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“Empreender foi o único caminho para construir meu espaço”, diz Thithi Galdino

Referência em diversidade no ecossistema de inovação, empreendedora trans fala sobre reconstrução e o desafio de resgatar a empatia e a humanidade

Empreendedora Thithi Galdino, fundadora da Vanthi Eventos e vencedora do Startup Awards (Foto: Divulgação )

Beatriz Bevilaqua, 247 - Ser mulher trans no mercado de tecnologia e inovação ainda é um ato de resistência. E foi exatamente dessa resistência que nasceu o empreendimento de Thithi Galdino, fundadora da Vanthi Eventos e vencedora do Startup Awards, que hoje é reconhecida nacionalmente como uma das principais vozes pela diversidade no ecossistema empreendedor.

“Me tornei empreendedora por questão de necessidade, porque era o único caminho que eu vi naquele primeiro momento”, conta Thithi. “No meu processo de transição, percebi que o mercado de trabalho não iria me oferecer o mesmo espaço. Então, precisei criar o meu próprio caminho.”

A virada aconteceu em 2020, quando, recém-saída da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), recebeu um convite para abrir um CNPJ. A partir dali, nasceu a Vanthi, empresa que atua na produção de eventos e gestão de autoridade dentro do ecossistema de inovação.

A trajetória de Thithi é um retrato das desigualdades estruturais que marcam o empreendedorismo feminino no Brasil, ainda mais quando atravessado por questões de gênero e identidade. “Muitas mulheres empreendem por necessidade, não por escolha. O mundo é cruel, o mercado é excludente, e a gente precisa encontrar meios de sobreviver”, afirma.

Mesmo enfrentando um ambiente hostil,Thithi construiu uma rede de apoio essencial para manter a saúde mental e a motivação. “O primeiro passo foi estar com pessoas que acreditam em mim. Isso fez toda a diferença. As microviolências estão aí todos os dias, mas não são o meu centro. O meu centro são as pessoas que me fortalecem e ampliam as vozes de outras mulheres.”

Antes de se lançar no empreendedorismo, Thithi acumulou experiência no ecossistema catarinense, atuando com incubação, internacionalização e iniciativas de inovação feminina. Essa trajetória serviu de base para o que ela hoje chama de seu “primeiro produto”: as conexões genuínas.

“Meu primeiro produto fui eu mesma. Usei as conexões que tinha desde 2018 para gerar negócios e parcerias reais. Hoje, ajudo meus clientes a construir autoridade da mesma forma como fiz comigo, criando presença, propósito e comunidade.”

Com a Vanthi, Thithi vem ressignificando o papel dos eventos no ambiente de inovação, aproximando pessoas e causas. “Os grandes eventos estão se transformando em comunidades locais. A tendência é voltar a se conectar com o que está perto, como o vizinho, a feira da esquina, o mercadinho do bairro. São esses pequenos movimentos que nos tornam humanos de novo.”

Para Thithi, a missão de sua empresa e de sua vida é promover o resgate da humanidade. “A pandemia fez a gente olhar só para o que nos afeta diretamente. Perdemos empatia e compaixão pelo outro. Mas é impossível falar em futuro, inovação ou empreendedorismo sem falar de humanidade.”

Essa visão também se reflete na forma como ela lida com os desafios diários e a sobrecarga típica de quem empreende. “Tem dias em que os pratinhos caem, e tudo bem. Se a gente se frustrar com cada erro, não chega à sexta-feira. A terapia ajuda, mas o que me mantém de pé é o senso de sobrevivência. Se não for eu por mim, quem será?”

Hoje, Thithi Galdino se consolidou como uma marca dentro do ecossistema brasileiro de inovação. E, mais do que isso, como um símbolo de coragem e autenticidade. 

“Empreender me salvou, mas também me transformou. Foi o caminho que encontrei para dar voz a outras mulheres, criar espaços de escuta e reconstruir a empatia. No fim das contas, é sobre humanidade e sobre nunca desistir de se reinventar.”

Assista na íntegra aqui: