Indígena peruana resgata cultura inca com artesanato no Brasil
Silvia Ochoa compartilha sua trajetória e fala sobre seu trabalho com o artesanato tradicional de seu povo, símbolos, cores e memórias da cultura andina
Beatriz Bevilaqua, 247 - No mais recente episódio do programa "Empreender Brasil", uma parceria entre a TV 247 e o Sebrae Nacional, Silvia Ochoa, mulher indígena quéchua dos Andes peruanos, compartilhou sua história de vida e de resistência cultural através do artesanato. Morando no Brasil há 15 anos, Silvia é artesã e guardiã de saberes ancestrais, que expressa em peças únicas como bolsas, mochilas, brincos, vestimentas, bonecas de pano e até copos de cerâmica.
Atualmente, Silvia comercializa suas criações na tradicional Feira Hippie de Belo Horizonte, onde ocupa um espaço na ala dedicada aos artesanatos indígenas. "Expomos no chão mesmo, não pode ter barraca. Mas, graças a Deus, o povo já me conhece e me procura", conta.
Silvia é formada em Linguística, mas no Brasil encontrou no artesanato a forma de manter viva sua identidade. "Faço artesanato peruano para honrar meus ancestrais. Trabalho com temas incas e do povo quéchua". A habilidade manual é compartilhada com suas filhas, que também participam do processo criativo e produtivo. "Fazemos os brincos, com miçangas de boa qualidade, para não perder a cor nem o brilho”, disse.
Em suas peças, Silvia valoriza o uso de elementos naturais, como os corantes extraídos da cochonilha, um inseto que permite a criação de mais de 240 tonalidades. "Mistura com limão, vira verde clarinho. Coloca beterraba, vira vermelho sangue. Tudo natural."
Silvia também confecciona roupas que remetem aos povos andinos, como ponchos e blusas com desenhos de lhamas e a chakana, a cruz andina. Em um dos momentos do programa, ela exibe com orgulho um tabuleiro de xadrez artesanal com peças talhadas em madeira e pintadas com motivos incas, as peças são os espanhóis contra os indígenas.
“Uma vizinha me pediu para consertar algumas bolsas de couro. Eu reformei, mas ela não conseguiu pagar por todas. Aí decidi levar as peças para a Feira Hippie, pra mostrar meu trabalho. No primeiro domingo, não vendi nada. Mas voltei na semana seguinte, vendi uma bolsa e fiquei feliz da vida”, lembra.
Hoje, Silvia tem uma clientela fiel, expande suas criações e vê sua produção aumentar. "Eu faço umas cinco bolsas por semana, mas tem dia que faço mais. Também costuro na máquina e consigo fazer umas dez bolsas direto."
Apesar de não lidar diretamente com tecnologia, Silvia tem apoio da filha no marketing digital. "Eu não sei mexer com computador nem Instagram. Minha menina que grava os vídeos, veste as roupas, posta as fotos. Eu respondo pelo WhatsApp. Toda segunda-feira entrego os pedidos na Praça Sete."
Seu perfil no Instagram é o @inca__peru (com dois underlines), onde é possível acompanhar as novidades e encomendar produtos. "Tudo que eu faço é com muito carinho. As encomendas são mais caras porque são personalizadas, com desenho e cor específica."
Para o futuro, Silvia deseja continuar criando peças autênticas que expressem sua cultura. "Meus modelos são únicos. O que você encontrar comigo, não vai achar em outro lugar. Minha cabeça não para. Sempre crio coisas novas."
Sua trajetória é exemplo de resistência cultural, criatividade e empreendedorismo à moda ancestral. Assista essa entrevista inspiradora aqui:
