Feira “Esquerda Livre” conecta pequenos negócios, arte e solidariedade em São Paulo
Evento itinerante reúne artesãos, artistas e progressistas em torno da economia solidária e do consumo consciente
Por Beatriz Bevilaqua, 247 – O que pode nascer da junção entre criatividade, economia solidária e engajamento político? A resposta tem nome e já se tornou um movimento em São Paulo: a Feira Esquerda Livre. Criada em 2020, em meio à pandemia, a iniciativa reúne pequenos negócios, artistas e artesãos comprometidos não só com o consumo consciente, mas também com um posicionamento progressista diante do mundo.
À frente do projeto está a mosaicista e arte-terapeuta Camila Patah, que há mais de 20 anos vive da arte. A ideia surgiu de forma espontânea: “No fim de 2020, organizamos uma primeira feira de Natal. Foi um sucesso. Mais de 40 expositores ocuparam o Sindicato dos Comerciários de São Paulo. A partir dali, decidimos continuar e dar um nome ao projeto”, lembra Camila. O nome nasceu do aviso comum nas escadas rolantes do metrô paulistano: “Deixe a esquerda livre”.
Desde então, o evento cresceu, ocupou espaços simbólicos da cidade, como o Galpão Elza Soares, a Ocupação 9 de Julho, a Funarte e a Praça Roosevelt e se consolidou como ponto de encontro da economia criativa e colaborativa. Hoje, algumas edições chegam a reunir até 180 expositores.
Para participar, há um processo seletivo que considera tanto o produto quanto o posicionamento político. “A feira é feita por e para pessoas de esquerda. Refugiados e imigrantes que participam conosco, muitas vezes, marcam ‘neutro’ no formulário por falta de familiaridade com os termos, mas entendemos que estão do nosso lado, porque compartilham da mesma luta”, explica Camila.
O evento é autofinanciado: os expositores pagam uma taxa simbólica para ocupar seus estandes. Para quem está começando, a feira também oferece alternativas mais acessíveis, como a loja colaborativa, onde é possível expor produtos sem precisar estar presente durante todo o evento.
Mais do que um espaço de vendas, a Feira Esquerda Livre investe em formação. Em parceria com a Escola Nacional Paulo Freire, promoveu oficinas gratuitas de empreendedorismo para mais de 350 expositores. Foram oito finais de semana de encontros, com temas como precificação, atendimento, redes sociais e gestão financeira.
“Queremos que as pessoas valorizem o próprio trabalho. Quem é autônomo enfrenta um desafio maior do que quem tem carteira assinada. É preciso aprender a calcular o tempo, o custo de material e o valor do próprio talento”, reforça a idealizadora.
Mulheres na linha de frente
Um dado chama atenção: 80% dos expositores são mulheres, muitas delas mães solo que encontraram na feira uma forma de reconstruir a vida após a maternidade ou uma demissão. O ambiente é, acima de tudo, acolhedor. “Eu não organizo a feira para ficar rica. Faço porque acredito que fortalecer pequenos negócios é transformar vidas”, resume Camila.
A Feira Esquerda Livre já se tornou uma rede que conecta histórias, saberes e resistências. Para além do comércio, é um espaço de afeto e de política, onde cada produto carrega a marca de quem o fez. “Consumir de um pequeno empreendedor é consumir uma peça única, feita com cuidado e significado”, lembra Camila.
No aniversário de três anos, em agosto, a feira celebrou sua trajetória com mais de 150 expositores e mostrou que empreender, na periferia da economia tradicional, é também um ato de resistência.
Assista na íntegra aqui:
