“Estamos desaprendendo a conviver”, alerta especialista sobre epidemia da solidão
Autor de best-sellers, Alexandre Coimbra Amaral fala sobre solidão e a importância de preservar a saúde mental na era da hiperconectividade
Beatriz Bevilaqua, 247 - Em um mundo movido pela hiperconectividade e pela produtividade constante, parar tornou-se um gesto de coragem. “Fazer uma pausa é um ato revolucionário na era digital”, afirma o psicólogo, escritor e palestrante Alexandre Coimbra Amaral, autor de seis livros, entre eles o best-seller “Toda ansiedade merece um abraço”, e criador do podcast “Cartas de um Terapeuta”, um dos mais ouvidos do Brasil.
Em entrevista ao programa “Empreender Brasil”, na TV 247, Alexandre falou sobre saúde mental, solidão, cultura algorítmica e a importância do descanso no cotidiano dos empreendedores. Segundo o psicólogo, vivemos uma era paradoxal: quanto mais conectados estamos, mais solitários nos sentimos. “A Organização Mundial da Saúde decretou urgência planetária por conta de uma epidemia de solidão”, destaca.
Para o psicólogo, a chamada “cultura algorítmica” tem papel central nesse cenário. “O algoritmo nos entrega apenas o que confirma nossas ideias e valores. Isso reduz a fricção com a diferença e a convivência depende justamente da capacidade de tolerar a diferença. Estamos desaprendendo a dividir o espaço com o outro”, explica.
Essa desadaptação, segundo Amaral, aprofunda a sensação de isolamento mesmo em meio às multidões. “A promessa da internet era a de que o mundo caberia na palma da mão. Mas o que ela produziu foi o oposto: uma multidão de pessoas se sentindo sozinhas.”
Terapia, tecnologia e vínculos humanos
Alexandre também reflete sobre o crescimento das terapias com inteligência artificial. “A IA confirma o que você deseja ouvir. O terapeuta faz o oposto: desafia o que é difícil de admitir”, afirma. Segundo ele, “a terapia é um encontro de almas”, algo impossível de ser replicado por uma máquina. “O vínculo entre terapeuta e paciente é de confiança, e é justamente essa confiança que permite enfrentar o que é doloroso. Chamar um chatbot de terapeuta é confundir apoio emocional com vínculo humano.”
Durante a conversa, Alexandre também destacou o papel da arte como instrumento de saúde mental, especialmente durante e após a pandemia. “A arte nos salvou. Se não fossem os filmes, as séries, as lives de Caetano e Bethânia, teríamos enlouquecido. A arte nos deu companhia quando o isolamento nos tirou o convívio.”
Ele lembra que o isolamento social, embora necessário, foi contrário à natureza humana. “Nós somos seres relacionais. A saúde mental depende do encontro, do outro, do pertencimento.”
O desafio de empreender sem adoecer
Para o psicólogo, o discurso do empreendedorismo também precisa ser revisto. “A ideia de empreender é muitas vezes associada ao individualismo, mas para mim, empreender é comunitário”, afirma. Segundo Alexandre, o empreendedor moderno carrega o peso da comparação constante e da autossuficiência. “As redes sociais intensificam a culpa: enquanto um descansa, o outro parece produzir sem parar. A gente vive cansado e ainda se culpa por não estar produzindo o suficiente.”
É nesse contexto que ele propõe uma revolução silenciosa: a pausa. “A pausa é talvez a coisa mais revolucionária para um empreendedor. É desenhar o próprio tempo de descanso e protegê-lo da invasão do trabalho. É o que devolve potência à mente, ao corpo e ao sentido do que fazemos.”
Entre temas como exaustão, luto e esperança, sua obra e sua fala convergem para uma mesma mensagem: cuidar de si também é um ato de transformação social.“Empreender com saúde mental é compreender que o sucesso não está apenas em produzir, mas em permanecer inteiro”, conclui.Assista na íntegra aqui: