Empresas com propósito claro ampliam desempenho e fidelizam clientes, aponta estudo
Estudo da Harvard Business Review mostra que companhias que alinham cultura e estratégia a um propósito registram mais crescimento e inovação
247 - Empresas que definem e incorporam um propósito claro em sua estratégia têm obtido resultados muito superiores aos concorrentes focados apenas no lucro. A constatação é do estudo The Top 20 Business Transformations of the Last Decade, publicado pela Harvard Business Review, que analisou casos de gigantes como Microsoft, Netflix, Adobe e Amazon. O levantamento revela que a presença de um objetivo maior, enraizado na cultura e nas decisões de negócio, está diretamente ligada a ciclos mais consistentes de crescimento e reinvenção.
Segundo os autores Scott D. Anthony, Alasdair Trotter e Evan I. Schwartz, o propósito atua como um norte para a empresa, influenciando decisões estratégicas e orientando as tarefas cotidianas. No Brasil, especialistas observam reflexos desse movimento no aumento da produtividade, na retenção de talentos e na fidelização de clientes, comprovando que a clareza de missão pode ser um diferencial competitivo.
“O propósito é o motor da motivação humana. Quando os colaboradores entendem por que fazem o que fazem e percebem o impacto do próprio trabalho, o engajamento cresce de forma natural”, afirma Alexandre Slivnik, vice-presidente da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), professor convidado da FIA/USP e diretor executivo do IBEX, instituto com sede em Orlando especializado na formação de líderes e empresas de alto desempenho.
Slivnik destaca que, quando bem comunicado e incorporado pelas lideranças, o propósito transforma a cultura organizacional e fortalece um ciclo de excelência. “Liderar com propósito significa inspirar de dentro para fora. Uma equipe que se sente valorizada e alinhada aos valores da empresa gera clientes mais satisfeitos e leais. O encantamento começa com o time interno”, pontua.
Um exemplo citado pelo especialista é o da Microsoft, que, sob a gestão de Satya Nadella, adotou uma “cultura de aprendizado” com foco em impacto social e inclusão. O resultado foi uma onda de inovação e crescimento sustentado. “O legado que se constrói com base em um propósito claro é muito mais duradouro do que qualquer ação de marketing isolada”, acrescenta.
No cenário nacional, companhias que investem em treinamentos de liderança orientados para a gestão com propósito registram ganhos expressivos. Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontam que ambientes com forte senso de missão e pertencimento têm até 35% menos rotatividade e 32% mais produtividade.
Para Slivnik, a falta de clareza sobre o impacto das funções desempenhadas está diretamente ligada aos baixos índices de motivação. “Infelizmente, ainda vemos uma grande parcela dos colaboradores desengajada justamente por não enxergar sentido no que fazem. O papel da liderança é resgatar essa conexão e mostrar que toda função, por mais simples que pareça, pode ter um impacto significativo”, diz, citando o caso de uma funcionária da Disney que, ao recolher ingressos, afirmava sorrir por ser a primeira interação mágica do visitante com o parque.
O especialista reforça que a adoção de um propósito institucional precisa estar atrelada a valores reais e vividos no dia a dia. “Não adianta ter missão e visão na parede se o colaborador não sente isso na prática. O propósito precisa ser critério para decisões estratégicas, seleção de talentos e até desenvolvimento de produtos”, conclui.
