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Investidores-anjo pedem incentivos fiscais e mais transparência nas startups brasileiras

Levantamento do Sebrae Startups e Anjos do Brasil mostra perfil dos investidores, motivações, obstáculos e oportunidades no mercado de inovação

Segundo a pesquisa, 75% dos investidores recebem oportunidades com frequência mensal ou superior (Foto: Dani Andrade)

247 - O investimento-anjo, prática fundamental para impulsionar startups em estágio inicial, ainda enfrenta barreiras no Brasil. Um levantamento divulgado nesta quinta-feira (28) pelo Observatório Sebrae Startups, em parceria com a organização Anjos do Brasil, revelou o perfil dos investidores, seus principais desafios e as perspectivas para a expansão desse mercado. O estudo foi apresentado durante o Startup Summit 2025, em Florianópolis.

A Pesquisa sobre Investimento Anjo no Brasil 2025 aponta que o setor necessita de maior apoio regulatório e fiscal para ganhar fôlego. Segundo os dados, falta clareza jurídica, incentivos tributários e mecanismos de conexão mais eficazes entre startups e potenciais investidores. Ao mesmo tempo, o relatório destaca um avanço na diversidade e no amadurecimento dos perfis de quem aplica recursos em novos negócios.

“É essencial criar incentivos fiscais que atraiam mais investidores dispostos a fomentar a nova economia. O investimento-anjo precisa deixar de ser exceção e se tornar regra em um país com vocação para inovação”, afirmou Décio Lima, presidente do Sebrae. Para ele, ampliar esse modelo de aporte pode gerar mais empregos, renda e inclusão.

Quem investe e o que busca

O levantamento mostra que o ecossistema de investidores-anjo ainda é predominantemente masculino (81,5%), com concentração na faixa etária entre 41 e 50 anos (32,4%). A maioria tem experiência prévia como empreendedor ou executivo, o que sugere um perfil de profissionais que aliam capital a conhecimento de mercado.

Embora ainda representem minoria, as mulheres já correspondem a 18,5% dos investidores, número que vem crescendo e indica uma tendência de maior diversidade no setor.

Os setores preferidos dos investidores estão ligados à inovação e tecnologia: TI (27,3%), Gestão e Consultoria (22,2%), Capital e Investimentos (17,1%), Serviços Profissionais (13,3%) e Finanças (12,7%). Agronegócio (10,1%) e Saúde e Bem-estar (9,5%) também aparecem em destaque.

As principais motivações para investir vão além do retorno financeiro (40,8%). Impacto e legado (32,4%) e aprendizado por meio de mentorias (26,7%) mostram que muitos investidores buscam unir propósito e lucro.

Investimentos cautelosos e foco em qualidade

A pesquisa revela que 49% dos investidores aportam menos de R$ 250 mil em startups, enquanto apenas 14,5% aplicam valores acima de R$ 1 milhão. O portfólio costuma ser reduzido: 59,3% investem em até cinco empresas, reforçando a estratégia de acompanhar de perto os negócios.

Os estágios mais visados são Seed (53,3%) e Pré-Seed (40,6%), momentos cruciais para a escalabilidade das startups. Apesar disso, 47% dos investidores ainda não sabem medir o retorno sobre o investimento (ROI). Entre os que já calcularam, 40,7% registraram resultados positivos, e 6,8% afirmaram ter multiplicado por mais de cinco vezes o valor investido.

Gargalos e desafios

Embora 75% recebam oportunidades de investimento com frequência mensal ou superior, 59,5% dos potenciais investidores relatam dificuldades para encontrar startups realmente qualificadas. Incerteza econômica (67,3%), ausência de incentivos fiscais (41,4%) e falta de boas oportunidades (33,1%) lideram a lista de obstáculos.

Outro ponto crítico é o uso de tecnologia: apenas 13,5% dos investidores brasileiros utilizam ferramentas de inteligência artificial em suas análises, muito abaixo dos 72% de adoção global relatados pela McKinsey em 2024.

Vozes do setor

“O Brasil ainda investe muito menos em startups do que seria compatível com o tamanho da nossa economia”, destacou Cassio Spina, fundador e presidente da Anjos do Brasil. Para ele, políticas públicas de estímulo ao investimento-anjo não reduzem arrecadação, mas fortalecem a competitividade, o empreendedorismo inovador e o desenvolvimento econômico.

“Esperamos que este estudo represente mais um passo importante para sensibilizar a sociedade sobre o valor que o investimento-anjo pode agregar ao Brasil”, reforçou Spina.