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Mulheres transformam desafios em liberdade por meio do empreendedorismo

Histórias de superação mostram como o empreendedorismo tem sido ferramenta de autonomia, renda e empoderamento feminino em todo o Brasil

Mulheres transformam desafios em liberdade por meio do empreendedorismo (Foto: Reprodução/Freepik )

247 - Para muitas mulheres, empreender é mais do que abrir um negócio — é um ato de coragem, reconstrução e liberdade. Ao iniciarem pequenas atividades, milhares delas vêm garantindo o sustento das famílias e transformando realidades sociais. Segundo reportagem publicada pelo Sebrae Nacional, o empreendedorismo feminino tem se mostrado um caminho de emancipação e protagonismo em diversas regiões do país.

“Empreender é um portal para a liberdade. Eu costumo dizer que financeiramente é a única forma de você romper ciclos da escravidão moderna e ajudar outras pessoas a se libertarem também e realizar sonhos”, afirma a empresária baiana Anna Telles, fundadora de uma marca de produtos para cabelos crespos e cacheados.

Anna relembra que começou a empreender por necessidade. De uma infância marcada pela pobreza e por um lar desestruturado, chegou a viver nas ruas ainda na adolescência. “Eu fiquei morando dois anos nas ruas, mas como eu havia aprendido a fazer tranças com a minha vizinha, isso me ajudou a não cair no mundo da prostituição e drogas. Eu fazia tranças em troca de comida e por algumas outras coisas”, contou.

Com o dinheiro que ganhou trançando cabelos, conseguiu alugar uma casa e, com o incentivo do marido, percebeu que era uma empreendedora nata. “Foi quando me lancei no Facebook para mostrar meu trabalho e fiquei conhecida no meu bairro e região”, recorda. Após anos de experiência com um salão de beleza, decidiu criar seus próprios produtos capilares. “Há seis anos eu aposentei minha mãe e cuidei do meu pai até o último dia de vida dele. Com os meus irmãos, eu fomentei neles a vontade de empreender”, orgulha-se. Hoje, além de gerir o negócio, ela desenvolve projetos sociais voltados ao empoderamento de outras mulheres.

A gerente de Empreendedorismo Feminino, Diversidade e Inclusão do Sebrae Nacional, Georgia Nunes, reforça a importância desse movimento: “O empreendedorismo é uma ferramenta poderosa para o empoderamento, a inclusão produtiva e a redução das desigualdades de gênero. É um pilar fundamental para a conquista da autonomia financeira das mulheres, reconhecendo seu papel vital na economia e na transformação social”, destaca.

De acordo com dados do Sebrae, no quarto trimestre de 2023 as mulheres representavam 33,9% dos empregadores ou trabalhadoras por conta própria no Brasil, totalizando 10,1 milhões de empreendedoras. Destas, 88% atuam por conta própria, evidenciando a busca pela independência e flexibilidade no trabalho. “Quando as mulheres assumem o protagonismo de seus negócios, elas não apenas geram renda e impulsionam a economia, mas também desafiam estereótipos e fortalecem sua voz”, complementa Georgia.

Vai com medo mesmo

A microempreendedora Inês Santos, moradora do Morro dos Macacos, no Rio de Janeiro, também encontrou no empreendedorismo uma saída diante das dificuldades. Em 2018, sem renda e sem moradia, começou a produzir bolos no pote por incentivo de uma amiga e com apoio da ONG Anjos da Tia Stellinha, que capacita mães de favelas cariocas.

“Eu falei para ela que eu não tinha condições de fazer, mas ela insistiu e comprou todos os ingredientes. Eu fiz na cara e na coragem. No final, todo mundo amou e começaram a vir mais pedidos”, relembra.

Determinada a melhorar, Inês passou a investir em cursos de confeitaria. “Consegui pagar o meu próprio curso profissionalizante. Chorei demais na formatura e na volta para casa, dentro do ônibus, uma mulher perguntou se eu estava passando bem. Eu disse que era de felicidade”, conta, emocionada.

Sem apoio do marido e responsável por dois filhos, Inês transformou o aprendizado em fonte de renda. Hoje, separada, administra uma pequena loja de doces e salgados na comunidade com a irmã. “A confeitaria me salvou. Mudou tudo. Na época, estava em um quadro de depressão muito séria. Sempre tive em mente que eu não gostaria de trabalhar para os outros porque eu queria estar mais próxima dos meus filhos”, reflete.

Em busca de um futuro melhor

Também moradora do Morro dos Macacos, a ex-manicure Viviana Flôr se reinventou durante a pandemia. Diante da queda na renda, apostou na venda de marmitas e doces caseiros. “Eu mesma aprendi a fazer minha logo, mandei fazer meus cartões de visita e criei um perfil no Instagram — Delícias da Flôr — para postar meus produtos. Aos poucos, minhas ex-clientes da unha começaram a fazer pedidos”, relata.

Viviana é mãe de duas crianças, sendo um menino autista, e encontrou no trabalho em casa uma forma de conciliar o sustento com o cuidado da família. “Se eu não estivesse empreendendo, com certeza estaria em depressão. Já vivemos tempos de guerra aqui na comunidade que impactaram as minhas vendas e aos poucos estou resgatando alguns clientes”, afirma.

Mesmo enfrentando a falta de reconhecimento local, ela sonha em ampliar o negócio. “Infelizmente não é o meu vizinho que compra. São pessoas de fora”, lamenta. Sempre em busca de aprimoramento, já realizou diversos cursos gratuitos do Sebrae e recentemente se inscreveu no de Finanças Pessoais. “Estou sempre estudando para implementar algo e melhorar o meu negócio. É uma coisa que eu gosto, faço com muito carinho. Às vezes não acredito que foi eu que fiz”, conta, orgulhosa.