HOME > Empreender

Identidade regional fortalece pequenos negócios com indicações geográficas

A certificação reconhece produtos ligados ao território, melhora a renda de produtores e preserva tradições locais

Açaí de Codajás conseguiu dobrar de valor após conquistar a Indicação Geográfica (Foto: Divulgação)

247 - As regiões brasileiras carregam marcas próprias em cultura, clima, culinária e formas de produzir. Essa diversidade tem se mostrado um dos principais diferenciais competitivos das micro e pequenas empresas do país, segundo informações divulgadas pelo Sebrae. A estratégia de valorizar produtos e serviços que expressam a identidade local vem impulsionando negócios e fortalecendo economias regionais.

Um dos caminhos mais relevantes desse movimento é a conquista do selo de Indicação Geográfica (IG), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Desde os primeiros registros, em 2005 – da cachaça brasileira, do vinho do Vale dos Vinhedos (RS) e do café do Cerrado mineiro – o Brasil já soma 144 indicações reconhecidas.

A analista de projetos da Unidade de Inovação do Sebrae, Maíra Fontenele Santana, explica que a IG certifica produtos intimamente ligados ao território. “A IG é um registro concedido a territórios que tenham algum produto muito famoso, ou que se consiga comprovar o vínculo de que aquele produto tem uma qualidade diferenciada devido às características geográficas do clima, do solo, que é o que chamam de terroir”, afirma.

Para obter o selo, produtores organizados precisam definir e seguir um caderno de especificações técnicas, que descreve todo o processo de cultivo, produção e acabamento. “São produtos que têm um diferencial, uma história com aquele território, e para conseguir o registro de Indicação Geográfica tem que ser construído o caderno de especificação técnica. Ele vai detalhar todo o processo de produção daquele produto, preservando as raízes e a memória do saber fazer. Então, para além de garantir padrão de qualidade, a Indicação Geográfica também preserva tradições”, diz Maíra.

Nos últimos dois anos, o Sebrae realizou 95 diagnósticos de potencial de IG e identificou que 69 produtos têm condições de buscar a certificação. Maíra destaca que o impacto econômico pode ser significativo. “A gente consegue ter casos pontuais de mais de 30% de melhoria de desempenho econômico após o registro da IG. São vários setores de queijo, café, mel, fruticultura, artesanato, que vêm tendo desempenhos econômicos melhores porque a Indicação Geográfica ajuda na organização da unidade produtiva, na definição de padrão de qualidade, na melhoria dos processos”, comenta.

Um exemplo recente é o açaí de Codajás (AM), município reconhecido como o maior produtor da fruta no estado do Amazonas. O selo foi conquistado em março de 2024 e já trouxe efeitos perceptíveis. Francisco Dantas, presidente da Cooperativa Agropecuária de Codajás, afirma que o reconhecimento refletiu diretamente no preço pago ao produtor. “Para ter uma ideia, nós vendemos açaí a R$ 30 o quilo, quando o preço em Manaus é de R$ 15”, relata.

Outro caso emblemático é o café do Caparaó, produzido na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo, que obteve a IG em 2021. Cecília Nakao, presidente da Associação de Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (APEC), destaca que seguir o caderno de especificações transforma a rotina do produtor. Para ela, o processo é “um estímulo à profissionalização, à melhoria contínua e ao orgulho de produzir um café que representa, com autenticidade, o território do Caparaó”. Como resultado, afirma, “aumenta a credibilidade do mercado em relação ao nosso produto e também faz prosperar a comercialização”.

O reconhecimento formal do território e da história que moldam o produto também responde a uma mudança de comportamento do consumidor. “O consumidor de hoje está muito mais preocupado com a origem do que ele consome. É um produto orgânico? É um produto que é sustentável? Quem fez? Usou mão de obra escrava? O consumidor está cada vez mais consciente”, ressalta Maíra Fontenele Santana.

Ela acrescenta que o valor simbólico do produto também ganha importância. “Ao consumir produtos de pequenos produtores de origem, o consumidor se sente especial. Ele consegue saber qual é a história daquele produtor. Você tem um produto mais humanizado. A garantia da rastreabilidade te conecta não só com o produto, mas com as pessoas que fazem aquele produto e aquele território. Então, não é só o consumir pelo consumir: além da qualidade, você também tem a história por trás de cada produto”, conclui.