada pelo estado no cenário nacional. “Essa vitória não é apenas individual. É uma conquista da CUFA Mato Grosso, dos empreendedores, parceiros e de todos que acreditam que a favela é potência. Chegar à final e vencer mostra que Mato Grosso tem força no empreendedorismo periférico e pode realizar grandes feitos”, afirma.

A caminhada da empreendedora está diretamente ligada à Expo Favela Innovation Brasil, iniciativa da Central Única das Favelas (CUFA) que conecta negócios periféricos a investidores, empresas e oportunidades de mercado. Em Mato Grosso, o projeto conta com apoio do Sebrae/MT, ampliando o acesso à capacitação, a redes de apoio e à visibilidade em nível nacional.

Com a regulamentação nacional da profissão de trancista já consolidada, Diela agora atua para que o tema avance também no âmbito estadual. Para ela, a vitória no Expo Favela carrega ainda uma mensagem para outras mulheres negras que desejam empreender. “A nossa cultura tem poder. Precisamos acreditar no nosso potencial, respeitar o processo e entender que ninguém começa grande. Quem ficou grande um dia começou pequeno”, finaliza.